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Críticas

De Canção em Canção

De-de-depressionland.

Por Luiz Joaquim | 24.07.2017 (segunda-feira)

Um dos mais fáceis trabalhos é falar mal do cinema de Terrence Malick. E com seu De canção em canção (Song to song, EUA, 2017), em cartaz desde quinta-feira (20), ficou um pouco mais fácil.

Deve haver, antes de apontarmos as fragilidades, a delicadeza de destacarmos algumas forças nesta história que usa o universo da indústria musical como fundo para investigar o sofrimento de um casal apaixonado, mas distraído dentro de um triângulo amoroso.

A principal força está no que Malick sempre registra de consistente em sua filmografia. Ou seja, a capacidade de por fragmentos de informações, criar um sentido que parece ser intraduzível em outro idioma que não seja o cinematográfico.

Essa força significa um domínio da construção de sentidos, a partir de imagens sempre elaboradas (pela fotografia de Emmanuel Lubezki, também em A árvore da vida, 2011, e Amor pleno, 2012), muito particular e difícil de encontrar na indústria do cinema.

Por mais preciso que seja a descrições das situações vividas pelo trio protagonista aqui – Faye (Rooney Mara), BV (Ryan Gosling) e Cook (Michael Fassbender) -, não se dará conta das sugestões de sentimentos pelos quais passam seus personagens, particularmente Faye e BV.

Por essa sua capacidade sinestésica é, portanto, qualquer filme de Malick (mais do que qualquer outro cineasta do mainstream contemporâneo) dependente do estado de espírito com o qual o espectador entre na sala de cinema.

Outro aspecto sempre impressionante, inclusive em De canção em canção, está na estrutura pela qual Malick costura seu enredo. Ela estimula tentar entendermos como o cineasta concebe sua direção, uma vez que sutilezas de gestos entre, por exemplo, o casal protagonista (sempre muito eloquentes) nos chegam por uma naturalidade desconcertante e, portanto, verossimilhante. Ponto para Malick, sempre, por isso.

Mas, nesta história em que vemos dois jovens musicistas (Faye e BV) em Austin no Texas, apaixonados, e buscando alcançar algo superior em suas carreiras, mas depois separados pela presença volúvel e dominadora do todo poderoso produtor Cook, fica a pergunta: o que tanto atraiu Malick em contar essa história que soa pouco profunda, ainda que belamente emoldurada?

Talvez o desejo de construí-la, de contá-la apoiada pelo espaço físico que cerca seus personagens. É provável, como em nenhum outro de seus filmes, que aqui Malick tenha levado ao máximo a presença da arquitetura, do espaço, da paisagem (ou ambientes fechados) quase como uma extensão dos atores para interferir e ajudar que a narrativa flua livre.

Em contraste com a beleza destes espaços está, ora a alegria quase infantil (e por isso belo) do casal apaixonado, ora sua tristeza pela vida apartada um do outro. A questão é que este é um drama ordinário dentro do histórico do cinema, e nem pelo refinamento de Malick ele parece mais intenso em De canção em canção. Apenas mais destacado.

Não é fácil, de qualquer modo, acessar De canção em canção. Mas pode ser interessante se o espectador ao menos tentar.

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