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Festivais

20. Tiradentes (2017) – mostra Aurora

“Aurora” completa 10 anos em 2017 apresentando realizadores em início de carreira com propostas ousadas.

Por Luiz Joaquim | 22.12.2016 (quinta-feira)

*Com texto da assessoria da Mostra de Tiradentes

Em 2017, completa-se uma década de realização da Mostra Aurora, um dos segmentos mais aguardados na programação  das edições anuais da Mostra de Cinema de Tiradentes, que chega a sua 20ª edição entre os dias 20 e 28 de janeiro na cidade histórica mineira. Dedicada à exibição de longas-metragens inéditos de realizadores em início de carreira, a seção sempre primou pela invenção e experimentação de formas. Os títulos são avaliados pelo Júri da Crítica e concorrem ao Troféu Barroco e a prêmios de parceiros do evento.

Nesta edição comemorativa, os selecionados na Aurora vêm de três Estados do país: “Baronesa” (MG), de Juliana Antunes; “Corpo Delito” (CE), de Pedro Rocha; “Eu não Sou Daqui” (MG), de Luiz Felipe Fernandes e Alexandre Baxter; “Histórias que nosso Cinema (não) Contava” (SP), de Fernanda Pessoa; “Sem Raiz” (SP), de Renan Rovida; “Subybaya” – foto acima – (MG), de Leo Pyrata; e “Um Filme de Cinema” (SP), de Thiago B. Mendonça.

O curador Cléber Eduardo detecta, nesta relação, a forte presença de filmes que respondem ao atual momento histórico de efervescências políticas e sociais. “A Aurora 2017 está diretamente relacionada à temática da Mostra de Tiradentes deste ano, que é Cinema em Reação, Cinema em Reinvenção. Os longas a serem exibidos apresentam, de maneiras muito distintas entre si, algum tipo de olhar sobre o contexto em que o Brasil está”, destaca ele. “Não são inclinações políticas óbvias, não tem nada de explícito. As questões aparecem na contingência de vida dos protagonistas, que reflete situações de precarização social e existencial do indivíduo dentro de um sistema opressor e exploratório”.

Num panorama geral sobre os concorrentes, dois seguem linhas políticas menos evidentes, ainda que presentes sob várias medidas: “Histórias que Nosso Cinema (não) Contava” é todo feito a partir de imagens de arquivo de filmes da pornochanchada dos anos 1970 e 80, com viés e montagem que transmitem uma ideia de Brasil e de inclinações da sociedade da época; “Um Filme de Cinema”, protagonizado por uma criança, tem atmosfera de um conto infantojuvenil. Os demais são mais diretos em suas relações com as questões do momento no Brasil. “Corpo Delito” mostra um personagem que, saindo da prisão, precisa se mover com uma tornozeleira eletrônica. “Baronesa” e “Sem Raiz” exibem ambientes urbanos nos quais as mulheres são as figuras centrais e de atenção.

As mulheres também se fazem presença essencial em “Subybaya”, desta vez como corpos ao mesmo tempo de conflito e de análise. “Eu não sou Daqui” desloca a câmera para os homens, na história de duas pessoas entre a solidão e o futebol de várzea. “Não são filmes de choque, e sim de comentários sociais”, resume Cléber Eduardo.

No Júri da Crítica deste ano, estão cinco profissionais do pensamento e da reflexão do audiovisual no país: Anita Leandro (RJ), documentarista, pesquisadora e professora; Heitor Augusto (SP), crítico, pesquisador e professor; Ivonete Pinto (RS), crítica, pesquisadora e professora; Luiz Joaquim, jornalista, crítico e curador; e Victor Guimarães, crítico e curador.

 10 ANOS DE AURORA – No Dicionário Houaiss, “aurora” aparece como a claridade que aponta o início da manhã; o despontar da vida; a infância; um conjunto de primeiras manifestações. Aurora é ainda o título de um filme de 1927 do diretor alemão F. W. Murnau, considerado por muitos especialistas como sua obra-prima. E é ainda, desde 2008, o nome de uma seção na Mostra de Cinema de Tiradentes dedicada a exibir trabalhos de realizadores independentes com até três longas-metragens no currículo e que, de alguma forma, mostrem novos caminhos ou formas de expressão através do audiovisual.

