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Críticas

Mulher-Gato

Miado desafinado

Por Luiz Joaquim | 15.08.2018 (quarta-feira)

– publicado em 13 de agosto de 2004 no jornal Folha de Pernambuco

Mulher-Gato (Catwoman, EUA, 2004), estreando hoje, tem uma abertura nobre. Vemos Halle Berry, ou melhor, seu personagem Patience Philips afundando numa água suja enquanto ouvimos sua voz em off dizendo que morrer foi o melhor que lhe aconteceu, A seqüência remete de imediato à obra-prima rodada por Billiy Wilder em 1950, Crepúsculo dos deuses (Sunset Boulevard). Mas a referência para aí. O que se vê durante todo o resto deste filme de Pitof (sim, esse é o segundo filme do cineasta com nome de raça de cachorro) é radicalmente oposto ao que Wilder fez, em termos de cinema com “C” maiúsculo, há 54 anos.

Traduzindo melhor, Mulher-Gato é o anti-cinema. Não sugere credibilidade. Não há convencimento. Não há clímax. O que se vê então? Uma história maçante, conduzida de forma canastrona na qual conhecemos Patience Phillips (Berry). Ela é funcionária da poderosa empresa de cosméticos cujo novo produto – o Beau-line, um creme que adia o envelhecimento da pele – pode causar a morte de suas usuárias. Desafortunadamente ele descobre que a empresa vai lançar o creme assim mesmo e termina por ser assassinada.

Mas um gato chamado Midnight (meia-noite) encontra seu corpo e sopra um bafo pela sua boca com, supostamente, o espírito de uma entidade egípcia. Patience resnace então como Mulher-Gato. A oscarizada (há apenas dois anos) Halle Berry começa logo a desfilar desengonçadamente numa roupa de couro milimetricamente calculada para salientar suas curvas.

Mas suas caretas e miados desafinados só fazem lembrar como Michelle Pfeiffer era talentosa e sensual vestindo o mesmo personagem em Batman: O retorno, em 1999 sob o comando Tim Burton.

A Mulher-Gato de Berry vai ao encontro dos bandidos para dar porrada e pontapés que, auxiliados por barulhentos efeitos de som e nauseante movimento de câmera de Pitof dão ao filme uma aspecto de video-game (nesse caso, sem disponibilizar o manche de controle ao espectador para que encerre a partida). Tudo é acompanhado pelo mais popular (e pobre) ritmo da atual adolescência norte-americana: Soul e R&B a lá Beyonce Knowlés. Mas o pior infortúnio de Berry está em contracenar com Sharon Stone, mulher naturalmente bela e elegante que aqui vive uma supermodelo que não aceita ser deixada para trás. O irônico de tudo aqui é saber que Halle Berry é a garota propaganda dos cosméticos Revlon.

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