Best of Enemies
O início da tevê “moderna” começa aqui
Por Luiz Joaquim | 14.05.2017 (domingo)
No documentário Best of enemies (2015), os diretores Robert Gordon e Morgan Neville apontam os embates entre dois intelectuais, um conservador de direita (o jornalista William F. Buckley) e um liberal de esquerda (o escritor Gore Vidal) para mostrar que após os debates entre eles, promovidos pela rede de tevê ABC no final dos 1960 com o objetivo de discutir a eleição presidencial norte-americana, a mídia nunca mais seria a mesma.
O que antes, nos noticiários e coberturas política de tevê, era um espaço para discussões sérias, passou a ser encarado como um espaço também do espetáculo grotesco de luta de egos. Isso em função da violenta troca de farpas e xingamentos entre os dois intelectuais já no final das “Primárias na eleição norte-americanas” durante o inesquecível ano de 1968.
Quando Vidal chama Buckley de neonazista, e este replica imediatamente chamando de gay o famoso autor do polêmico romance transexual Myra Breckinridge (tudo ao vivo, para uma audiência de 10 milhões de espectadores), a audiência da rede ABC foi à estratosfera, tendo um efeito deprimente também na vida dos dois intelectuais, que nunca conseguiram esquecer aquele episódio – pois a mídia nunca deixava-os esquecer.
O resultado, destaca o filme, pode ser visto ao ligar a tevê ainda hoje, no século 21, com programas “jornalísticos” que se pautam pela baixaria para ter sua audiência garantida.
Ao mesmo tempo, Best of enemies (em português, ‘O melhor dos inimigos’), lamenta este estado de animosidade, que não estimula o diálogo mas o conflito.
No seu recado final, a narração em off reflete que “a habilidade do entendimento já era. Mais e mais estamos divididos em comunidade de interesse. Cada lado pode ignorar o outro e viver no seu próprio mundo. Isso não faz de nós uma nação completa, porque o que nos une são nossas perspectivas. Mas se essas pessoas não estão compartilhando estas ideias, não estão vivendo no mesmo lugar”.
Isto soa familiar? Sim, mas na década de 2010 este espaço é, além (e ainda) o dos noticiários de tevê, é também o das redes sociais virtuais. Espaço que parece estimular o discurso pronto e quase nunca o diálogo.
Haverá, algum dia, algum fim?
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