V de Vingança
O fantasma da integridade. Integridade?
Por Luiz Joaquim | 13.07.2018 (sexta-feira)
– publicado originalmente na Folha de Pernambuco em 7 de abril de 2006.
Havia duas razões pela grande expectativa na chegada de V de Vingança (V for Vendetta, EUA, 2005) aos cinemas brasileiros. A mais óbvia tem forte sentido para os fãs que acompanhavam a saga do herói “V” pelos quadrinhos escrito por Alan Moore e ilustrado por David Lloyd em 1981, sendo desenvolvido oito anos depois pela DC Comics. A segunda razão está vinculada aos fãs do mitológico “Matrix”, uma vez que a produção de “V” traz entres os produtores e roteiristas os nomes dos irmãos Andy e Larry Wachowski, responsáveis pela trilogia da tal matriz.
Outra expectativa vincula-se ao teor politicamente incorreto do filme. Afinal, “V” (Hugo Weaving, o agente Smith de Matrix) é um herói – talvez anti-herói caiba melhor – que prega a violência “em prol do bem”. E sua tendência terrorista também não pode ser disfarçada quando discursa que símbolos precisam ser destruídos, assim como prédios, para, daí, chamar a atenção do mundo. Ou ainda quando vaticina que “o povo não deve temer seu governo e sim o governo deve temer seu povo”.
Antes de crucificarmos a postura do aparente terrorista mascarado que se intitula “V” – símbolo que ganha razão no filme pelo sentido numérico romano que representa -, é preciso observar o que realmente perturba nessa postura do anti-herói e na do próprio filme. Entre outras palavras, talvez incomode ouvir dizer, com propriedade, como é o caso aqui, que, à medida que bombas explodem, na verdade, palavras com paixão e sinceridade podem causar mais estragos.
Por trás dessa idéia, está o sentido de integridade que o mascarado “V” prega. Pelo acaso, ele salva a jovem Evey (Natalie Portman) de ser violentada e, involuntariamente, a envolve no seu plano de destruir o parlamento britânico num futuro indefinido. É um lugar onde a Grã-Bretanha reina soberana sobre o mundo, mas à custa de uma tirania que poderia ser vista como um misto entre a vivida pela sociedade em “1984”, de George Orwell, e a que sofria com a bestialidade do nazismo alemão. Curiosamente o tirano aqui, Sutler, é interpretado por John Hurt, mesmo ator que fazia a vítima do Big Brother na versão para o cinema de “1984”.
Trabalhando o tempo inteiro com uma máscara e uma peruca, Weaving sofre, e Portman também, para instaurar uma atmosfera romântica entre seus personagens, como a história induz. Aparenta estranho quando a situação é triste e o que se vê é o sorriso frio da máscara.
De qualquer forma, a idéia de ‘integridade’ está bem dosada com os efeitos visuais típicos de superproduções que impressionam a retina do espectador. E V de Vingança guarda imagens finais que deverão ser lembradas no futuro quando o assunto for o parlamento inglês, ou mesmo o 11 de setembro.
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