– publicado originalmente no jornal Folha de Pernambuco em 13 de maio de 2004

Se houvesse uma recomendação a ser feita sobre Visões (Gin gwai 2,  China/Tailândia, 2004), dirigido pelos irmãos Oxide e Danny Pang, esta seria: Grávidas, em qualquer estágio de gravidez, evitem o filme. Ao contrário do que possa parecer, isso é um elogio a esta seqüência (o primeiro só chegou ao Brasil em home-vídeo) que revisita com inteligência um assunto já eternizado por Roman Polanski em 1968 com O Bebê de Rosemary.

Onde reside o problema em gestantes verem o filme? Reside na possível identificação com a tortura impiedosa que Joey (a bela Qi Shu) perpassa no decorrer desse drama de horror. Depois de frustadamente tentar o suicídio via overdose de comprimidos pelo fim de um relacionamento amoroso, a moça passa a ver criaturas extra-pálidas que ninguém mais vê.

Nesse ínterim, descobre que está grávida e durante o pré-natal, percebe que uma dessas criaturas, uma mulher, a persegue por toda a parte. O esclarecimento ao espectador sobre o que acontece vem na voz de um monge quando explica a Joey que a habilidade de ver os mortos é forte quando nascemos e vai se perdendo ao longo da vida. Pessoas que experimentaram a morte de perto, como ela, ou estão perto de dar a luz, recuperam essa habilidade. Joey se enquadra nos dois casos. Revelar mais detalhes pode estragar sensações propostas pelo bom roteiro.

Visões não é apenas um boa história bem contada, é um bem cuidado trabalho cinematográfico empenhado na construção de um ritmo e dinâmica que os irmãos chineses conseguem imprimir dando uma atmosfera de suspense contínuo e estética visual que gradualmente magnetiza. Apesar da trilha-sonora equivocada e de um ou outro coadjuvante canastrão, Visões pode fazer o público virar o rosto de agonia, como nas sequências perturbadoras do parto no elevador e do suicídio do alto de um prédio.