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Críticas

Babel

Falar, mas não dizer

Por Luiz Joaquim | 31.08.2018 (sexta-feira)

-publicado originalmente em 19 de Janeiro de 2007 no jornal Folha de Pernambuco

Quem já viu Amores Brutos (2000) e 21 Gramas (2003) tem uma idéia do que esperar em Babel (EUA, Méx., 2006), novo filme do diretor mexicano Alejandro González Iñarritú, feito em parceria com o roteirista Guillermo Arriaga, o mesmo dos trabalhos anteriores.

Estreando hoje no Brasil, Babel chega carregado de medalhas: três prêmios em Cannes, incluindo melhor direção; Globo de Ouro para melhor filme dramático; e até um prêmio de melhor “interpretação feminina de tirar o fôlego” dada pela National Board of Review (a crítica norte-americana) para a ótima atriz japonesa Rinko Kikuchi.

E apesar das boas referências, Babel não é o melhor de Iñarritú ou Arriaga. Ou melhor, mostra que os dois precisam fugir da fórmula, hoje fácil, de construir pequenas histórias intercruzadas. O título do trabalho faz explícita referência ao que conta o 11° capítulo do Gênesis sobre as terríveis conseqüências da ambição humana. O irônico é que Babel é uma obra bastante ambiciosa (num sentido pejorativo).

O filme foi rodado nos EUA, México, Japão e Marrocos, é falado em quatro idiomas e ainda inclui a linguagem dos surdos-mudos pelo personagem da atriz Kikuchi. A idéia mais rasteira aqui é a de que todos se comunicam mas, independente da limitação dos idiomas, não se entendem.

Como em Amores Brutos e 21 Gramas, temos estórias que correm quase autônomas, mas afetadas por um fiapo de ação entre elas. Os dramas são interligados a partir de uma brincadeira com um rifle entre dois irmãos marroquinos adolescentes (Said Tarchani e Boubker Ait El Caid).

A ingênua brincadeira afeta o casal americano (Brad Pitt e Cate Blanchett) em férias no Marrocos, tentando salvar o casamento em crise. Afeta, na Califórnia, a babá dos filhos deles, a mexicana Amélia (Adriana Barraza), e também afeta o antigo proprietário do rifle, um ex-caçador japonês cuja filha adolescente (Kikuchi) vive uma constante busca por carinho e sempre sofre a angústia da rejeição pela sua deficiência.

A estratégia, já cansada, no roteiro de Arriaga consiste na seguinte movimentação dentro da intercalação das quatro histórias: ao chegar próximo do pico de tensão em cada uma das tramas, o roteiro corta para uma outra história num momento mais relaxado, e assim por diante. Desta forma, como num ciclo de ondas que sobem e descem constantemente, Babel se sustenta por 142 minutos.

Iñarritú garante cargas caprichadas de sofrimento a seus personagens, como é de praxe em seus filmes, mas curiosamente é na história menos apelativa – a da japonesa – que ele alcança êxito. Parte deste êxito deve-se à atuação de Kikichui, mas parte também está no que há de reconhecível, de aceitável, pelo espectador no drama da adolescente.

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