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Reportagens

Cinema no Festival de Inverno de Garanhuns – PE

Cinco filmes inéditos compõem a programação cinematográfica do 14º FIG (PE), em 2004.

Por Luiz Joaquim | 23.07.2018 (segunda-feira)

– acima, still de O Retorno, de Andrey Zvyagintsev

Está acontecendo agora (23-7-2018) a 28º edição do Festival de Inverno de Garanhuns (Agreste pernambucano), a 240 quilômetros do Recife. Em 2004, acontecia sua 14º edição, e o festival já era então um grande sucesso, em particular na difusão da música e do teatro.  Mas, uma outra expressão artística faltava ali. Não havia cinema em funcionamento na cidade, nem mesmo uma estrutura próxima da ideia de um cinema (as salas do Cine Eldorado só reabriram depois, com Paulo Menelau).

Foi então, naquela mesma edição, há 14 anos, que um maluco (Geraldo Pinho) convidou outros dois malucos (Luiz Joaquim e Kleber Mendonça Filho) para montar e produzir uma mostra de cinema que integrasse a grade de programação do FIG 2004. A programação ficou tão atraente que alguns recifenses viajaram ao Agreste especificamente para ver alguns dos filmes da mostra. Não eram filmes em DCP, DVD, blu-ray ou baixados via Torrent. Eram filmes em película 35mm. Depois daquele ano, nunca mais o FIG deixou de incluir filmes em sua programação.

O CinemaEscrito resgatou reportagem de 2004 que conta o começo dessa história. Leia abaixo:

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– publicado originalmente na Folha de Pernambuco, em 12 de julho de 2004

Depois de anunciada a programação de cinema do XIV Festival de Inverno de Garanhuns a comunidade cinéfila do litoral que não viaja para o Agreste ficou um pouco invejosa. Explica-se: o circuitão comercial recifense está na temporada infantil e os adultos estão, por assim dizer, órfãos. Do outro lado, a 230 quilômetros do Recife, na praça Euclides Dourado, tem início às 19h de hoje [12-6-2004] a primeira incursão do FIG projetando cinema. A seleção causa mesmo inveja.

Um tiro no escuro (A shot in the dark, Ing., 1964), de Blake Edwards, abre a mini mostra com muito bom humor. Para aqueles que já conhecem o talento da dupla Edwards/Peter Sellers, não precisa muito para convencer que o riso está garantido. Sellers é aqui o charmosamente atrapalhado Inspetor Clouseua, da série Pantera cor-de-rosa (que teria mais quatro na sequência). O personagem marcaria para sempre a carreira de Sellers com sua inocência e técnicas nada convencionais de investigação. Aqui Clouseau, convicto da inocência de uma camareira tida como uma assassina, conduz seu trabalho a despeito dos perigos que o cercam.

Amanhã, o tom muda com Prisioneiro da grade de ferro, de Paulo Sacramento (montador e produtor de Amarelo manga). O documentário é uma espécie de ‘Lado B’ de Carandiru, rodado por Hector Babenco, ano passado. Prisioneiro… é um experimento cujas imagens foram captadas pelos próprios detentos dentro do maior presídio da América Latina antes de sua demolição em 2002. Depois de ministrar para os presos oficinas de como manusear câmeras de vídeo, Sacramento teve a ideia de deixá-los livres para registrar o próprio cotidiano, com zero de interferência. O resultado é cru e cruel, e está no filme.

Quarta-feira, a italiana Valéria Golina brinda o público com sua sensualidade e talento em Respiro (Respito, Ita., 2002). É o segundo filme da diretora/roteirista Emanuele Crialesi e sugere, logo no início, que se a civilização não entrou em total colapso, falta pouco. A ação concentra-se numa família problemática que vive às margens do Mediterrâneo. Molina é a mãe liberal que sofre preconceitos pela sua postura diante da vida. O filme é inspirado numa lenda italiana que mescla beleza e brutalidade. A competência do filme levou o prêmio da crítica em Cannes há dois anos.

Cena de “Igual a Tudo na Vida”

No dia seguinte é exibido Igua a tudo na vida (Anything Else, EUA, 2003): a produção de maior apelo com a mídia brasileira dessa mostra no FIG graças a Woody Allen, dirigindo o filme. A obra só estreia no Brasil dia 13 de agosto, mas Garanhuns confere antes de todos esta obra que está sendo citada pela crítica estrangeira como um dos melhores trabalhos de Allen nos últimos anos. O protagonista é Jason Biggs (de American pie: A primeira noite é inesquecível) que incorpora a neurose e os maneirismo de Allen para interpretar um jovem de 21 anos recém-divorciado que fica perdidamente apaixonado por Amanda (Christina Ricci), uma garota extremamente volúvel. Para a alegria dos fãs, Allen atua como ele mesmo, um alucinado escritor de comédias.

Por fim, O retorno, filme russo de Andrey Zvyagintsev, que deverá deixar o público de boca seca com a comovente história de um pai cuja volta para casa, 12 anos depois, culmina numa viagem com seus dois filhos a uma região remota da Rússia. A viagem mostra-se tensa e psicologicamente incisiva na vida dos garotos. O filme recebeu o Leão de Ouro no Festival de Veneza 2003.

Como consolo àqueles que não poderão conferir desses filmes em Garanhuns, aqui vai duas boas notícias: Um tiro no escuro estreia próxima sexta-feira no Cinema da Fundação, e O prisioneiro … terá pré-estreia dia 29 de julho, também na Fundaj, com a presença do diretor para um debate com o público.

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