X

0 Comentários

Artigos

Mulheres no cinema (2001)

Mulheres, em 32 filmes (texto de 2001)

Por Luiz Joaquim | 10.03.2018 (sábado)

— texto originalmente escrito em 2001 para o site Tô na Boa! Acima, still de Um anjo em minha mesa.

Elas são, proporcionalmente, maravilhosas e incompreensíveis através de bons personagens transpostos para a telona

Vez por outra, a classe artística feminina em Hollywood promove um protesto contra os roteiristas pelos parcos papeis interessantes criados especificamente para mulheres. O fato é que hoje existe um ‘quase’ equilíbrio entres os dois sexos na detenção de protagonismo nas produções yankee. Para comprovar, basta dar uma olhada nos 11 filmes em cartaz no Recife, neste 8 de março de 2001, e perceber que três deles (O Tigre e O Dragão; Chocolate e Hannibal) tem as mulheres como mola propulsora da história e fazem incontestável sucesso de público.

A lista vai engrossar amanhã quando estrear o novo filme da diretora Nancy Meyers, Do Que as Mulheres Gostam, com o galã Mel Gibson usufruindo o poder de, literalmente, ler os pensamentos das mulheres. Talvez o longa de Meyers seja menos poderoso para elas se identificarem que uma produção realizada por François Truffaut no não tão longínquo 1977. Trata-se de O Homem Que Amava as Mulheres, no qual o cineasta francês apresentava Charles Denner como um homem que passou sua vida inteira consagrando as do sexo feminino; desde a infância (com traumas pela ausência da mãe) até o último suspiro de vida (num hospital, quando morre admirando a graciosidade dos movimentos que a barra da saia faz ao ‘acariciar’ as pernas da enfermeira). A eloqüência no texto de Truffaut faz deste uma das mais belas dedicatórias de amor que um homem sensível pode oferecer às mulheres.

Engana-se quem pensa que são poucos os filmes com uma mulher conduzindo o papel principal. Talvez Julia Roberts seja a atual estrela hollywoodiana mais afortunada nesse campo. Além de sua marcante atuação como uma mãe solteira que enfrenta toda sorte de preconceito para ganhar a vida em Erin Brocovich, (que lhe deve dar o Oscar de atriz no próximo dia 25), sua luz também brilha muito em Uma Linda Mulher; Mary Railly; O Casamento do Meu Melhor Amigo e Um Lugar Chamado Notting Hill, só para citar quatro.

A moral de Roberts está perto da que Meryl Streep detinha no passado. Convidada para interpretar todo tipo de personagens, com os sotaques mais estranhos possíveis, basta registrar aqui dois pontos fortes de sua carreira como ‘mulher forte’: A Escolha de Sofia, como um imigrante polonesa que tenta se fixar na América após perder dois filhos nos campos de concentração nazista (ela levou o Oscar em 82); e Um Grito no Escuro, no qual ela é acusada e condenada a morte injustamente pela desaparecimento do próprio bebê recém-nascido. (aqui, ela levou o prêmio de melhor atriz em Cannes, 89).

O prêmio de atuação feminina em Cannes 2000 também foi para uma mãe, que está ficando cega, e enfrenta tudo e a todos, abdicando da própria vida, para que seu filho não sofra o que ela sofre. Foi assim que Björk e Dançando no Escuro conquistaram metade do planeta Terra, onde era exibido. Antes de Dançando…, seu mesmo diretor, Lars Von Trier, criou um personagem vigoroso para uma mulher e o confiou a Emily Watson (em sua 1ª atuação no cinema) como Bess, uma fervorosa religiosa vivendo na Escócia que se casa com um operador de plataformas de petróleo, cujo amor por ele, de certa forma obsessivo, nos mostra o que uma mulher, obstinadamente apaixonada pelo seu marido, pode fazer para salva-lo. O filme chama-se Ondas do Destino.

O primeiro papel de Streep no Cinema foi em Manhattan, de Woody Allen. Ela fazia a primeira esposa do personagem de Allen, que o deixa para viver com outra mulher. Allen é talvez o autor norte-americano vivo que mais reverencia a mulher e a coloca em foco na tela. É suficiente citar Interiores (um mosaico de temperamentos distintos concentrado em quatros mulheres: uma mãe e três filhas); Setembro (os conflitos entre uma mãe extrovertida e extravagante contra uma filha pudica e discreta) e A Outra (a crise de uma professora de filosofia que chega aos 50 anos questionando todos valores da própria vida).

Seguindo essa linha dramática, você também  pode entender o que move mulheres fortes e fracas nos filmes de Ingmar Bergman. São infindáveis. O indicado aqui é Gritos e Susurros. O sueco dá, aqui, cor à alma feminina. E ela é vermelha. A fotografia do filme ganhou o Oscar em 73. Já Neil LaBute é um jovem autor dos EUA que, seguindo o sentido contrário ao de Allen e Bergmann, convoca papeis femininos para exaltar o que há de mais cruel nos homens. Vide Na Companhia de Homens; Seus Amigos, Seus Vizinhos e o recente Enfermeira Betty.

ELAS DIRIGEM E SE BEIJAM – Mas há também diretoras que imprimem uma inconfundível mão feminina para contar uma história. Uma das mais célebre e competente é Jane Campion que deu a Holly Hunter um presente chamado O Piano. Com esse filme Campion foi a primeira mulher a receber a Palma de Ouro em Cannes pela direção. Hunter também trouxe um prêmio da França, pela sua interpretação, e arrebatou um outro na festa do Oscar.

Ainda mais impressionante que o personagem da muda, escrito para Hunter,  foi o que Campion designou para Kerry Fox durante 1990 em Um Anjo em Minha Mesa. Ela retrata a história da escritora neo-zeolandesa Janet Frame. É uma saga existencialista com um dos personagens mais doces criados para o cinema. Já a francesa Catherine Breillatfez fez em 1999 Romance, filme que não ‘bateu’ muito bem na cabeça dos homens, mas que atingiu em cheio às mulheres pela profunda franqueza com a qual abordava assuntos preciosos, que parecem fazer parte apenas do universo feminino.

O lado homossexual feminino também tem suas pérolas no cinema. E não são poucas. Os recentes sueco Amigas de Colégio e o alemão Aimeé & Jaguar dão prova do bom fôlego que o assunto pode render. Voltando um pouco mais no tempo, é bom relembrar o ítalo-alemão Berlin Affair, rodado por Liliana Cavani em 85, no qual a mulher de um diplomata se apaixona pela filha de um embaixador japonês. Há também o já clássico  Henry e June, baseado nos diários de Anaïs Nin, que se notabilizou por seus escritos eróticos.

E se você acha, preconceituosamente, que os títulos desse texto variaram apenas na temática sexo e amor, veja mulheres conduzindo westerns – Bad Girls, com Mary Stuart Masterson, Madeleine Stowe, Drew Barrymore e Andie MacDowell; e The Quick and The Dead, com Sharon Stone contracenando com Russel Crowe e Leonardo DiCaprio. Ou ainda, lhes dê seu valor num clássico de horror dirigido por Roman Polanski:  O Bebê de Rosimary, com Mia Farrow, em 1968.

Mais Recentes

Publicidade

Publicidade