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Festivais

50. Brasília (2017) – noite 3

“Pendular”, de Júlia Murat, chega ao Brasil pelo Festival de Brasília.

Por Julio Cavani | 18.09.2017 (segunda-feira)

*Crédito da foto, Rômulo Juraci

 

Os problemas de um casal de artistas que divide um ateliê em um galpão preencheram a tela na noite de domingo (17) do 50. Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Depois de passar pelo Festival de Berlim, onde ganhou o prêmio da crítica internacional da mostra Panorama, Pendular, de Júlia Murat, foi apresentado ao Brasil pela primeira vez na competição pelos troféus candangos. Em uma metáfora sobre a solidez e o movimento, os personagens principais do filme são um escultor e uma dançarina.

Ao retratar o cotidiano de um casal mergulhado na arte contemporânea (dança e escultura), Pendular tenta transparecer erudição. Uma obra erudita, entretanto, prescindiria de um aprofundamento, algo que o filme não atinge ao se render a soluções narrativas fáceis e até mesmo superficiais.

Enquanto atravessa crises criativas, o casal também vive uma crise no relacionamento. As duas crises, contudo, carecem de um desenvolvimento dramático mais convincente, já que a sofisticação do filme está muito mais na superfície do que na sua estrutura.

Beira o estereótipo, por exemplo, a cena em que a dançarina fica revoltada com a resenha publicada em um jornal sobre sua coreografia. A intenção de retratar uma crise no relacionamento do casal também carece de uma fundamentação mais psicológica. O que interrompe o fluxo de paixão entre os dois, por exemplo, é um acidente biológico e não um problema de convivência afetiva.

Até mesmo quando eles são retratados como pessoas normais, há certa idealização na forma de representação da vida de artista. Eles gostam de futebol, mas só jogam em uma quadra situada dentro de uma ocupação de um prédio em ruínas (parecem pessoas ricas que querem demonstrar desapego dos bens materiais). Eles jogam videogame, mas fazem uma análise irônica e pseudofilosófica sobre a estética dos jogos jogados (como se resistissem em assumir a banalidade de uma mera diversão).

Os realizadores do filme, portanto, idealizam a si mesmos com recursos simplistas. Pendular, em diversas cenas, cai na caricaturização da condição do artista. É como se a arte deles precisasse ser afirmada, não bastando brotar de cada um. Alguns diálogos fazem mea culpa e demonstram uma consciência crítica sobre os riscos assumidos pelo filme (quando falam de “hipsters”, por exemplo), mas os problemas se manifestam em camadas mais estruturais do que culturais. Há muita pretensão na apresentação dos métodos artísticos, mas pouca verossimilhança na essência humana que precisaria estar por trás de tudo isso de forma mais humilde e espontânea.

*jornalista viajou a convite do Festival

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