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2 Comentários

  • Osmário

    Luiz, meu amigo e irmão, eu tenho certeza de q nos cruzamos no Veneza, pra assistir ET, pois eu assisti umas 6 vezes, comprei na Mesbla camisas dele. A coisa era real.

    E penso q se nós fôssemos irmãos e amigos já lá nos 70’s e 80’s, pow, era diversão duplicada…

    Mas vim dizer isto: PARABÉNS pelo texto. Prefiro crônicas assim. É mais intimista, delicada onde há rspaço pra ser, e sai do formato jornalístico engessado. Abraço, mano.

    • Luiz Joaquim

      Obrigado, Osmário. São textos deliciosos de compor, mas acho que mereçam ser criados mesmo para ocasiões especiais.

    Artigos

    A morte do Cine Veneza (Recife)

    Crônica amorosa sobre “a morte de um amigo” em 1998: o Cinema Veneza (Recife).

    Por Luiz Joaquim | 04.01.2017 (quarta-feira)

    Em 29 setembro de 1998, escrevemos uma pequena crônica sobre o encerramento das atividades do Cinema Veneza (Recife) que acontecera no dia anterior, tendo como sua derradeira exibição o filme O apóstolo, dirigido e estrelado por Robert Duvall.

    O filme exibiu dentro de um programa chamado “Cinema de Arte” do Grupo Severiano Ribeiro. A ironia com o título do filme era enorme uma vez que, à época, a comunidade recifense acreditava que o Veneza iria transforma-se num Centro Evangélico – movimento muito comum então para as salas que fechavam.

    Sobre o texto abaixo – que intitulamos “A morte de um amigo” e nunca havíamos tornado público -, é importante reforçar que não se trata de um produto jornalístico, mas sim de uma criação livre. Leitores recifenses mais experientes e conhecedores da programação do Cine Veneza perceberão que alguns filmes aqui citados nunca exibiram lá. Mas, mais uma vez, trata-se de uma crônica livre, um exercício pessoal de escrita e uma particular homenagem a um espaço querido.

    A morte de um amigo

    (Recife, terça-feira, 29 de setembro de 1998)

    Fui velar a morte de um amigo de infância. Morreu jovem, era sete meses mais novo que eu. Nascemos no ano em que a canarinha conquistou a tricampeonato e o País ficava conhecido internacionalmente pelo seu “milagre econômico”. Meu colega já tinha nascido grande, fazendo estardalhaço, mostrando pra todo mundo que era o tal, e trazia consigo um tal de Aeroporto.

    Nossa amizade começou ainda quando éramos criança. Sei que cruzamos um com outro por várias vezes antes do primeiro encontro consciente. Este foi aos sete, oito anos quando ele me apresentou um americano encantador chamado Super-Homem. Por falar em americanos, ele tinha muita proximidade com esses gringos. Estava sempre mostrando alguma coisa produzida por eles. É verdade que conhecia italianos, franceses, espanhóis e outros estrangeiros, mas sua companhia mais frequente era com os norte-americanos. Aliás, quem velou o enterro de ontem foi um Apóstolo dos E.U.A chamado Robert Duvall (seu amigo de longa data).

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    A última sessão do Cine Veneza, em 28/09/1998. Foto de Edvaldo Rodrigues, do DP.

    Na verdade, meu amigo era fiel aos brasileiros também. Foi graças a esse meu camarada, brutalmente assassinado, que tive muitas alegrias na infância. Era ele quem me ciceroneava nos anuais encontros com Os Trapalhões. Ele foi o responsável também por um momento inesquecível da minha vida. Fizemos Contatos imediatos do terceiro grau e, junto com ele, chorei ao conhecer E.T. – O extraterrestre. Quando adolescente, ele trouxe de volta, um ex-policial chamado Deckard e viajamos para o futuro atrás de replicantes indesejados. Daí, já De volta do futuro, ele me orientou como tratar as garotas, apresentando-me Alguém muito especial.

    Aos 15 anos esse meu companheiro de aventuras começou a falar muito alto. Vez por outra, as pessoas se viam maluca com o som que ele emitia. Impressionava. Era também muito invejado no que fazia. Afinal de contas, ele foi o melhor por bastante tempo. Foi muito elegante, e sua casa era bem aconchegante, embora morasse num prédio muito feio.

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    Aos 18 anos ele sofreu um atentado. Foram três sujeitos que moram lá em Boa Viagem. O “Recife 1, 2 e 3”. Mas, daqueles ele conseguiu se safar. Quando completava 20 anos, quase que contrai matrimônio. E adivinhem com quem. Uma americana chamada Ghost. Namorou por seis meses aquela diaba. Depois disso ficou muito doente e só veio se recuperar cinco anos mais tarde, quando entrou em sociedade com um cara chamado “Sessão de Arte”. Bendito sócio. Toda segunda-feira, às 21h ou 21h15, havia uma festa na Rua do Hospício (onde morava meu companheiro).

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    Mas aí os assassinos chegaram na cidade. Pois é, já descobriram os responsáveis pelo crime. Um tomou residência no bairro de Boa Viagem, e o outro, logo depois, virá a ser vizinho do meu amigo, morando na Av. Agamenon Magalhães.  Sua morte já havia sido anunciada, mas, ainda assim surpreendeu quando a imprensa fez o registro.  Seu algoz, um facínora internacional chamado Mutiplex, não vai ser punido. Tem muita influência. A vida é injusta.

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