CinemaEscrito #2: Tão ruim que é bom
E aquele filme, que não é uma comédia mas todo mundo ri?
Por Luiz Joaquim | 12.01.2017 (quinta-feira)
Antes do site CinemaEscrito.com vir ao mundo em maio de 2007, sua identidade existiu por brevíssimas cinco semanas em 2004.
No início daquele ano, o JC Online, do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (Recife), nos convidou para assinar uma semanal coluna online sobre cinema, na qual teríamos liberdade para definir seu perfil e também batizá-la.
Assim nasceu a coluna ‘Cinema Escrito’, cuja primeira publicação aconteceu em 20 de fevereiro de 2004. Naquele momento, decidimos montar a coluna abrindo com um texto reflexivo sobre aspectos comportamentais, estéticos, técnicos ou do mercado cinematográfico. Atrelado a este texto, algumas notas rápidas e pontuais sobre tópicos circunstancial daquele momento no cinema pelo mundo.
Iremos publicar semanalmente aqui, a cada quinta-feira, os cinco textos concebidos naquela data.
Todos eles, de certa maneira, voltam-se para aspectos atemporais dessa arte, podendo oferecer a mesma força de reflexão que ofereceu há 13 anos. Abaixo, você lê o segundo texto.
Semana 2 – 05 de março de 2004
– Tão ruim que é bom
Semana passada falei dos filmes que sobrelevam a alma, mas, e os que sobrelevam a gargalhada? Não. Não me refiro às grandes comédias, mas àquelas produções que de tão toscas e de tão pretensiosamente sérias tornam-se um inusitado, e por isso também, um grande programa para rir. Frequentando um sem-número de sessões de cinema por ano, caímos, usualmente, diante de produções medianas, muitas obras ruins e poucas boas. Mas o filme, como podemos classificar… o ‘filme-trapalhão’ (sem querer com isso fazer relação com a vasta e rica obra cinematográfica de Didi & Cia. – que, a propósito, possui alguns tesouros), o ‘filme-trapalhão’ não é tão fácil de encontrar.
Talvez uma ideia pura e limpa para conceituar o ‘filme-trapalhão’ seja a seguinte: é aquele que é vendido pela sua assessoria como drama e, ao ser projetado na tela, o percebemos uma comédia das melhores, ou vice-versa – aquele que deveria fazer rir acaba entediando ou constrangendo o espectador. Para esse último caso, talvez um bom exemplo seja Casseta & Planeta – A Taça do Mundo É Nossa (Brasil, 2003), de Lula Buarque de Hollanda. O projeto, que tinha pretensão de alcançar na película o sucesso já garantido no formato eletrônico há anos, mostrou-se uma realização equivocada em todos os sentidos da linguagem cinematográfica, e sendo ojerizado até pelos próprios fãs da TV.
Ao contrário do efeito “ah, quero logo esquecer isso” que provoca aquela comédia que acabou nos soando sofrida, nós estamos sempre lembrando com carinho do ‘filme-trapalhão’. Aquele que foi planejado para suscitar reflexões sérias, mas que termina por provocar a gargalhada descontrolada. No meu pequeno currículo de acompanhar o que se exibe no Brasil, A Paixão de Jacobina (Brasil, 2002), de Fábio Barreto, tornou-se folclórico dentro desse tema. O que deveria ser o retrato de uma líder religiosa do século XIX no Sul do País terminou por ser tornar um show de equívocos interpretativo, de figurino e efeitos especiais, entre tantos outros aspectos. São momentos clássicos do riso as sequências das borboletas digitais e do diálogo dramaticamente infantil, no lago, entre Thiago Lacerda e Letícia Spiller (a Jacobina).
Atenção para um dos pontos altos do humor em A Paixão de Jacobina quando, depois de acompanharmos Spiller andando catatônica para todos os lados com uma peruca absolutamente esquisita, o pastor interpretado por Antônio Caloni pergunta depois de uma pausa silenciosa: “Que cabelo é esse Jacobina ??!!!”. Era a pergunta que todos queriam fazer na plateia.