Em 2017, a Mostra Aurora completa a sua primeira década, totalizando 70 longas-metragens exibidos desde 2011. São dez anos de descobertas, provocações, tendências, invenções e novos rumos que marcaram o cinema brasileiro contemporâneo. “Num primeiro momento, a Aurora tentou ser um canal de difusão a um tipo de cinema que tinha pouco espaço de exibição, discussão e afirmação nos circuitos brasileiros”, relembra Cléber Eduardo, idealizador e curador da seção. “Com o passar dos anos, por ter se tornado efetivamente este espaço, a própria mostra estimulou seu próprio segmento e houve constante renovação dos filmes inscritos e selecionados”.

Para o curador, os filmes da Aurora – sempre avaliados por um Júri da Crítica composto por profissionais do meio que se destacam na pesquisa e reflexão de cinema – se tornaram referência no que de mais arriscado se faz na produção de cada ano. São filmes que, muitas vezes, ganham sua maior projeção na competição da mostra, ao serem vistos pelas grandes plateias do Cine-Tenda, discutidos nas rodas de conversa durante todo o evento e estarem no centro de debates do Centro Cultural Yves Alves com a presença de críticos, pesquisadores e jornalistas no dia seguinte à projeção.

“São filmes de estruturas muito frágeis e muito intensas, sem grandes recursos de produção, sem grandes equipes nem condições totalmente profissionais de feitura. Não são filmes que olham para o mercado. Seus diretores se colocam completamente nas operações de realização. Eles partem de crenças ideológicas em relação ao cinema, e a Aurora carrega essa bandeira de resistência, essa ideia de o filme simplesmente existir como forma de expressão”, analisa Cléber Eduardo.

Em seus dez anos, a Aurora revelou ou deu visibilidade a vários cineastas hoje muito bem estabelecidos no circuito brasileiro e mundial, entre eles Kleber Mendonça Filho (“Crítico”, 2008), Bruno Safadi (“Meu Nome é Dindi”, 2008), Felipe Bragança e Marina Meliande (“A Fuga da Mulher-Gorila”, 2009), Irmãos Pretti & Primos Parente (“Estrada para Ythaca”, 2010), Gabriel Mascaro (“Um Lugar ao Sol”, 2010) e Adirley Queirós (“A Cidade é uma Só?”, 2012; “Branco Sai, Preto Fica”, 2014).

Outros que se destacaram no período, tanto na circulação quanto na repercussão dos filmes ao longo dos anos seguintes à exibição na Aurora, foram Gustavo Spolidoro (“Ainda Orangotangos”, 2008), Ivo Lopes Araújo (“Sábado à Noite”, 2008; “Medo do Escuro”, 2015), Marcelo Pedroso (“Pacific”, 2010), Taciano Valério (“Ferrolho”, 2013) e Allan Ribeiro (“Mais do que eu Possa me Reconhecer”, 2015).

A Aurora sempre teve o caráter de criar espaço a uma produção à margem inclusive do chamado “cinema de autor” brasileiro, muitas vezes legitimado ou reconhecido em editais, premiações e produção. Na Aurora, imperam os filmes sem escalas hierárquicas, quase sempre sem orçamentos bem definidos, feitos numa guerrilha de garagem, com equipamentos portáteis e um senso de urgência que se transfere diretamente às estéticas. São filmes, conforme diz o curador, que “negociam menos” e não têm concessões – assumindo, assim, riscos e irregularidades inerentes às suas propostas. “É uma mostra de gana, não de grana. Como já disse o crítico Inácio Araujo: existem filmes que precisam ser vistos e outros que precisam apenas existir”, diz Cléber Eduardo.

