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Reportagens

Carta das mulheres do audiovisual para festivais

Mulheres reivindicam postura inclusiva nos festivais de cinema do Brasil

Por Luiz Joaquim | 02.02.2018 (sexta-feira)

Na foto de Jackson Romanelli/Universo Produção, debate A mulher negra na direção de cinema no Brasil, na 21a. Mostra de Tiradentes.

Durante a 21a. Mostra de Cinema de Tiradentes, mais precisamente às 21h (hora de Brasília) da terça-feira (23/1), foi promovido dentro da programação oficial da Mostra uma roda de conversa batizada de A mulher negra na direção de cinema no Brasil. 

Mediado pelo crítico de cinema Juliano Gomes, falaram para um público majoritariamente feminino que ocupava o espaço lounge na Cine Tenda da Mostra as realizadoras Bárbara Maria e Ana Júlia Travia.

Entre as pautas levantadas pelas participantes e plateia estavam a convicção, conforme fala de Travia, de que aquele espaço e debate não representavam nenhum favor oferecido pelo evento, mas sim uma conquista alcançada; a referência (ou a falta dela) em termos de professores negros em cursos de cinema; e um pedido, entre outros vindo da platéia, de que aquela conquista fosse compartilhada para chamar a atenção também para a causa da mulher ameríndia.

Encerrando o debate, o mediador Juliano Gomes, inspirado por dados que haviam sido noticiado naquela mesma data a respeito da diversidade de gênero e raça no audiovisual brasileiro, sugeriu que todos os festivais disponibilizassem dados numéricos e percentuais a respeito da participação de negros e mulheres (brancas e negras) nos projetos inscritos e selecionados a fim de funcionar como mais uma fonte de informação para futuras políticas públicas.

Três dias depois desse encontro, no sexta-feira 26, 29 noves mulheres participantes desta edição da Mostra reuniram-se e escreveram a Carta das mulheres do audiovisual para os festivais de cinema brasileiros, a qual reproduzimos abaixo.

Carta das mulheres do audiovisual para os festivais de cinema brasileiros

“Vinte e nove mulheres presentes na 21ª Mostra de Cinema de Tiradentes reuniram-se, no dia 26 de Janeiro, para conversar sobre a presença da mulher no mercado audiovisual brasileiro e, mais especificamente, nos festivais e na referida mostra.

Percebemos que a organização da Mostra empenhou-se em promover, nesta edição, uma maior participação das mulheres nas mesas de debates e também nos júris, o que denota atenção à questão da diversidade de gênero. Porém, notamos a presença, majoritária e por vezes exclusiva, de mulheres brancas nesses espaços, de tal forma que, sobretudo à luz dos dados recém-divulgados sobre Diversidade de Gênero e Raça no Brasil¹, destacamos ser urgente e necessário promover, também nos festivais e mostras, paridade não somente de gênero, mas de raça e etnia.

Além disso, presenciamos em mais de uma ocasião, o discurso machista sendo proferido de forma escancarada, ou de forma sutil, por homens em situação de poder, encarregados de ministrar oficinas ou de criticar e debater os filmes. O efeito mais tangível do machismo é a desconsideração da fala, a desqualificação das competências e habilidades e o desprezo pelo trabalho de nós, mulheres. Não basta termos voz. Precisamos ser escutadas e ter nosso mérito reconhecido.

Como resultado desta nossa conversa, subscrevemos algumas sugestões – extensíveis a outros festivais, mostras e eventos do audiovisual brasileiro – objetivando a reparação da desigualdade de gênero e raça/etnia, e visando a construção de uma cultura de não violência contra as mulheres e de combate ao machismo.

Sugestões:

– Realizar uma coleta de dados mais completa através de um novo formulário de inscrição das obras, a fim de mapear gênero, raça/etnia, identidade de gênero, orientação sexual, origem socioeconômica, entre outros elementos pertinentes. A disponibilização e publicização desses dados contribuirá para a obtenção de indicadores que impactem na criação e no fortalecimento de políticas públicas para um desenvolvimento responsável do nosso setor, reforçando o papel relevante de Festivais e Mostras na cadeia de produção do audiovisual brasileiro;

– Buscar a paridade de gênero e de raça/etnia entre as pessoas que integram tanto a curadoria, quanto o júri, as mesas de debate (tanto na mediação quanto na crítica), bem como na cobertura de imprensa, a fim de abarcar olhares plurais e desmistificar e desnaturalizar o homem branco como sujeito universal;

