Halder Gomes (O Shaolin do Sertão)
Halder, o shaolin do humor no cinema brasileiro
Por Luiz Joaquim | 10.10.2016 (segunda-feira)
Nesta quinta-feira (13/10), o Ceará vai parar. Ou melhor, vai se movimentar, quando uma ‘romaria’ deverá em peso ir aos cinemas para assistir a mais nova produção da terrinha. O Shaolin do Sertão (Bra., 2016), o segundo longa-metragem cômico (o quinto da carreira) de Halder Gomes, que em 2013 deu uma lição ao mercado cinematográfico brasileiro com o fenômeno Cine Holliúdy – filme realizado a partir do edital de Baixo Orçamento da SAv/ MinC (à época, R$ 1 milhão).
Fruto de um trabalho de aguçada inteligência cinematográfica e de mercado, completamente capitaneado por Halder junto a fortes parceiros que conquistou – como a distribuidora Downtown Filmes -, Holliúdy levou cerca de 500 mil espectadores para ver as presepadas de Francisglaydisson (Edmilson Filho) e sua luta para abrir uma salinha de cinema em Pacatuba, interior do Ceará.
Interessante registrar que, apesar das opções estéticas e temáticas distintas, o trabalho de Halder e Kleber Mendonça Filho tem trajetórias semelhantes. Hoje são duas referências de sucesso na nova geração do cinema nacional. Ambos ganharam sua maior projeção a partir do edital da SAv (foram contemplados na mesma edição), e enquanto o cearense virou um fenômeno no mercado, o segundo ganhou uma quase que unânime simpatia da crítica especializada com o seu O som ao redor (2013, público de 100 mil espectadores).
Coincidência ou não, novamente num mesmo ano – 2016 -, ambos lançam seus novos longas de ficção, já gozando de um inquestionável respaldo de qualidade, cada um na sua competência.
O primeiro grande sucesso de Halder, lógico, lhe abriu portas que o fez logo engatilhar a possibilidade financeira (desta vez com mais recursos) para tirar do papel Shaolin, um projeto ainda mais antigo que Holliúdy e mais desafiador tecnicamente em função dos efeitos de pós-produção.
No filme, o velho parceiro Edmilson Filho é Aluísio Li, sujeito ali nos anos 1980 que é apaixonado por filmes de artes marciais. Quando lutadores de vale-tudo chegam à sua cidadezinha no inteiror do Ceará lançando um desafio, Aluísio Li vê a chance de se tornar um mestre como seus heróis do videocassete.
Depois do Ceará (em 27 salas), Shaolin do Sertão entra em cartaz no resto do Brasil dia 29/10 em mais de 200 salas de cinema. Do Ceará, Halder conversou por telefone com o CinemaEscrito. Acompanhe a entrevista:
ENTREVISTA – Halder Gomes
Shaolin era um argumento antigo ou você o elaborou após o sucesso do Holliúdy, já com o sinal verde de parceiros?
Era um argumento ainda mais antigo que Holliúdy. Era uma história muito mais complexa de ser realizada. Eu sabia que se acontecesse ela viria depois do Cine Holliúdy 2.
‘Cine Holliúdy 2’? Então teremos um sequência?
Ah, macho! Tá quase tudo pronto, com contrato assinado. Já vamos rodar em janeiro de 2017. Tenho quase toda locação fechada. Vamos voltar a Pacatuba e teremos também cenas filmadas em Hollywood mesmo. Do elenco, ainda dependo de algumas confirmações, mas a turma do anterior estará presente.
Fale um pouco da diferença da feitura de Shaolin para o seu primeiro filme em termos de tranqüilidade na produção.
Ter mais recursos te dá uma tranqüilidade criativa. Uma liberdade. E isso é importante. É fundamental ter [dinheiro] em caixa para a gente fazer um bom plano de filmagem. Ter orçamento para pagar todo mundo também te dá tranqüilidade, o que te deixa mais relaxado durante o processo. Outra coisa, terminar o filme e saber que a produção na finalização continua dentro do planejado te dá sossego. Sem falar que com um orçamento maior a gente pode lapidar o quanto for necessário na pós-[produção]. E Shaolin é muito elaborado nesse sentido. O mais gostoso é que nossos parceiros* não podaram minha liberdade criativa. Tive todo tipo de suporte técnico.
*[Halder chama de parceiros a Downtown/Paris Filmes, Globo Filmes, Paramount e a Telecine].
Como surgiu a ideia de convidar o Dedé Santana, e como foi trabalhar com um “Trapalhão”?
Rapaz, sempre tive vontade de trabalhar com “Os Trapalhões”. Foi por [a atriz] Fabiana Carla que peguei o contato dele. Mandei mensagem pelo whatsapp. Dois dias depois ele ligou dizendo estar feliz por ter sido lembrado, por fazermos ele voltar ao cinema e que tinha visto Holliúdy e estava encantado. Depois que leu o roteiro reforçou o agradecimento e foi surpreendente sua simplicidade ao chegar no set, além do talento, claro. Ele virou uma espécie de pai da gente. E sua entrega ao filme surpreendeu a todos. Houve um dia em que trabalhou passando mal. Mas sem falar nada pra ninguém, só viemos saber, por ele, à noite. Ele nos deu uma lição de profissionalismo incrível. Foi um grande presente em nossa vida.
Como enxerga o humor no cinema brasileiro de hoje? A graça que você constrói vai numa mão bem distinta do que temos estabelecido no mercado.
Acho que o humor é muito fragmentado no cinema brasileiro. E de várias formas. O que me faz rir é o frescor da graça aqui no Ceará. Há uma certa pureza. Há uma presença de situações de duplo sentido, mas ao mesmo tempo sem ser escrachado. Além disso, dentro desse humor, eu trago a graça das artes marciais. Colocando a piada para dentro das lutas, assim como em Holliúdy. Acho que o que diferencia meus filmes da maioria dos outros é essa soma de contextos.
E sobre Holliúdy 2, o que pode dizer?
Holliúdy 2 vai fechar uma trilogia involuntária sobre essa relação dos personagens no interior. Se no primeiro era os anos 1970, em Shaolin o tempo é os 1980, quando o videocassete passou a ser o grande fetiche das pessoas. Mas gosto de pensar que a paixão de Aluísio Li pelos filmes é fruto de várias sessões que ele viu no cinema de Francisglaydisson (risos). Em Holliúdy 2 o Francisglaydissom vai tentar virar cineasta. Aí vai dar confusão (risos).
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