MOSTRA AURORA 2017

BARONESA

DOCUMENTÁRIO, DCP, COR, 75MIN, MG, 2016

Direção: Juliana Antunes

Elenco: Andreia Pereira de Sousa Leidiane Ferreira Felipe Rangel dos Santos Gabriela Souza Ana Paula Silva Rosa Lopes

Uma guerra entre traficantes na Zona Norte de Belo Horizonte faz com que Andreia queira sair da comunidade onde mora e que ajudou a construir. O cotidiano dela nos permite abordar seu passado e anseios, bem como os daqueles que lhe são caros.

CORPO DELITO

DOCUMENTÁRIO, DCP, COR, 74MIN, CE, 2016

Direção: Pedro Rocha

Elenco: Ivan Silva, José Neto, Gleiciane Gomes e Jefferson do Nascimento

Ivan saiu da cadeia, mas continua preso a uma tornozeleira eletrônica.

EU NÃO SOU DAQUI

FICÇÃO, DCP, COR, 65MIN, MG, 2016

Direção: Luiz Felipe Fernandes e Alexandre Baxter

Elenco: Rômulo Braga, Rui Rezende, Izadora Fernandes, Paulo Tarso, Gilberto Scarpa

Empresa Produtora: Alicate

O encontro de dois homens solitários: um andarilho e um velho técnico de um time de futebol de várzea.

HISTÓRIAS QUE NOSSO CINEMA (NÃO) CONTAVA

DOCUMENTÁRIO, DCP, COR, 80MIN, SP, 2016

Direção: Fernanda Pessoa

Uma releitura histórica da ditadura militar no Brasil, com ênfase dos anos 1970, através apenas de imagens e sons de filmes da chamada pornochanchada, o gênero mais visto e produzido no período.

SEM RAIZ

FICÇÃO, DCP, COR, 80MIN, SP, 2016

Direção: Renan Rovida

Elenco: Carlota Joaquina, Maria Maitê, Deborah Hathner, Ruth Melchior, Laura Brauer, Renê Costanny, Rimenna Procópio, Adriana Mendonça, Talita Araujo, Martha Guijarro, Marilza Batista, Nina Dias, Renan Rovida, Gabriel Stippe, Edu Alves, Francis Vogner dos Reis, Márcio Castro, Francisco Noventa, Sergio Carozzi, Dona Diva, Flávia Ulhôa, Becca Tavares, Rogerio Guarapiran, Maria Terra, Paola Aparecida, Iarlei Rangel, Arlinda da Silva, Ernestina da Silva.

Quatro trabalhadoras da cidade lançadas ao empreendedorismo nas suas relações cotidianas de sobrevivência, e uma trabalhadora do campo do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. SEM RAIZ é poesia arrancada como erva-daninha do solo de nosso tempo.

SUBYBAYA

FICÇÃO, DCP, COR, 71MIN, MG, 2016

Direção e Montagem: Leo Pyrata

Elenco: Bruna Chiaradia, Manu Pessoa, Robert Frank, Glaucia Vandeveld, Alexandre de Sena, Carlos Francisco, Felipe M.C. Gontijo, Caetano Gotardo, Leo Pyrata, Amina Jorge, Andréa Rodrigues, Bruna Olira,Catarina Mim,Michelle Sá, Aretha Galego, Giulia Puntel, Christian Bravo, Gustavo Ruas, Ana Moravi, Leonardo Fonseca, Maira Gouveia, Maria Clara Escobar e Ewerton Belico

Clarisse aprende que não adianta subir Bahia sem descer Floresta.

UM FILME DE CINEMA

FICÇÃO, DCP, COR, 108MIN, SP, 2016

Direção: Thiago B. Mendonça

Elenco: Bebel Mendonça, Isadora Mendonça, Rodrigo Scarpelli, Eugenia Cecchini, Antonio Petrin, Alípio Freire, Alícia Cardoso, Isaac Salles, Pietro Ganja, Carlos Francisco, Camila Urbano, Marilza Batista, Fernanda Azevedo, Val Pires

“Pai, o que é cinema?”

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