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Críticas

A Voz do Coração

O som da memória

Por Luiz Joaquim | 06.08.2018 (segunda-feira)

publicado originalmente no jornal Folha de Pernambuco em 2005

Mais um concorrente ao Oscar 2005 está disponível ao público recifense. Em cartaz no Cine Apolo, A voz do
coração (Les Chrorists, França, 2004), além de brigar pela estatueta de filme estrangeiro, também está no páreo pelo prêmio de melhor canção original com Vois sur ton chemin. E não é para menos. Este filme de Christophe Barratier, com público de sete milhões apenas na França, é uma declaração de amor aos professores de música, assim como Cinema paradiso (1989) foi uma homenagem aos mestres do cinema.

Coincidência ou não, o filme francês começa da mesma forma que o italiano, e com o mesmo ator (Jacques Perrin) em foco. Perrin é aqui Pierre, um famoso musicista recebendo a notícia que sua mãe morreu e, com a visita de um antigo amigo da época em que era um colegial, é levado a um longo flashback onde repousa toda a história do filme. Pierre era um rebelde estudante num orfanato autoritário com ares de prisão até a chegada do professor Clément Matthieu (Gerard Jugnot, ótimo) que aparece para começar uma lenta transformação nos delinquentes. Sob os cuidados de Clément, os anjos de cara suja, mesmo os mais durões, virão radiantes cantores do coral.

Como vários filmes sobre criança, Voz do coração não está interessado no que crianças querem ou pensam, mas
sim na perspectiva dos adultos, suas paixões, sonhos e redenções. A câmera de Barratier adora o Pierre criança (Jean-Baptiste Maunier), que possui um dom natural para música, e uma bela mãe solteira (Marie Bunel), por quem Clément alimenta uma paixão não correspondida. Ressonâncias de Sociedade dos poetas mortos ainda ecoam aqui sempre que vemos o maestro carinhoso, paciente e bem-humorado, sempre interessado em desenvolver o gosto pela arte nos moleques.

A combinação da performance apaixonada de Jugnot junto aos expressivos olhos do menino Maunier e ao drama do
pequeno Pepinot (que todos os dias espera no portão do orfanato pelos pais que nunca virão), somam, entre diversas fusões corretas, uma harmonia de elementos da infância reconhecíveis e de identificação fácil por todos que já foram inocentes. Essa mistura faz de A voz do coração mais um adorável retrato sobre o poder da arte.

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