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Críticas

Até o fim

Segredos, morte e chantagem

Por Luiz Joaquim | 27.03.2018 (terça-feira)

–Publicado originalmente em 18 de Maio de 2002 no Jornal do Commercio (Recife)

É adorável, e raro, entrar numa sala de cinema e descobrir um filme potente, livre de impressões e pressões do marketing sobre suas qualificações. Essa experiência é bem comum em festivais igualmente potentes como o de Cannes, Berlim e Veneza, ou o Sundance. Mas também é possível passar por essa sensação aqui no Brasil, nas sessões de Até o Fim (The Deep End, EUA, 2001). Nesse longa, o segundo da dupla de diretores/roteiristas Scott McGehee e David Siegel, o esmerado estilo visual, o inesperado rumo apresentado pela enredo e a adequada utilização do tempo na narrativa dão a obra um gosto especial, um sabor ausente em boa fatia do amontoado de thrillers que chegam por aqui.

A matéria prima da história em Até o Fim é composta de elementos tradicionais: segredos, morte e chantagem. A diferença aqui reside em McGehee e Siegel terem imprimido cada passo a seu tempo, de forma que nenhum etapa atropela a posterior. Baseado em The Blank Wall, novela dos anos 40 escrita por Elisabeth Sanxay Holding, o filme também tem o mérito de trazer para os dias de hoje o clima de dubiedade presente nos personagens que encorpavam as produções de suspense daquela época.

O filme é um drama doméstico. E é por uma rede de coincidências, circunstâncias e acidentes (bem convincentes) que Margaret (a escocesa Tilda Swinton) se vê numa situação aparentemente sem saída. Ela, uma típica senhora da classe média norte-americana. Vive com seus três filhos e o sogro, enquanto o marido – um oficial – costuma passar meses num porta-aviões. O cenário fragilizado da família está montado para quando um intruso a esse ambiente morrer acidentalmente e transformar a rotina de Margaret num inferno.

O potencial das situações de tortura emocional vivida pela personagem ganham veemência no rosto duro de Swinton. O misterioso bandido Alek também ganha intensidade na pele do ator croata Goran Visnjic (também no elenco de Platão Médico). Mas o maior trunfo de Até o Fim está nas constantes reviravoltas da história, conduzidas por Margaret e, principalmente, por Alek: personagem surpreendentemente humano. Além disso, Até o Fim pincela, com elegância, alguns problemas: de comunicação no ambiente familiar; de solidão; de sacrifícios por amor a essa família e de homossexualidade. Não é a toa que Hitchcock incluiu o romance The Blank Wall, no seu livro My Favorites in Suspense, publicado em 1959.

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