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Reportagens

Morre Nelson Pereira dos Santos

Morre o pai do cinema moderno brasileiro

Por Luiz Joaquim | 21.04.2018 (sábado)

É impossível comensurar o tamanho do legado para o cinema brasileiro deixado por Nelson Pereira dos Santos, cuja nota sobre seu falecimento no dia de hoje (21), aos 89 anos, foi divulgada há pouco mais de 60 minutos desta publicação.

Informações tratam que Nelson Pereira (1928-2018), havia sido internado no Hospital Samaritano, na Zona Sul do Rio de Janeiro, em função de uma pneumonia, quando lá foi detectado, há 40 dias, um tumor em seu fígado.

É preciso voltar  mais de 60 anos no tempo para entender como esse senhor e o seu cinema influenciaram várias gerações de realizadores no Brasil, abrindo os olhos de aspirantes cineastas do então anos 1950 a produzir filmes que estivessem afinados com o que era inteligente, sagaz, transformador, enfim, como um novo cinema que se fazia na Europa, em particular na Itália e na França.

O eterno clássico brasileiro Rio 40 Graus (1955) foi seu primeiro longa-metragem e, a partir dessa obra, alguns críticos de cinema de então – como Glauber Rocha (só para citar um) – sentiram-se estimulados a fazer cinema; a entender que era possível fazer um cinema contestador no Brasil. Fosse pela estética, fosse pela temática; e retratando o povo brasileiro.

Como se não bastasse, Nelson Pereira dos Santos (NPS) traz em sua conta outro clássico absoluto de nossa cinematografia: Vidas Secas (1963), adaptação do livro homônimo de Graciliano Ramos, que o levou ao Festival de Cannes quando concorreu a Palma de Ouro.

É também inesquecível outra de suas adaptações literárias (foram muitas) chamada Memórias do cárcere (1984), a partir do livro de memórias do mesmo Graciliano Ramos – filme também exibido em Cannes e ali vencedor do prêmio FIPRESCI (da crítica).

A liberdade com a qual NPS tocava sua carreira era outra característica marcante na trajetória desse paulistano que fez o mais emblemático dos filmes sobre o Rio de Janeiro.

Quando se esperava algo tão socialmente contundente quanto Vidas Secas, o diretor, lançou na sequência El Justiceiro (1967), uma comédia intrigante sobre um burguês conquistador. Filme que, apesar de pautado pela humor das conquistas amorosas, não se esquivava de pontuações sociais sobre o povo brasileiro.

Em 1971, provoca mais uma vez com Como era gostoso o meu francêscriado a partir dos diários do alemão Hans Staden – sendo o personagem do filme um francês, que é aprisionado por índio tupinambás, sendo os diálogos falado no idioma dos índios, e o filme então sendo censurado pela nudez dos atores.

Não menos marcantes foram O amuleto de Ogum (1974), Tenda dos milagres (1977), Jubiabá (1987) e A terceira margem do rio (1994, adaptação sobre conto de Guimarães Rosa), além de Cinema de lágrimas (1995), quando faz uma delicada investigação e homenagem sobre a inclinação/vocação da cinematografia latino-americano para o melodrama.

Foram 23 longas-metragens, algo raro numa carreira cinematográfica no Brasil, e pouco provável de ser repetida em tempos modernos.

Tendo também atuado como produtor, roteirista, montador, ator e professor (esteve na linha de frente da Faculdade de Cinema no início da Universidade de Brasília, entre outras), NPS também ocupou uma cadeira (a sétima) da Academia Brasileira de Letras (ABL), desde 2006; tornando-se assim o primeiro cineasta brasileiro a integrar a ABL.

Como se diz por aí, figuras como Nelson Pereira não morrem. Não morrerá tão cedo. Suas tantas obras determinantes terão vida longa e continuarão influenciando, comovendo e educando pessoas sobre quem realmente somos nós, os brasileiro – essa entidade cada vez mais tão difusa.

Filmografia

  • 1949 – Juventude (curta-metragem)
  • 1955 – Rio, 40 Graus
  • 1957 – Rio, Zona Norte
  • 1961 – Mandacaru Vermelho
  • 1962 – Boca de Ouro
  • 1963 – Vidas Secas
  • 1967 – El Justicero
  • 1968 – Fome de Amor
  • 1970 – Azyllo Muito Louco
  • 1971 – Como Era Gostoso o Meu Francês
  • 1972 – Quem é Beta?
  • 1974 – O amuleto de Ogum
  • 1977 – Tenda dos Milagres
  • 1980 – Na Estrada da Vida com Milionário & José Rico
  • 1982 – Missa do Galo (curta-metragem)
  • 1984 – Memórias do Cárcere
  • 1987 – Jubiabá
  • 1994 – A Terceira Margem do Rio
  • 1995 – Cinema de Lágrimas
  • 1998 – Guerra e Liberdade – Castro Alves em São Paulo
  • 2000 – Casa Grande & Senzala (série documental para TV)
  • 2001 – Meu Cumpadre Zé Keti (curta-metragem)
  • 2004 – Raízes do Brasil (documentário)
  • 2006 – Brasília 18%
  • 2009 – Português, a Língua do Brasil (documentário)
  • 2012 – A Música segundo Tom Jobim (documentário)
  • 2012 – A Luz do Tom (documentário)

 

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