A Intérprete
Seria mais um filme em que gato caça rato, mas Sidney Pollack não deixa isso acontecer.
Por Luiz Joaquim | 28.06.2018 (quinta-feira)
Um thriller hollywoodiano sobre direitos humanos não é exatamente uma ideia que possa estimular todo e qualquer público a ir ao cinema mas, ao menos, A intérprete (The Interpreter, EUA, 2005) oferece algo a mais que o básico desse gênero, usualmente enxertado com perseguições do tipo gato e rato. Dirigido pelo veterano e talentoso Sidney Pollack, o filme mostra suas superestrelas Nicole Kidman e Sean Penn (de Sobre meninos e lobos) protagonistas de um drama sobre conspiração e vingança.
Tudo gira em torno de uma possível armação para assassinar Zuwaine, o presidente ditador de uma fictícia república africana. As investigações da inteligência norte-americana tomam início a partir da denúncia de Silvia (Kidman), uma intérprete da Organização das Nações Unidas (ONU) que, por acidente, escuta sussurros sobre o plano conspiratório.
Há um interessante desafio para os dois astros do filme. Enquanto Kidman é solicitada a interpretar uma mulher fria, falando outros idiomas com fluência, Penn tem de viver um agente da CIA perturbado pelo recente falecimento da esposa. O interessante aqui é ver os dois atores funcionando como esse casal contido e carente. E não só por isso.
Pollack é um quase autor do cinema norte-americano e sabe criar bons momentos de tensão quando o assunto é polícia de tocaia por bandidos (vejam Um dia de cão). A seqüência no ônibus de A intérprete talvez seja o melhor exemplo disso.
Interessante observar também como o diretor utiliza bem o cenário original da ONU, que pela primeira vez deixou filmar em suas instalações. Ali, Pollack nos faz perceber que estamos numa espécie de Torre de Babel tecnológica.
Há talvez um problema na definição do argumento do filme. O conflito principal parece ficar entre a defesa da nação africana e a carência dos dois protagonistas. Enquanto ela esconde seus segredos, ele parece querer descobri-los a todo custo. Ambos buscam intimidade, mas a situação não permite. Talentoso, Pollack não foge dessa amarração no roteiro e costura as duas questões com sutilezas, apoiado, claro pela competência de seus dois atores.
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