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Críticas

Bonecas Russas

O quebra-cabeça do amor masculino

Por Luiz Joaquim | 22.06.2018 (sexta-feira)

Quem viu Albergue espanhol (2002), filme de Cédric Klapisch, sabe o que esperar desta seqüência, As bonecas russas (Les Poupées Rousses, Fra., 2005), dirigida pelo próprio, estreando hoje no Cinema da Fundação e em sessão especias no UCI/Ribeiro (Recife). Para quem não o viu, o texto abaixo talvez possa ajudar.

No primeiro filme, um inesperado sucesso internacional, Klapisch apresenta o perdido francês Xavier (Romain Duris), aos 25 anos, alojado por 12 meses em Barcelona, dividindo apartamento com um grupo de européus de diversas nacionalidades. É um filme agradável, divertido e esperto em mostrar como boas amizades podem ajudar um jovem a moldar sua identidade e descobrir o que ele quer na vida e no amor.

Com uma conclusão “redonda”, Albergue… não pedia uma seqüência. Por isso Klapisch dá início a uma nova história, em Bonecas russas, a partir de quase nada do que aconteceu em Albergue…. Para tanto, convidou o mesmo elenco e os jogou, nos mesmo personagens, num tempo de cinco anos após a experiência em Barcelona.

O ator Duris vive agora seu Xavier com 30 anos. Seu único romance escrito, a partir do que experimentou em Barcelona, chama-se, claro, Albergue espanhol e é um fracasso editorial. Para sobreviver, ele escreve roteiros para novelas da TV e atua como biógrafo ghostwriter de celebridades fúteis. Do filme anterior, vemos Xavier mantendo contato com sua amiga gay (Celine De France), uma analista financeira, e a ex-namorada (Audrey Tautou, de Codigo Da Vinci), agora com um filho de cinco anos. Por uma circunstância profissional, Xavier reencontra a amiga inglesa (Kelly Reilly) do antigo albergue e, sem nem perceber, se vê emocionalmente envolvido ao mesmo tempo em que vive uma aventura com uma supermodelo. Fica formado, assim, o cenário para Xavier desdobrar seus dilemas quanto a relacionamentos.

Como um Antoine Doinel, de François Truffaut, Xavier está sempre correndo e atrasado, está sempre encantado pela garota que acabou de passar e é por essa combinação charmosa que conquista as mulheres que lhe interessam. Há inclusive, uma seqüência que remete a O homem que amava as mulheres,de Truffaut, quando Xavier acompanha atento e saltitante o movimento da saia de sua supermodelo perfeita em uma rua perfeita de São Petersburgo.

O problema de Xavier é a insatisfação afetiva que chegou junto com os 30 anos, e a certeza de que nunca terá certeza se está escolhendo a mulher correta, com quem ele vai viver até o fim da vida. Mas seu dilema, entretanto, não está bem posto no filme. Os melhores momentos do diretor Klapisch acontecem quando ele pincela no roteiro seu estílo cômico. É o caso do complexo de Princesa da ex-namorada de Xavier, ou quando Xavier “toca flauta” para se safar, ou quando lembra que o apelo de uma boate, com alto-falantes vibrando alto, não abafam o que o coração insiste em dizer.

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