O Observador
Aqui reuni-se tudo o que já se viu, e o que não deveria se ver, num filme de serial killer
Por Luiz Joaquim | 12.06.2018 (terça-feira)
– publicado originalmente em setembro de 2000 no Jornal do Commercio (Recife)
Pode-se afirmar que um filme tem dois caminhos a tomar se seu foco de atenção é um assassino psicopata. Uma dessas trilhas pode oferecer a paisagem do psicologismo – introduzindo o público às razões pelas quais o louco mata gente em série (O silêncio dos inocentes) – enquanto o outro percurso pode cativar o espectador pela desenfreada ação que a polícia despende para capturar o vilão (Velocidade máxima). O observador (The Watcher, EUA, 2000), em cartaz hoje, parece vagar constantemente perdido entre esses dois caminhos.
O roteiro de David Elliot e Darcy Meyers não está interessado em mostrar o porquê das atitudes do assassino Griffin (Keanu Reeves), e não sugere nenhuma réstia de humanidade no perfil do seu psicótico. Reforçando o problema, a insegura e frágil atuação de Reeves nos soa como uma violenta e patética criatura movida sabe-se-lá-porquê (talvez por dificuldades de auto-afirmação), e nunca como um sofisticado matador.
A direção equivocada de Joe Charbanic (estreando no cinema) também contribui para escangalhar a bússola que poderia nortear a produção. Há uma seqüência de perseguição, num prédio abandonado, tão confusamente montada que é difícil identificar a mais leve sensação de distancia entre perseguidor e perseguido.
Quem passa o filme inteiro correndo atrás de Reeves é James Spader (longe de seu papel mais marcante em sexo, mentiras e videotape, pelo qual levou o prêmio de melhor ator em Cannes 1989). Spader é Campbell, um detetive do FBI prematuramente aposentado pelas sequelas de um assassinato não-solucionado em Los Angeles. Quem estava por trás do crime era Griffin que, dois anos depois, volta a chamar a atenção de Campbell em Chicago, mandando-lhe fotografias das próximas vítimas, cujo tempo de vida está cronometrado para encerrar às 21h do dia seguinte.
Ainda no elenco, Marisa Tomei, esforçando-se para tirar algo de seu personagem oco. Ela faz a terapeuta do abalado Campbell. Este personagem de Spader (injetando drogas para apaziguar suas crises) foi criado para parecer mais maníaco que o de Reeves, mas os diálogos entre a caça e o caçador não abrem brecha para tanto.
Uma vez esquecido o enredo, vai ficando mais clara a sofrível valia de O observador como objeto de entretenimento. Aos nossos olhos, ganha (mau) destaque, então, o descuido com a fotografia e, aos nossos ouvidos, a trilha de sons. Como é o caso da pesada respiração tipo Darth Vader que sempre surge quando a tela mostra a perspectiva do assassino, com imagens pseudo-estilizadas em câmera lenta.
Complicando um pouco mais, a trilha sonora, ponteada por hard-techo e a balada Roads do Portishead, também não encaixa com a identidade séria de um suspense policial. Está mais para uma filme de aventura e equívocos, estrelado por adolescentes. Como que obedecendo a uma cartilha básica da escola MTV de fazer thrillers, o diretor Charbanic agregou (mal) tudo o que já se viu, e o que não deveria se ver, num filme de serial killer.
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