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Críticas

Vozes do Além

Mandinga fonoeletrônica

Por Luiz Joaquim | 27.07.2018 (sexta-feira)

– publicado originalmente na Folha de Pernambuco em 18 de fevereiro de 2005

Está em cartaz Vozes do além (White Noise, EUA, 2005), de Geoffrey Sax. O desconhecido Sax é um ativo diretor de filmes para televisão que, nesta sua estréia na tela grande, não vai além das limitações narrativas que o meio TV tradicionalmente impõe ao telespectador comum. Ou seja, Vozes do além se resume a construção narrativa óbvia, a partir de uma trama marcada, quase que por minuto a minuto, via regras engessadas de comoção e sustos.

Na primeira meia-hora conhecemos John (Michael Keaton), arquiteto, casado pela segunda vez com a renomada escritora Anna Rivers (Chandra West), e tutor do filho pequeno, fruto do primeiro casamento, Mike (Nicholas Elia). Sax, pelo roteiro de Niall Johnson, acompanhado pelo invasiva e desnecessária trilha sonora de Claude Foisy, apronta aqui o envolvimento do espectador com a feliz família do arquiteto.

Uma vez que todos na platéia estão felizes junto com a perfeição que é a vida do protagonista, uma tragédia tira a vida de Anna e dá o mote para a segunda parte do filme. Até chegar ao trigésimo minuto de projeção, o diretor Sax vai arrastando o público no que ele acredita ser a representação do sofrimento pela perda de um ente querido. Lá pelo trigésimo primeiro minuto, a trama segue para a direção do sobrenatural. É quando John descobre que pessoas mortas podem se comunicar com os vivos via aparelhos eletrônicos e inclusive aparecer nas imagens de estática dos monitores de TV. No mundo fora do cinema, o efeito existe de fato e é conhecido como transcomunicação instrumental (EVP – Eletronic Voice Phenomenon).

Até completar uma hora de filme, Jack fica obcecado pela fenômeno e tenta ouvir e ver uma mensagem de paz vinda de Anna. Mas, do além, a aura da falecida surge como um holograma com defeito que fica dizendo repetida vezes “Vá… agora”, “Vá…agora”. Isso significa que alguma coisa está errada do lado de lá e, do lado de cá, John precisa fazer alguma coisa. Está pronto para o mote da última meia hora deste filme feito por cartilha.

Afora toda essa obediência cega a uma fórmula gasta por Hollywood (e aqui mal executada), Vozes do além traz Michael Keaton com sua interpretação robótica lembrando seu personagem mais memorável, no filme Beetlejuice: os fantasmas se divertem. O problema é que na comédia de 1988 ele podia fazer a pantomima que quisesse, mas aqui soa no mínimo, vamos dizer, ‘pobre’, para sermos benevolentes.

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