– Promover ambiente seguro para mulheres, através de, por exemplo, canais de denúncia de assédio e quaisquer tipos de violência. Vale lembrar que já há iniciativas de festivais como de Rotterdam e de Sundance, que criaram códigos de conduta próprios posicionando-se ativamente e de forma responsável pela segurança das mulheres;

– Atentar para não restringir a participação de mulheres a apenas discussões de gênero no cinema, assim como restringir profissionais negrxs a questões raciais e profissionais indígenas sobre questões indigenistas, contribuindo para a inserção efetiva dessas profissionais;

– Jamais classificar o cinema feito por mulheres, por LGBT ou por pessoas não brancas como um cinema de gueto ou nichado apenas por considerar o gênero, a sexualidade ou a raça/etnia de quem realiza os filmes. Essa prática de classificação é própria ao mercado, para fins de investimentos e direcionamentos de público, e não serve aos interesses de um festival, cujo objetivo é, entre outros, promover e (re)conhecer a produção contemporânea, livre de qualquer pré-julgo dessa natureza;

– Ainda que tenha sido muitíssimo significativa a criação do Prêmio Helena Ignez para celebrar uma personalidade feminina de destaque na Mostra, vale dizer que é o único prêmio da noite a não oferecer incentivos de ordem prática e material. A fim de contribuir para a efetiva inclusão de mulheres no mercado cinematográfico, um troféu não nos parece o suficiente. É preciso apoiar a continuidade do trabalho das mulheres por meio de aporte financeiro, sobretudo quando, diante de um cenário desigual, as produções dirigidas por homens têm três vezes mais chances de serem premiadas².

Coletivamente, colocamo-nos dispostas ao diálogo contínuo com a organização da Mostra de Cinema de Tiradentes e aos demais festivais que desejam realizar suas próximas edições de forma cada vez mais consciente e ativa, lutando juntos pela transformação da nossa sociedade.

