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Críticas

Poder Absoluto

Vale a pena ir ver o último verdadeiro durão de Hollywood

Por Renata Malta | 27.04.2018 (sexta-feira)

– publicado originalmente em 24 de outubro de 1997

Clint Eastwood é um astro e seu nome estampado em um cartaz de cinema atrai qualquer fã da sétima arte. Há mais de 30 anos, o jovem Eastwood já atuava em westerns italianos, sendo dirigido pelo, não menos lendário, Sergio Leone. É referência do faroeste americano e fez escola com seu policial violento Dirty Harry nos anos 1970. O homem amadureceu e dirigiu seu primeiro filme, digamos, autoral chamado Bird,  em 1988, que biografava o jazzista Charles Parker, conhecido como o génio do bebop.

De lá pra cá experimentou fazer outros filmes pessoas: Coração de Caçador (em que Eastwood interpreta o diretor do filme Uma Aventura na Africa, ou seja, ninguém mais, ninguém menos que outro mito chamado John Huston.) Conseguiu fazer um clássico de um velho gênero que parecia saturado: o  far west, resultando em Os Imperdoáveis, ganhador de quatro Oscar em 1993. Em Um mundo perfeito dirigiu Kevin Kostner fazendo uma leitura, como ninguém, da América em que vive. Um país de aparências. Fez também o sensível (é o que dizem, preciso conferir) As Pontes de Madson, com a eclética Meryl Streep. O velhão está agora em cartaz na nossa cidade com Poder Absoluto.

Não. Não se trata da histórias de professores universitários. O filme fala de um incorrigível gatuno sexagenário (o próprio Eastwood) que, ao invadir uma mansão, presencia um assassinato. Ele vê tudo através da proteção de um espelho de dupla face, que não permite que o criminoso (Gene Hackman) o perceba. Essa sequência inicial é um delicioso exercício de suspense e voyerismo que o mestre Hitchcock adoraria assistir.

Não há diálogos e Eastwood transforma o espectador num mero cúmplice. A estória seria comum se o assassino não fosse (ele de novo) o Presidente dos Estados Unidos.

O diretor convidou um elenco competente: além de Hackman como o todo poderoso terrestre temos o policial dedicado Seth Frank, interpretado pelo durão Ed Harris. Temos Judy Davis fazendo as vezes da chefe do gabinete presidencial e Scott Glenn (que já trabalhou com Ed Harris em Os Eleitos).

Um parágrafo para Glenn: ele é aquele cara que ninguém lembra o nome mas já viu em vários filmes. Glenn funciona sempre como peça chave na estoria. Ele tem uma vasta filmografia que vai desde Apocalypse Now até O Silêncio dos Inocentes.

O homem é de respeito e está ótimo, merecendo atenção em Poder Absoluto. Ele é o segurança do presidente. A frieza siberiana que ele passa para seu personagem não deixa margem de dúvida para o espectador: Tenha medo. Mas, embora o roteiro seja de um craque chamado William Goldman (roteirista, entre outros, de Chinatown), existem problemas. Alguns buracos no filme não deixam o público convencido do que está acontecendo.

Além disso, a película perde o ritmo gostoso da sequência inicial e o ladrão de Eastwood parece não saber o que fazer da vida depois do assalto. O que vale mesmo é ver a estrela do velhão brilhando. Atraindo os nossos olhos a cada vez que aparece. Algumas tomadas são conhecidas dos velhos tempos do Harry sujo. Como a aquela da câmera se aproximando por um ângulo de baixo e encontrando o velhão cerrando os dentes de raiva e com os olhos cobertos pela sombra do chapeu. Não questione, vale a pena ir ver o último durão de Hollywood na tela.

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