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Críticas

Sin City

Acertos e exageros pautadas por uma matiz hiperrealista.

Por Luiz Joaquim | 13.07.2018 (sexta-feira)

– publicado originalmente em 28 de julho de 2005 no jornal Folha de Pernambuco

Fãs do quadrinista Frank Miller estão em polvorosa com a estréia hoje (28/7/2005) de Sin City (EUA, 2005), adaptação cinematográfica feita pelo própria Miller em co-direção com Robert Rodriguez (de As Aventuras de Lavagirl e Sharkboy). O crédito ainda registra o todo-poderoso nome de Quentin Tarantino como “diretor especialmente convidado” (e cobrou o simbólico valor de um dólar pelo trabalho).

A informação acima implica que Sin City vem carregado por uma bossa pop que tenta, por um tremendo esforço tecnológico, transportar a estética própria do universo dos quadrinhos para o cinema. E, em certa medida, eles conseguem. Mas se há problemas a apontar aqui, eles estão no excesso e na simples constatação que cinema é cinema e quadrinho é quadrinho.

Não se pode ser radical aqui a ponto de não admitir que o esforço para transpor uma obra de um suporte (no caso quadrinho) para outro (cinema) não seja válido, mas é interessante ter em mente que essa mesma transposição vai necessariamente sofrer perdas e/ou ganhos. Sin City é uma produção exemplar para ilustrar os dois casos: o da felicidade e o da infelicidade.

O primeiro caso aparece claramente logo na seqüência de abertura, que adianta o que será oferecido em termos visuais ao público durante os 124 minutos de projeção. A tal sequência mostra uma mulher fitando uma cidade em preto e branco, banhada pela máxima matização que se possa conseguir entre essas duas cores. Envolta por uma atmosfera cinza prateada no terraço de um arranha-céu, a personagem resplandece num vestido de cor vermelha que parece saltar da tela. Este, e o batom de seus lábios, são os únicos elementos fora da matiz entre o P&B.

E assim segue a fotografia de Sin City. É realmente um trabalho louvável este de pós-produção feito nos computadores da produtora de Rodriguez, a Troublemakers Films; o que remete imediatamente a velha mangue-expressão “Computadores fazem arte. Artistas fazem dinheiro“. Não se questiona que a manipulação digital na cor da fotografia em Sin City impressiona, mas também é verdade que muito do mesmo cansa. E é essa a sensação que se tem ao final da projeção; pois o que era novidade no início (a estética dos quadrinhos) torna-se trivial depois de uma hora de bombardeio com enquadramentos meticulosamente “radicais” e barulhentos. E é exatamente nesse momento que um roteiro melhor articulado resolveria a questão.

A estrutura de Sin City passeia por três histórias distintas, independentes mas sutilmente interralacionadas. Nessa disposição, episódios ganham destaque em detrimento a outros. O segundo episódio, particularmente, é um ilha de acertos em ritmo cinematográfico dentre o que antecede e lhe sucede. O herói (ou anti-herói) da história é Marv, com Mickey Rourke no papel mais marcante de sua carreira desde o longínquo Coração Satânico (1987). Com seu rosto duro e assustadora massa muscular, Marv apaixona-se, a seu modo, pela prostituta Goldie e não economiza na determinação em vingar sua morte.

A rudeza de Marv por tudo que lhe cerca, combinada com o carinho que guarda por Goldie, remete a uma saudável associação com  A Bela e A Fera, o clássico romance escrito por Jeanne-Marie Leprince de Beaumont. E a empatia que o público sente pelo personagem de Rourke não vem só pelo seu solitário destino. Ou seja, no filme, o mérito não é só da imaginação de Miller, mas sim de um conjunto de diálogos ácidos e rápido (próprios dos quadrinhos e aqui bem equalizados) que neste episódio que aproxima o drama de Marv ao público assim como nenhum outro episódio do filme.

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