Os Vingadores: Guerra Infinita
Quando a morte não é mais a morte, o que resta para acreditar?
Por Luiz Joaquim | 30.04.2018 (segunda-feira)
No momento em que escrevemos esse texto, a mídia alardeia, para a felicidade da distribuidora Disney/Buena Vista e das redes exibidoras no Brasil, que Os vingadores: Guerra infinita (Avengers: Infinity War, EUA, 2018) alcançou o maior valor já arrecadado num final de semana de estreia.
‘Final de semana’ destes que iniciam na quinta-feira, como foi estabelecido pela própria federação de exibidores do País, em 13 de março de 2013. É, portanto, um recorde num universo de cinco anos.
O número mágico é o de 65,1 milhões (conforme a ComScore). É o que corresponde, em Reais, por ingressos vendidos (3,6 milhões deles) em apenas quatro dias em cartaz no Brasil. Ou seja, essa máquina, por dia, rendeu uma média de R$ 16 milhões. Que outros produtos produzem tanta riqueza em tão pouco tempo? A lista deve ser pequena.
O antigo campeão nessa brincadeira do mercado era o um outro filme de super-heróis, o Liga da justiça, exibido há seis meses. Para bom entendedor, fica claro que aí está uma indústria que não conhece a palavra crise.
Atente para a palavra ‘indústria’. Se quiserem relativizar o termo, entendam antes que um sucesso de bilheteria como esse não é uma surpresa, mas sim uma confirmação. Ele foi trabalhado para ser o milionariamente exitoso que é. E não estamos falando de obras como peças de desafio criativo cinematográfico, mas sim de um produto quase matematicamente construído.
Desde que a Marvel assumiu suas próprias produções cinematográficas, iniciando em 2008 com Homem-de-ferro, a empresa tinha planos para até 2022 desovar nos multiplex do mundo uma série de produções que iriam agregando-se umas às outras da mesma maneira como havia realizado com os HQ. Estamos falando de planos de dez anos atrás. Tente imaginar o que está por dentro da cabeça dos executivos da Marvel hoje.
Melhor não.
E O FILME? – O fato é que é difícil levar a sério um objeto como Os vingadores: Guerra infinita se entendemos de qual contexto ele nasce. E é provável que quanto menos você o leve a sério, mais você irá percebê-lo como bacana. É claro que não estamos nos referindo aqui ao espectador-fã da Marvel. Para fãs empertigados, os critérios estão apoiados em outra natureza de avaliação.
De qualquer forma, ainda que seja perceptível para os não-fãs, neste circo dirigido pelos irmãos Anthony e Joe Russo, uma tentativa de equilibrar as sequências de ação com as propostas de reflexões do vilão Thanos (voz de Josh Brolin) e dos infinitos super-heróis que se reúnem para salvar o universo (salvar a Terra já não tem mais impacto), não sobra muito.
Inclusive, para o caso deste Guerra infinita, as próprias inquietações de Thanos e das duas dúzias de super-heróis que voam, soltam raios coloridos e se teletransportam pelo tempo-espaço, soam juvenis (para usar um termo educado).
Pode-se dizer que assim está a exigir-se de um universo que foi criado para distrair, pelo senso do fabular, algo que está acima dele. Será? Há 13 meses, estreava no Brasil um ‘filme de super-herói’ que quebrava algumas normas consideradas invioláveis ao elaborar uma produção desse gênero. A começar pela aproximação da identificação deste super-heróis com o que há de humano, o que estabelece uma imediata correlação de empatia com qualquer público. Este filme era Logan (2017).
Guerra infinita acaba deixando difícil torcer para que os heróis vençam. Há entre eles uma constante e desimportante disputa de forças, por meio de diálogos rápidos, que deveria soar engraçada, mas chegam raquíticas em sua estratégia de dar alívio cômico quando há um suposto real (real?) problema gigante em questão.
As cerca de 80% das sequências de ação acontecendo dentro de um universo de imagens geradas por computador (CGI) também não contribui para criar-se algum tipo de identificação. Mas, pensando bem, esse não deveria ser um item de descredito quando se tem o exemplo do recente O jogador nº 1, com a mesma proposta de artificialidade visual e, de lá, sai vitorioso.
O que nos remete para as limitações de Guerra infinita pela fragilidade do que impulsiona tanto seus bons moços e moças de roupa coladinha, quanto o seu vilão.
A propósito, é intencional que aqui o vilão Thanos seja mais atraente do que os próprios heróis (o porquê disso terá resposta no capítulo 2 de Guerra infinita, com estreia para 2 de maio de 2019).
Ainda assim, com um propósito de arrecadar mais dinheiro no segundo capítulo da novela, é curioso que o realce dado ao vilão sugira não apenas a empatia ao malvado, mas, como uma espécie de efeito colateral, sugira também uma antipatia contra os bons-supermoços e supermoças (ou seja, há aqui um extenso campo fértil para criar infinitas paródias).
É como se a dosagem passasse da conta e todo o resto que não significasse o fim dos encapuzados com suas roupas de ferro e malha apertada, cuspindo piadas sem graça, não merecesse outro destino diferente daquele que Guerra infinita lhes dá.
Deve ser duro para alguns fãs lerem isto. Mas estes mesmos fãs sabem que a morte não significa a morte em filmes assim.
E se nem é mais para respeitarmos a morte. Se nem a morte tem mais o seu significado sagrado, em que resta acreditar?
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