O ‘filme-trapalhão’, para começo de conversa, mal conseguem espaço nas salas comerciais. E muitas vezes só temos acesso via Festivais. O Festival de Cinema do Recife (hoje Cine PE) trouxe nas edições 3 (1999) e 5 (2001), duas pérolas. Foram, respectivamente, Paixão Perdida, de Walter Hugo Khouri, e Os Cristais Debaixo do Trono (ham?!), de Del Rangel.
Khouri foi um cineasta ao qual devemos respeito pela sua larga produção de filmes intimistas e sua insistência em produzir trabalhos de esmero plástico e temática bem pessoal numa época – principalmente anos 60 – em que o Brasil era cinematograficamente radical na sua proposta de linguagem e mensagem política. Mas Khouri criou uma situação delicada até mesmo para a maioria de seus fãs ao lançar Paixão Perdida. Aqui acontece um triângulo amoroso incomum no qual uma pedra, sim uma pedra, tem parte no enredo sexual da história. Enquanto um menino da classe alta paulista vegeta em sua cadeira de rodas, sua nova babá (Mylla Christie) tenta se adaptar às novas funções enquanto envolve-se com seu patrão, o pai de garoto (Antônio Fagundes). O humor, respingando em todo o filme, está principalmente na inexpressividade de Christtie e nas caretas do garoto Fausto Carmona.
Já Os Cristais Debaixo do Trono traz um roteiro que faz o público se perguntar (sorrindo) o tempo inteiro para onde está sendo levado; e faz contemplar uma série de performance sexual deprimente entre os atores (sic) Tácio Rocha e Mylla Christtie (ela de novo). Ele é um cinquentão que se controla sexualmente com a maturidade de um pré-adolescente. Ela, uma artista plástica que depois de seduzir o rico senhor, desaparece misteriosamente. Há ainda Ana Paula Arósio como a filha do seduzido, tentando persuadi-lo contra a garota misteriosa. A bizarra condução desse suposto dramático enredo, recheado de diálogos e interpretações grotescas, leva a um final inacreditável, atingido apenas por raríssimas comédias.
Os estrangeiros também sabem produzir o ‘filme-trapalhão’. Vou citar apenas dois, Glitter – O Brilho de Uma Estrela (Glitter, EUA, 2001), no qual Mariah Carey nos brinda com a mesma expressão para qualquer emoção humana, e Nunca Mais (Enough, EUA, 2002), cujo destino de Jennifer Lopez é mesmo aprender artes-marciais num intensivo de um mês para dar safanão no marido, apresentado aqui como uma massa descontrolada de testosterona sádica. Se um dia não tiver opção na locadora, arrisque um ‘filme-trapalhão’ da categoria ‘eu-queria-ser-um-drama’.
RÁPIDAS
– Os Três Patetas de volta ao cinema
Benício Del Toro, que há pouco concorreu ao Oscar de Coadjuvante por 21 Gramas, pode vir a interpretar Moe, do clássico Os Três Patetas, numa refilmagem para o cinema que tem os Irmãos Ferrelly (Quem Vai Ficar com Mary?) à frente do projeto. Russel Crowe também foi sondado para interpretar o durão do famoso trio. Para reviver o descabelado Larry cogita-se Jeff Daniels, e para o gordo Curly, John Goodman.
– O Senhor das Armas
Andrew Niccol, que dirigiu Ethan Hawke em Gattaca, trabalha novamente com o ator em Lord of War. Agora em junho iniciam as filmagens em Nova York, na América do Sul e Alemanha. Hawke faz o papel faz um negociador internacional de armas. Mônica Bellucci será sua esposa, que se opõe ao serviço do marido. O elenco ainda conta com Nicolas Cage. A estreia nos EUA está programada para 2005.
– Homem-Aranha 3
O roteiro de Homem-Aranha 3 está em desenvolvimento e Sam Raimi já concordou em dirigir a nova sequência do herói. Tobey Maguire ainda está em conversação para encarnar novamente a pele do Aranha. Mas não espere esse filme para antes do segundo semestre de 2006 ou mesmo início de 2007.
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