Saudações cordiais,

Adriana Souze – Fotógrafa (SP)
Alana Rodrigues – Roteirista de Cinema e Televisão
Alessandra Brandão – professora e pesquisadora (SC)
Alice Andrade Drummond – realizadora e diretora de fotografia (SP)
Alice Name-Bomtempo – roteirista e diretora (RJ)
Alice Riff – diretora e produtora executiva (SP)
Amanda Bortolo – Produtora
Amanda Devulsky – diretora, roteirista, montadora, pesquisadora (DF/RJ)
Ana Florença – produtora / programadora (RJ)
Ana Galizia – diretora e diretora de fotografia (RJ)
Ana Julia Travia – diretora, roteirista e montadora (SP)
Ana Lígia Becker – administradora Museu da Imagem e do Som de SC (SC)
Ana Ornelas – Roteirista e videomaker (SP)
Ana Paula Alves Ribeiro – professora e pesquisadora (RJ)
Ana Paula Mendes – Produtora Executiva (SC)
Andrea Lanzoni – produtora (SP)
Anna Iunes – diretora e diretora de arte – Rio de Janeiro (RJ)
Bárbara Bergamaschi – dir. fotografia, realizadora, crítica e pesquisadora (DF/RJ)
Barbara Vida – Atriz, produtora e cineclubista (RJ)
Bea Gerolin – diretora, roteirista e diretora de arte
Beatriz Leal de Araujo Marins
Beatriz Saldanha – Crítica, curadora e pesquisadora (SP/CE)
Bia Medina – Produtora (SP)
Bianca Zasso – crítica (RS)
Bruna Carvalho Almeida – diretora e montadora (SP)
Bruna Leal – Roteirista, Fotógrafa eAtriz (MG/RJ
Bruna Schelb Correa – diretora, roteirista e produtora (MG)
Brunna Laboissière – Diretora e Produtora (Goiânia/São Paulo)
Carine Fiúza
Carla Gallo – diretora, roteirista, produtora (SP)
Carla Siqueira – pesquisadora de conteúdo e imagens (RJ)
Carol Almeida – Pesquisadora e crítica de cinema (PE)
Carol Benjamin – documentarista (RJ)
Carol Ribeiro, jornalista e produtora (RJ)
Carol Rodrigues – diretora e roteirista (SP)
Carolina Barres – atriz, roteirista e professora (SP)
Carolina Dib – Produtora (RJ)
Carolina Santana Santos – discente em Cinema e audiovisual (PR)
Caroline Biagi – diretora e roteirista (PR)
Caroline Mariga – diretora de fotografia, pesquisadora (SC)
Caroline Marins– Produtora Executiva e coordenadoraa de produção (SC)
Caru Alves de Souza – Diretora, Roteirista e Produtora (São Paulo/SP)
Catarina Bassotti – Roteirista e Pesquisadora (SP)
Catu Gabriela Rizo – Diretora, Pesquisadora e Fotógrafa (Baixada Fluminense/RJ)
Cíntia Domit Bittar – diretora, produtora, roteirista e montadora (SC)
Clara Bastos – diretora, montadora e pesquisadora (SP)
Clara Chroma – montadora (RJ)
Clara Meirelles – Roteirista e Diretora – RJ
Clarissa Dutra – Produtora e Fotógrafa (Recife/PE)
Cleissa Regina Martins – Pesquisadora (RJ)
Coletivo Kbça D’ Nêga – Niterói (RJ)
Corina Tuyama – Diretora, montadora, produtora e diretora de fotografia (sc)
Cris Lyra – diretora de fotografia, SP
Cris Ventura – Diretora, produtora e professora (MG/GO)
Cristine Larissa Classen – Agitadora do baixo meretrício e produtora (SC)
Daina Giannecchini – Diretora, produtora e assistente de direção (SP)
Dandara de Morais – atriz, bailarina e roteirista (PE)
Dani Seabra – Assistente de Direção e Diretora (SP)
Daniela Arruda – Diretora (RJ)
Deborah Raposo – Produtora e Fotógrafa (RJ)
Duda Gambogi, diretora, roteirista, atriz e crítica (RJ/MG)
Duda Las Casas- diretora ( Bh/RJ)
Ediana Souza – Atriz e Realizadora  (SP)
Elizabeth Martins Damaceno – Assistente de direção (RJ)
Emanuela Carla Siqueira – Crítica e Pesquisadora (PR)
Emy Lobo, diretora e fotógrafa (RJ)
Erica de Freitas – Produtora Executiva e Roteirista (RJ)
Érica Sarmet – roteirista, diretora, curadora e pesquisadora (RJ)
Eugenia Kimura, produtora e roteirista (SP)
Fatinha Lima – Cineclubista do Favela Cineclube (RJ)
Fernanda Lomba – produtora (SP)
Flávia Person – pesquisadora e documentarista (Florianópolis-SC)
Flora Dias – realizadora e diretora de fotografia (SP)
Francine Barbosa – roteirista e professora (RJ)
Gabriela Bresola – produtora e diretora (SC)
Gabriela Caldas – direção, fotografia, montagem (SE /RJ)
Gabriela Orestes – Produtora (SP)
Gabrielle Cristina Ferreira – editora de imagem e som, finalizadora (SP)
Giovana Tintori – atriz (MG)
Glênis Cardoso – realizadora, curadora (DF)
Graciela Guarani-Cineasta Ameríndia (MS) (PE) (AA)
Grazie Pacheco – roteirista, diretora e montadora (SP)
Heloisa Passos – realizadora e diretora de fotografia (PR/SP)
Iana Cossoy Paro – Roteirista (SP)
Iasmin Alvarez – diretora e produtora.
Inês Nin – diretora, roteirista, pesquisadora, cenógrafa, editora (RJ/SP)
Isabel Wittmann – crítica e pesquisadora (SP)
Isabelle Simões de Souza – crítica (MG)
Issis Gabriela da Silva Valenzuela – Diretora e produtora (SP)
