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Críticas

A Vila

Repetindo o susto.

Por Luiz Joaquim | 09.07.2018 (segunda-feira)

publicado originalmente no jornal Folha de Pernambuco em 3 de setembro de 2004.

Para um cineasta jovem (34 anos), Manoj Night Shyamalan já construiu bastante. Não é para muitos diretores o prestígio de ter sua nova obra referendada pelos trabalhos anteriores. Muito menos ter o novo filme divulgado como “do diretor fulano”. Na memória do público comum, o “dono” do filme é normalmente o astro e não aquele que está por trás da câmera. A estréia hoje de A Vila (The Village, EUA, 2004) é prova da competência de Shyamalan. É só abrir os ouvidos e escutar o público falando que “vem aí o novo filme do mesmo diretor de O sexto sentido”.

Mas nesse seu sexto longa-metragem, o cineasta não nega a fórmula da qual se tornou adepto (escravo?) e começa a dar sinais do esgotamento e saturação. E a fórmula de Shyamalan é exatamente conduzir o espectador a um estado de ansiedade. Essa condução não é apenas sua fórmula, mas seu tema. Shyamalan é um manipulador de sensações. E controla tão bem os efeitos dessa manipulação que é difícil querer deixar de acompanhar seus passos até a armadilha final de sua história. Mas, com A Vila, Shyamalan parece ter secado seu saquinho de truques para produzir medo e surpresas reveladoras no final.

Criaturas surgindo e sumindo furtivamente por uma brecha do quadro de visão do espectador, acompanhado de grunhidos grotescos, são as técnicas repetidas do diretor para provocar suspense e choque na platéia. Quando utilizava isso atrelado a uma história convincente (como no anterior Sinais), o diretor indiano acertou. Mas em A Vila, ele se remete a um período indefinido (no qual seus personagens falam como se vivessem há 150 anos) e, mesmo apoiado por um elenco excelente (Willian Hurt, Sigourney Weaver, Adrien Brody), não cria uma teia no roteiro suficientemente bem entrelaçado para envolver o público no mistério que deseja.

A surpresa é certa no final, mas lá não será encontrado nada que justifique o percurso pelo qual o espectador teve de percorrer por quase duas horas de projeção.

Shyamalan agora nos coloca dentro de uma comunidade vivendo cercada por um bosque cujos limites são vigiados pelos conselheiros da vila. O conselho ordena que ninguém deve entrar na zona proibida ou corre o risco de ser atacado fatalmente por “aqueles de quem não podemos falar”. Esses são criatura que marcam as casas a noite com a “cor ruim” (vermelho), e recebem oferendas dos conselheiros (como carne fresca) para aplainar a fúria.

Mas quando Lucius (Joaquin Phoenix) precisa de ajuda médica, Ivy (a atriz Bryce Dallas Howard, que você também verá em Manderley, próximo filme de Lars Von Trier) irá, mesmo sendo cega, encarar os perigos da selva com todos os seus monstros para buscar medicamento e salvá-lo. Shyamalan recria significados em seus filmes, e isso é prova de talento, mas não é tudo, nem tampouco apoiar-se em potentes estampidos sonoros para provocar susto. A estratégia esta gasta e não é preciso muito pra percebê-la assim.

Embora venha se mostrando um craque em criar medo em torno de personagens de alguma forma isolados do mundo (o menino em O Sexto Sentido; o acidentado de Corpo Fechado; a família de Sinais), Shyamalan parece ter errado o tom dessa vez. Ao contrário de A Vila, um bom exercício de horror focando uma sociedade isolada este em O Homem de Palha (The Wicker Man, Ing. 1973), com Edward Woodward e Christopher Lee, filme que teria uma refilmagem feita por Neil LaBute (de Na Companhia de Homens) com Nicolas Cage encabeçando o elenco.

 

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