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Críticas

Logan

Os mutantes também amam: desenho de aproximação de um mutante com um humano tentando proteger a família

Por Luiz Joaquim | 05.03.2017 (domingo)

Há uma forte e explicativa fala de um envelhecido e cansado Logan – ou Wolverine, ou James Howlett (Hugh Jackman) – dita por ele a uma garotinha com cerca de dez anos, Laura (Dafne Keen), a quem ele protege no filme Logan (EUA, 2017). A tal fala gera uma empatia imediata no espectador, mesmo naquele leigo em assuntos de super-herói, e pode até, talvez, gerar auto-identificação com o infeliz mutante da Marvel.

Logan diz a Laura algo como: “Fique longe de mim. Eu sempre machuco aqueles de quem me aproximo”. Há também outra, quando ele lhe explica o que acontece em seus sonhos ruins: “Eu machuco os outros”.

Isso é, desde já, um boa dica de o porquê Logan, o filme, vir arrebatando não apenas o fãs da fera protegida pelo Professor Xavier (Patrick Stewart) desde que a produção entrou em cartaz no última quinta-feira (2/3).

Além da óbvia estratégia marqueteira das produtoras Marvel e TSG em alardearem que esta será a última aparição de Jackman como Wolverine (coisa que pessoalmente duvido) – provocando polvorosa nos séquitos do HQ -, Logan tem também elementos que podem conquistar os, digamos, ignorantes no assunto por um certo desprendimento do enredo (mas não absoluto) com o esquematismo simplório dos filmes desse gênero.

O roteiro feito pelas seis mãos de Mangold, Scott Frank e Michael Green (este último sendo o nome a ser destacada do trio) traz uma rara circunstância para os filmes de super-heróis dos últimos 20 anos.

Ele dosa num equilíbrio feliz e convincente a tentativa do herói aqui em fugir da violência (e não ir atrás dela), mas tendo de enfrentá-la o tempo todo, somado ao triste infortúnio humano (veja bem que uso a palavra “humano”) destes mutantes no ano de 2029, cansados de uma vida irregular, tendo Logan que constantemente e sozinho proteger o nonagenário e mentalmente instável Xavier, além da intempestiva garotinha Laura. É, enfim, um filme sobre um herói que não quer ser herói, mas precisa sê-lo para proteger uma figura paterna e outra infantil.

No quesito violência, a que é mostrada em Logan é plasticamente incômoda pois é registrada sem o pudor com o qual Hollywood vinha habituando os nossos olhos nas últimas duas décadas ao mostrar seus seres com poderes especiais que vestem roupas apertadas.

Nesse sentido, é incrível a solução fotográfica e de montagem dada para as cenas de luta protagonizadas pela ótima pequena Dafne Keen. Quando ela está em cenas de luta, com o rosto em primeiro plano, a vemos atacando alguém e só entendemos o todo da violência pela montagem e não pela inclusão da vítima no mesmo quadro em que vemos o rosto da atriz em foco.

Voltando à estrutura do enredo, não há dúvida que Michael Green – roteirista mais experiente do trio e calibrado em adaptações (assinou Mentes que brilham, 1991; Irresistível paixão, 1998; Minority Report, 2002; O intérprete, 2005) – foi o responsável pela tinta que aproxima a derradeira aventura de Logan com o espírito do western, o gênero cinematográfico norte-americano por essência, que nunca deixou de gerar derivações maravilhosas (uma outra recente é A qualquer custo).

 

Apesar de não haver sutilezas no caso de Logan – uma que vez que no filme vemos cenas de Os brutos também amam (1953, de George Steavens) ganhando destaque por uma “sessão da tarde” vista numa tevê por Xavier e Laura –, a apropriação do gênero é bastante feliz, tanto na estruturação da aventura de Logan quanto na apropriação de uma fala inteira do personagem Shane (Alan Ladd) que é dita ao garotinho Joe (Brandon De Wilde, vejam só, na época aos dez anos de idade). Sendo em Logan a “ordem de descanso” da fala sendo invertida na dupla de personagens.

Outro contexto lúdico no filme, como uma espécie de carinho aos fãs dos X-Men, reforça, pelas palavras do Professor X, que as coordenadas do lugar seguro para onde Logan precisa levá-lo com Laura, ainda que tenha sido criada para uma história em quadrinhos, precisa ser levada à sério porque “Laura acredita nisso”. E isso precisa ser respeitado. Assim como os fãs de Wolverine (ou de qualquer outro super-herói) lhe admiram, e isso precisa ser respeitado, por mais exagerado que possa parecer.

Uma última observação diz respeito ao quanto Logan é um filme de seu tempo. Temos aqui mutantes latinos, fugindo dos algozes para ultrapassar uma fronteira (a dos EUA para o Canadá) e lá finalmente encontrarem a paz num lugar o qual identificam como Éden.

Acho que podemos encerrar por aqui para que você vá (re)ver Logan.

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