Janaína de Castro Alves – Produtora e Assistente de Direção (MG/RJ/SP)
Janaina Oliveira Re.Fem. – Diretora (RJ)
Janine Bastos – Produtora executiva//Produtora de elenco (RJ
Jaqueline M. Souza – Roteirista e Produtora (PR/SP)
Jessica Queiroz – Diretora e montadora (SP)
Joana Imparato – Figurinista (São Paulo/ SP)
Joyce Pais – Diretora, Roteirista e Pesquisadora – (SP)
Julia Katharine – atriz, roteirista e diretora (SP)
Julia Leite – diretora e fotógrafa (SP)
Júlia Rodrigues Mota- roteirista ( RJ)
Juliana Rojas – diretora e roteirista (SP)
Karen Suzane Silva – técnica de som/ assistente de som ( MG )
Keila Serruya – Diretora e Produtora (AM)
Laís de Oliveira Diel Souza – Produtora (RJ)
Laís Lorenço
Laís Melo – roteirista, diretora e diretora de arte (PR)
Lara Lima – produtora (SP)
Larissa Lisboa – diretora, produtora e pesquisadora (AL)
Laura Barile – roteirista (SP / MG)
Letícia Bello – produtora e som (SP)
Letícia Magalhães – crítica e pesquisadora (MG)
Lígia Souto – atriz, roteirista e continuísta (SP)
Loli Menezes – Produtora, Diretora, Diretora de Arte e Figurinista (SC)
Luana Cabral – curadora, realizadora (RJ \ ES)
Luana Chaves Farias – Educadora audiovisual, produtora, fotógrafa (RJ)
Lucia Possas – Produtora (RJ)
Luciana Eastwood Romagnolli – crítica e pesquisadora (MG)
Luciana Oliveira – Realizadora e pesquisadora (SE)
Ludmila Naves – Roteirista e Realizadora (SP)
Luisa Caffagni – Produtora (SP)
Luiza Leal – diretora e montadora (AL)
Lygia Pereira – Produtora, Diretora (SP)
Maju de Paiva – roteirista e diretora (RJ)
Manoela Cezar – Diretora e montadora (SP)
Manuela Andrade – diretora, roteirista e produtora (PE)
Marccela Moreno – diretora, roteirista e montadora (BA / RJ)
Maria Angelica Lemos –  diretora, editora, produtora
Maria Augusta Vilalba Nunes – Diretora e roteirista (SC)
Maria Caú – crítica, pesquisadora e roteirista (RJ)
Mariah Benaglia – produtora (PB)
Mariana Brasil – produtora executiva – (SP)
Mariana Leão – cantora, editora de som (SP)
Mariana Moraes – Montadora (SP/AmP)
Mariana Vieira – editora de som e roteirista (SP)
Marina Kosa – Diretora  e montadora (SP)
Monique Rocco – Produtora, Produtora de Conteúdo, Pesquisadora (RJ / RS)
Nayara Mendl – diretora e diretora de fotografia (SP)
Olívia Pedroso- Assistente de Direcão (SP)
Patrícia Miguez – crítica (PR)
Paula Sonnewend Serra – VIdeomaker e fotógrafa (SP)
Piera Portasio – roteirista e montadora (SP)
Poliana Paiva – roteirista e atriz (RJ)
Priscila Maia – Roteirista e Pesquisadora (RJ)
Priscila Nakamura – montadora e roterista (SP)
Quesia Pacheco – Atriz, roteirista e diretora (RJ)
Quézia Lopes – diretora, roteirista, produtora e montadora (RJ)
Rafaela Camelo – roteirista e diretora (DF)
Raquel do Monte – pesquisadora, professora e curadora (AL)
Raquel Valadares – diretora, produtora e pesquisadora (RJ)
Regina Barbosa – Produtora, realizadora e Roteirista (PE)
Renata Corrêa – diretora de fotografia e ass. de câmera (PR)
Renata Schettino – produtora (MG)
Rosa Miranda – realizadora, arte-educadora, roteirista e produtora (Niterói – RJ)
Sabrina Fidalgo – Diretora e roteirista (RJ)
Sabrina Greve – atriz e diretora (SP)
Sálua de Paula Oliveira – som, pós-produção, realização  (PE/SP)
Samantha Brasil – curadora e crítica (RJ)
Sarah Hamayanne Couceiro Pimentel – Produtora e Produtora Executiva (AM)
Sassa Souza – pesquisadora, roteirista e montadora (RJ)
Simone Caetano – Diretora e Produtora (GO)
Sophia Pinheiro, realizadora e pesquisadora (GO)
Stefani Raquel – roteirista, diretora, figurinista e pesquisadora (SP)
Stephania Amaral – pesquisadora e podcaster Feito por Elas e Cinematório (MG)
Susan Kalik – diretora, produtora e roteirista (BA)
Tainá Muhringer – roteirista e pesquisadora (SP)
Tainá Rei – Diretora e roteirista (RJ)
Tainah Negreiros – Pesquisadora (PI/MA/SP)
Taisa Teixeira Campos – Cenógrafa e diretora de Arte (MG)
Talita David – produtora (PR)
Tamara Cleveland – Diretora, Roteirista e Produtora (SP)
Tatiana Anjos – Produtora (RJ)
Thays Pantuza – Diretora, produtora e montadora (RJ)
Tide Borges – Técnica de Som Direto(SP)
Tina Hardy – montadora e produtora (Pr/SP)
Valeska Bittencourt – diretora (SC)
Vanessa Camassola Sandre – Atriz, Diretora e Roteirista (SC)
Vanessa Fort – roteirista e produtora (SP)
Vanessa Leal – Montadora (Itajaí – SC)
Vanessa Rosa Gasparelo – Continuista (SC)
Vicky Balicas – Assistente de Câmera (SP)
Virginia Primo – cineasta (RJ)
Viviane Mayumi – diretora e assistente de direção (SC)
Wilssa Esser – Diretora de fotografia(Sp)
Yasmin Thayná – Diretora (RJ)”

 

 

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