Dama na Água
O mundo mágico do cloro
Por Luiz Joaquim | 23.07.2018 (segunda-feira)
– publicado originalmente no jornal Folha de Pernambuco em 1º de setembro de 2006
Ele já tem muitos fãs. Aos 36 anos, nascido na Índia, M Night Shyamalan lança no Brasil seu sétimo filme como diretor: Dama na água (Lady in The Water, EUA, 2006). Depois de O sexto sentido (1999), o cineasta deixou de ser mais um nome em Hollywood para ser a promessa de Hollywood no campo do suspense, o que, em outras palavras, pode significar uma maldição – como tantas que o cineasta gosta de criar em seus roteiros.
Isso porque a cada lançamento, seus filmes são observados com atenção pelos fãs que esperam assistir um espetacular quebra-cabeça sendo montado diante de seus olhos ou, simplesmente, é esperado um bom entretenimento por aquele espectador comum que já vincula a grife ‘Shyamalan’ a um programa decente.
O fato é que Dama na água – uma fábula sobre seres das águas que vêem à tona para despertar alguns escolhidos que serão importantes para o equilíbrio do mundo – funciona em menor escala no campo da sugestão e em maior escala no campo da descrição.
Isto não é necessariamente ruim num filme, mas aqui é. No prólogo que antecede os créditos, uma animação discreta e elegante narra, com voz em off, a lenda sobre os povos das águas que ajudavam os homens, estes mesmos que foram se distanciando das fontes aquosa pela ganância de posses. Nesse prefácio, está toda a síntese do filme. Não apenas do enredo, mas da opção narrativa do filme.
Das três produções anteriores do diretor (Corpo fechado, 2000, Sinais, 2002 e A vila, 2004), além de O sexto sentido, talvez seja Dama na água seu trabalho mais carregado de diálogos explicativos e, por isso mesmo, frágil.
Preocupado com a criação de uma atmosfera e do ser etéreo que ele chama de narf – aqui na pele de Bryce Dallas Howard, a chapeuzinho amarelo de A vila – Shyamalan escorrega e acaba por ultrapassar a tênue linha que separa o intrigante do ridículo.
Não que os atores – entre eles o ótimo Paul Giammati, de Sideways – não se empenhem em transmitir a importância de acreditar na inocência (ele até ilustra um crítico literário sendo morto pelo seu próprio ceticismo), mas é difícil levar a sério que palavras cruzadas do jornal ou caixas de cereais contenham revelações criptografadas.
No filme, o tal escolhido pela narf é interpretado pelo próprio Shyamalan. De imediato, sua auto-escalação soa um tanto pretensiosa, como se ele mesmo, o cineasta, fosse um visionário em sua categoria. Tudo bem que Shyamalan sabe como tirar bom proveito de uma câmera cinematográfica, mas até se tornar uma referência vão ser preciso alguns anos.
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