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Festivais

13. CineOP (2018) – Arquivos fora do eixo.

Plateia em seminário nacional mostrou curiosidade sobre o projeto Cinemateca Pernambucana

Por Luiz Joaquim | 19.06.2018 (terça-feira)

– na foto de Beto Staino, Ester Kimura, Marcos Sabóia, a mediadora Simone Lopes, Denize Gonzaga e Betty Lacerda.

OURO PRETO (MG) – Não é de hoje que o CineOP: Mostra de Cinema de Ouro Preto busca abarcar as realidades regionais para cada uma das vertentes – história, preservação, educação – para as quais propõe reflexões nos seus encontros na cidade mineira. Nesta 13a edição, um dos debates na temática preservação foi contemplado, às 11h15 do domingo (17), com o tema: Fronteiras políticas e regionais: Arquivos fora do eixo.

O foco aqui, originalmente, é o de um trabalho antigo da Associação Brasileira de Preservação do Audiovisual (ABPA): reconhecer semelhanças e diferenças nas diversas instituições afins pelo País para tentar pensar num plano nacional colaborativo e único, não apenas para encontrar soluções a partir de uma política nacional, mas também para tentar criar uma sistemática no compartilhamento de dados destes arquivos, particularmente o audiovisual.

Na mesa mediada por Simone Lopes, Coordenadora do Núcleo de Memória do Dimas, na Bahia, falaram representantes de arquivos públicos de quatro estados: Pernambuco (Betty Lacerda, da Fundação Joaquim Nabuco – Fundaj); Santa Catarina (Denize Gonzaga, da Associação Cultural Cinemateca Catarinense); Brasília (Ester Kimura, do Acervo Audiovisual do Arquivo Público do Distrito Federal); e Paraná (Marcos Sabóia, da Cinemateca de Curitiba).

Betty, coordenadora de Documentação e Pesquisas Históricas da Fundaj, abriu a mesa marcando seu desconforto com o termo “fora do eixo”, embora dizia compreendê-lo naquele contexto. Lembrou, em seguida, que já trouxera, em outras edições do CineOP, detalhes da realidade de seu acervo gerido pela sua Coordenação de Estudos da História Brasileira, a Cehibra, na Fundaj.

“Como funcionária da Fundaj desde 1986, integrante da ABPA desde 2008, e com minha gestão de relações institucionais na Associação encerrando em breve, fiz um levantamento da situação de arquivos em regiões das quais desconhecemos. Foi um levantamento feito em dois meses, a partir do qual trago alguns resultados. Ficaram de fora alguns outros, de quem não tive retorno dos telefonemas e e-mails que enviei”, iniciou.

Betty apresentou uma pequena radiografia da situação dos arquivos audiovisuais por instituições do Ceará (Museu da Imagem e do Som, com 40 anos de existência); Tocantins (com a Cinemateca da Fundação Cultural de Palmas, que possui cerca de 500 DVDs de filmes brasileiros disponibilizados pela Ancine); e do Rio Grande do Norte. De lá, falou com a Cinemateca Potiguar – projeto do Instituto Federal do RN – quando foi informada que eles fazem exibições de filmes da região num auditório com capacidade para 160 pessoas.

De Rondônia, sua pesquisa obteve dados da Secretaria do Esporte, Lazer e Juventude, que lhe informou haver uma produção intensa na região mas que não é catalogada.  Um dos astros da região é ‘O Pistolino’, personagem do artista Jair Rangel de Souza, que criou ali uma mistura do que seria o Charles Chaplin e o Mazzaropi de Palmas.

Betty Lacerda, da Fundaj

PERNAMBUCO – De seu Estado natal, Betty mencionou o acervo da Fundação de Cultura da Cidade do Recife, o acervo Alberto Cavalcanti, que “mesmo problemático no seu acondicionamento possui 14 filmes em 35mm, 54 em 16mm e oito na bitola Super-8”. Há ainda, sob seu domínio, segundo Betty, 486 filmes (entre VHS e DVD) que participaram do Festival de Cinema do Recife (hoje Cine-PE). “Eles me  passaram a lista de todos os títulos, que posso compartilhar aqui”, destacou.

A coordenadora da Fundaj mencionou também o acervo de 523 filmes da TV Universitária de Pernambuco e, ainda, o “acervo do Ciclo do Recife trazido pelo saudoso Fernando Spencer para os arquivos da Fundaj, que já detalhei aqui em outra ocasião”, lembrou.

“Em 25 de março último”, continuou Betty, “foi criado o projeto Cinemateca Pernambucana, vinculada ao departamento de Cinema da Fundaj, por uma parceria da Fundaj com a UFPE, TV Escola, Fundação Roquette Pinto e MEC. A coordenadora e o idealizador do projeto estão aqui presentes no auditório, e poderão responder a eventuais perguntais”.

A palestrante concluiu destacando a necessidade de se criar uma política de acervo. “A maioria destas instituições não possui um instrumento de aplicação de acervo, ou seja, critérios para a aquisição, para receber e até para descartar os arquivos com que trabalham. Um outro ponto importante é: qual a sustentabilidade de certos projetos, como se dará a vida desses projetos?”, alertou.

