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Críticas

Bem-Vindos

Porque o ser-humano sempre interessa

Por Luiz Joaquim | 07.05.2018 (segunda-feira)

– publicado originalmente em 5 de outubro de 2001 no site Tô na boa

Parece chato insistir que, mais uma vez, a programação alternativa sobrepuja as opções comerciais do cinema. Mas é fato, uma vez que a estréia no Cinema da Fundação amanhã (sábado, 6) chama-se Bem-Vindos (Tillsammans, Suécia, 2000), contra A Hora do Rush 2 (Rush Hour 2, EUA, 2001); Como Cães e Gatos (Cats & Dogs, EUA, 2001) e a pré-estréia de Hora do Recreio, filme de Chuck Sheetz, produzido pela Disney. Abaixo, algumas razões que fundamentam o fato.

Primeiro. Bem-Vindos tem como vantagem se utilizar (bem) da condição humana para sua temática apresentada nos seus 106 minutos de duração. Assim como em seu filme anterior (seu primeiro longa: Amigas de Colégio), Lukas Moodysson celebra novamente o imponderável dos sentimentos para celebrar a riqueza derivada da relação entre as pessoas. E como para mostrar que nem o tempo nem o espaço tornam o resultado dessa interação diferente, Moodysson nos leva a Estolcomo (Suécia), em 1975, para dentro de uma comunidade alternativa. Que celebra a forma natural de viver e reprime (uns mais, outros menos) a ordem geral do mundo. É um grupo cujas crianças de seis anos não cospem palavra como ‘sujo’ ou ‘feio’ para xingar, mas sim ‘fascista’ ou ‘reacionário’.

O filme tem uma separação clara de proposições – humor e responsabilidade – as quais Moodysson faz questão de destacar apropriando-se de sutilezas lingüísticas da imagem em movimento. Para o humor, como nos instantes iniciais do filme, ele usa deliberada e bruscamente o zoom e movimenta agitadamente a câmera dando velocidade e despreocupação às situações as quais quer apresentar seus personagens. Entre eles, o devagar e generoso Goran, o dono da casa onde vivem todos. Ele abriga a irmã, uma dona de casa que, com duas crianças, que deixou o marido, amedrontada pelas surras que levou. Ainda no grupo, um anarco-socialista, um pseudo-sindicalista frustrado, uma mãe de família que acha que é lésbica porque assim disse um analista, o ex-marido dessa nova lésbica, e um gay com baixa auto-estima. Há ainda a imatura e irresponsável esposa de Goran e mais crianças.

É divertido ver as crianças de Moodysson se comportarem como os únicos lúcidos do filme. É justamente a partir delas que o diretor introduz a proposição da responsabilidade.Vai nos tornando mais próximo dos dramas pessoais de cada um de seus personagens, e diminui o ritmo da câmera e do zoom. É agradável de ver o carinho do cineasta sueco com todas suas criaturas. Em várias circunstâncias, Moodysson reverte o olhar do espectador para os ‘esquecidos’ da dramatização, quando enquadra, por exemplo, o amigo do cunhado de Goran doido de frio na neve. Bem-Vindos é mais que bem-recomendado para aqueles que gostam de gente que está se descobrindo..

CACHORRADA – Já Como Cães e Gatos é não é recomendado para quem quer fazer, com o filho, um programa construtivo. Através de imagens geradas por computação e animais de verdade, o filme de Lawrence Guterman conta a história de uma trupe de gatos interessados em destruir o projeto do professor Brody (Jeff Goldblum), que pode salvar a raça humana da alergia contra pelos de cães. Para proteger o professor, uma rede secreta de cães-espiões faz estripulias com objetivo de atrapalhar o plano dos gatos. No meio disso tudo, muita pancadaria (as mesmas de mal-gosto nos filmes adultos) transportada para o universo infantil. Alguém pode dizer : “Tom e Jerry é violento”. Ok, mas o desenho não soa tão próximo da realidade quanto o filme a ponto de incomodar o espectador. Na dublagem, voz de Caio Blat e Marcelo Mion. Sugestão: mostre ao seu filho, em vídeo, Os Trapalhões nas Minas do Rei Salomão (de J. B . Tanko, 1977), no qual Didi e sua trupe passam emoção de verdade com seu cachorrinho bem treinado e sem efeitos digitais.

Pancadaria também reina em A Hora do Rush 2, de Bratt Ratner, que volta a dirigir Jackie Chan e Chris Tucker três anos após a primeira experiência.. Apesar de já ter rendido 200 milhões só nos Estados Unidos, isso não significa que o filme possa agradar por aqui. É apenas um indício. A história agora leva Tucker para Hong Kong, tendo problemas com habituais a um ocidental no oriente. Na segunda parte, vamos a Las Vegas, onde entra em cena uma agente disfarçada (Zhangh Ziyi, de O Tigre e o Dragão). Pelos menos a violência é mais amena e há o espaço para o humor.

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