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Festivais

50. Brasília (2017) – noite 6, texto #2

Dois filmes sobre a tentativa de quebrar correntes de opressão no passado, presente e futuro.

Por Luiz Joaquim | 21.09.2017 (quinta-feira)

BRASILIA – Noite de quarta-feira (20) no 50o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e a mostra competitiva apresentou mais duas obras que ressaltavam tentativas de emancipação, ou de desvencilhar-se da opressão.

No caso do curta-metragem Tentei que veio do Paraná, sob direção de Laís Melo, ladeado por uma equipe toda feminina, acompanhamos por cerca de 15 minutos a manhã de uma mulher que finalmente toma coragem e busca ajuda policial contra uma violência específica.

Linear, objetivo e sem maiores pretensões de audácia cinematográfica, Tentei encontra em seu argumento e discurso sua maior importância. O destaque fica mesmo para interpretação da protagonista Patrícia Saravi, que transita da contenção para a explosão com a força dramática necessária. Explosão em cena final que respinga diretamente no espectador com um impacto visual e sonoro hipnótico.

Equipe de “Tentei” apresenta curta no palco do Cine Brasília (foto de Rômulo Juracy)

Já o longa-metragem que veio da Paraíba – O nó do diabo – também provocava a plateia para a constante condição do negro em ser subjulgado e fisicamente violentado nos últimos 200 anos. O projeto reúne cinco episódios ficcionais ocorridos nos anos 2018, 1987, 1921, 1878 e 1821, nesta ordem.

No primeiro deles, o que ressalta é como o filme retrata esse futuro próximo com as relações ainda mais retrógradas, do ponto de vista das diferenças sociais, do que já estamos vivendo em 2017.

Cada um dos cinco episódios traz a assinatura individual de Ramon Porto Mota, Ian Abê, Jhésus Tribuzi e do mineiro Gabriel Martins. É no trabalho deste último que encontramos o resultado mais feliz do coletivo, quando acompanhamos em 1987 um casal que chega a uma casa no interior da Paraíba para pedir emprego.

A certa altura, eles se vêem numa intriga com os proprietários brancos do lugar, e são assombrados e possuídos pelo sofrimento dos negros que ali foram escravizados, remetendo imediatamente a Corra! (Get Out!), de Jordan Peele. Outro destaque aqui é a atuação de Clébia Souza (de O som ao redor), como a figura consciente daquela lugar e que vai tentando administrar seu desespero a cada novo momento de truculência.

A casa vista no filme (que já foi de José Lins do Rego) é um personagem importante em O nó do diabo, uma vez que ela está presente em toda extensão da produção e ajuda na criação dos elemento para a construção de sentido dentro do gênero do horror.

No debate de hoje (21) pela manhã, entre vários destaques a respeito do necessário protagonismo do negro no cinema, destacou-se também a importância de usar o cinema de gênero para ressaltar questões sociais urgentes e por ele acessar o espectador com responsabilidade.

*Jornalista viajou a convite do Festival

** Clique aqui e leia cobertura de Júlio Cavani para a noite 6 do 50. Fest. de Brasília.

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