Sobre o projeto Cinemateca Pernambucana, já no bloco de perguntas para a mesa, a pesquisadora baiana Laura Bezerra (presidente da ABPA entre 2014 e 2016) levantou uma dúvida: “Há 18 anos, quando pesquisava para meu doutorado, visitei a Cinemateca da Fundaj. E quero lembrar que nós [a ABPA] criamos o Plano de Preservação de Audiovisual; chegando, inclusive, a negociar alguns termos com o Governo Federal da gestão passada. Mas hoje não temos mais com quem nos articularmos lá. Agora você nos fala da Cinemateca Pernambucana, ou seja, há dificuldades de toda ordem no País e eu queria entender como se deu a articulação no processo dessa Cinemateca”.

“Olha”, respondeu Betty, “há mesmo uma confusão na cabeça das pessoas sobre isso. O acervo da Cehibra, conhecida como a antiga Cinemateca da Fundaj, mantém-se dentro da Cehibra. Um departamento que trabalha com as dificuldades que vocês já conhecem, por ter uma equipe reduzida. Agora existe o projeto da Cinemateca Pernambucana, sob coordenação de Ana Farache e idealização de Paulo Cunha, mas não houve ainda uma articulação com a Cehibra nesse sentido. A articulação ainda está aberta”. Em seguida, a mediadora da mesa, Simone Lopes, disponibilizou o espaço de fala para  a coordenadora do projeto Cinemateca Pernambucana, mas a mesma preferiu não se pronunciar no debate.

OUTROS ESTADOS – A segunda palestrante, Denize Gonzaga, da Cinemateca Catarinense, fez um breve histórico da instituição, que nasceu em 1986. “Naquela época, funcionava com uma política de balcão. No final dos 1980, surgiu o núcleo de documentação audiovisual. Em 1998, virou um Museu da Imagem e do Som. Em 2001, ajudamos a elaborar um primeiro edital audiovisual catarinense, com R$ 8,4 milhões, sendo R$ 4,9 mi do Fundo Setorial do Audiovisual”. Concluiu lamentando que hoje está sem sede, com uma parte de seu acervo na Casa de Memória, do município.

Ester Kimura, do ArPDF

Vindo do Distrito Federal, Ester Kimura fez um detalhado relato sobre o Acervo Audiovisual do Arquivo Público do Distrito Federal (ArPDF). Lembrou que o DF é uma região jovem e moderna e isso reflete em seu acervo. “A região nasceu sendo registrada e, por ser uma cidade jovem, não há tantos espaços de memória social coletiva. Nossa memória social está viva, nas ruas; mas isso não é uma desculpa para não termos arquivados os registros dessas memórias”.

Sua fala foi mais no sentido arquivista, informando os 2.400 itens do ArPDF recebidos entre 1989 e 2010. “Infelizmente trabalhamos na dinâmica do ‘eu-quipe’. Somos uma única gerência para pensar na preservação e produção intelectual desse material”. Disse também que não há há projeto focado em audiovisual e que Brasília carece de especialistas em preservação audiovisual, “o que é preocupante”, alertou.

Do Paraná, Marcos Sabóia deu um depoimento pessoal e divertido sobre a Cinemateca de Curitiba. Falou da entrada de acervo, com 2.700 itens e lembrou da política de Valente Xavier, que viveu perto da Cinemateca Francesa em 1977 e tinha como política pensada para a cinemateca do Paraná difundir filmes de arte.

“Chegamos a ter cinco salas. Hoje temos o Guarani e estamos equipando o Cine Passeio, um espaço de 3 mil metros quadrados, com cinema de rua, sendo duas salas, o Ritz e o Luz. O espaço vai ganhar o nome Valente Xavier”. Marcos brinca dizendo que, no  caso da Cinemateca, ele é a fonte mais primária que conhece: “Estou lá há 17 anos e a Cinemateca influenciou muitas pessoas. O espaço é forte na criação de cursos. O Ozualdo Candeias, o Rogério Sganzerla já deram aulas lá, e hoje quando abrimos inscrições, temos de escolher 30 entre 600 candidatos”. Encerrou falando que foi adquirido recentemente um scanner 2K e que “devemos começar um trabalho de digitalização de nosso acervo”.

Plateia do debate, em foto de Beto Staino.

Ao final do bloco de perguntas para a mesa, outra intervenção com lastro em Pernambuco. O colecionador Lula Cardoso Ayres Filho (associado da ABPA) pediu a palavra. Indignado, Lula disse não ter entendido a razão de sua cinemateca não ter sido incluída no debate, citando os números e a riqueza de seu acervo. “Foi criada em 1975 e nunca tive problemas em gerenciá-la. As cinematecas públicas reclamam sobre a busca de patrocínio. Quero dizer que por anos organizei, sozinho, sessões num espaço com 45 lugares, numa área de 200 metros quadrados, ou seja, queria dizer que há uma cinemateca no Brasil que não tem problemas”.

Logo em seguida, o doutorando em cinema pela Universidade Paris 8, José Quental, curador da temática preservação do CineOP, interveio: “Lula, não posso falar pela mesa, mas da parte da curadoria, entendemos que por você estar aqui todos os anos, e pelos participantes conhecerem razoavelmente bem o seu trabalho, achamos pertinente dar espaço a outras vozes do País”.

Viagem a convite da Mostra.

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