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Festivais

12 CineOP (2017) seminário documentos correlatos

Importância de acervos correlatos de produtos audiovisuais em debate na mostra mineira.

Por Luiz Joaquim | 25.06.2017 (domingo)

*Na foto acima, de Luiz Joaquim, da esquerda para a direita, Thiago Vitral, Cláudia Lacombe, Miriam Manini, Gabriela Queiroz, Betty Lacerda.

OURO PRETO – Entre uma dezena de ricos seminários e debates explorados aqui neste 12o CineOP: Mostra de Cinema de Ouro Preto, que se revezam entre as linhas de interesse do evento – preservação e educação – um destacou-se na tarde de ontem (24).

Com o gigante titulo de Mudanças tecnológicas, oportunidade e desafios: documentos correlatos e valorização de coleções, o seminário trouxe à histórica cidade mineira, como é habitual, especialistas de várias regiões do País para compartilhar suas experiência na administração, dificuldades e desafios na gestão de um material que normalmente é menos valorizado pelo produtor audiovisual, mas que guarda uma valor histórico, cultural tão valioso quanto o filme em si a ser preservado.

São os chamados documentos correlatos, ou seja, todo o material produzido ao redor da obras principal em si, como pôsters, roteiros, still de cena, criticas de cinema, e não só estes.

Mediado pela pesquisadora Miriam Paula Manini, da Universidade de Brasília, o exposição deu partida às 15h no Centro de Convenções de Ouro Preto pela fala da pernambucana Betty Lacerda, coordenadora-geral do Centro de Documentação e de Pesquisa da História Brasileira (Cehibra) da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj – PE).

Após fazer um retrospecto histórico do acervo audiovisual da Fundação, de 1984 – quando foi criado pelas mãos de Fernando Spencer adquirindo o acervo de Jota Soares – até hoje, a pesquisadora apresentou alguns números do acervo, detalhando alguns de seu conteúdos.

Betty Lacerda, da Fundaj

Ressaltou ainda o processo de digitalização sobre esse material no qual a instituição trabalha, mas o ponto que chamou a atenção da plateia foi sobre o acervo de 40 mil rolos em 16mm de reportagem da Rede Globo Nordeste, recebido pela Fundação nos 1980 para sua salvaguarda, com o detalhe que a instituição não tem o direito de reproduzir publicamente ou compartilha este conteúdo que foi inclusive, em parte, telecinado pela Fundaj.

“Um novo termo de doação está sendo elaborado junto ao jurídico da Fundação para rever essa limitação”, explicou Betty, lembrando ainda que os filme iriam ser descartados pela emissora de tevê e eles só vieram à Fundaj por conta da sensibilidade de Spencer sobre o valor daquele material.

Já Gabriela Queiroz, coordenadora do Centro de Documentação e Pesquisa da Cinemateca Brasileira (SP), começou sua fala brincando logo com o titulo do seminário: “Lá diz, ‘oportunidade’ e ‘desafios’. É sempre assim, a oportunidade é no singular o desafio no plural”.

Ela problematizou o assunto no que diz respeito ao documento arquivístico digital, ou seja o material produzido digitalmente do ponto de vista administrativo (e não só nele) a partir de uma obra. Sendo a padronização desses documentos um desafio. “A confusão é tanta, por falta de uma padronização que gera o que chamo de ODNI, os ‘objetos digitais não identificados’ dentro de um processo”, brincou, para o sorriso da plateia.

Gabriela ainda lembrou do desastre da aprovação há poucos dias de um Projeto de Lei do Senado, a PL 146/2007, que prevê como legal a queima de arquivos analógicos após sua digitalização.

Destacou ainda os novos formatos de expressão digitais, como por exemplo os GIFs, redes sociais, páginas eletrônicas de filmes. “O que preservar, como preservar? E também, ao digitalizar tudo e pôr na internet você está valorizando este acerto ou o contrario? Se for colocar 100% na rede como iremos nos relacionar com seu usuário? Como controlar o uso o abuso deste acervo digital?”.

De Belos Horizonte, Thiago Vitral falou pela superintendência do arquivo público mineiro. Vitral foi objetivo ao falar do histórico, trajetória e acervo do Arquivo, lamentando-se das limitações de equipamento e recursos humanos para administrar tal acervo.

Destacou também que, como historiador, lamenta quando há a procura de alguns realizadores que lhes confiam apenas o produto final de sua obra audiovisual. “É importante que eles nos tragam materiais correlatos que ajudam a contar e contextualizar a história daquele produto”.

Por fim, Cláudia Lacombe , especialista em Gestão de Documentos, do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, conceituou dois pontos para a ideia do documento audiovisual como documento arquivístico.

Um, o registro audiovisual em si, produzido por pessoa física ou jurídica e, dois, os documentos correlatos a estas obras. “Lembrando que é preciso retomar a ideia de um arquivo digital como algo orgânico no material arquivístico”.

Abertas as perguntas à platéia, o colecionador pernambucano Lula Cardoso Ayres Filho chamou a atenção para a necessidade de uma divisão na decisão técnica e artística de quem estabelece se uma obra irá ser aceita num acervo ou não. E citou um caso pessoal vivido no passado.

“Antes da gestão de Betty [Lacerda], foi oferecida à minha coleção uma cópia em 35mm de O palavrão [de Cleto Mergulhão], último longa-metragem pernambucano [1975] feito antes de O baile perfumado [1996], por que ela foi rejeitada pela Fundação Joaquim Nabuco em função de seu depreciado estado. Não tiveram o cuidado de entender o valor histórico do filme”.

*Viagem a convite do CineOP

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