Supremacia Bourne
O espião vulnerável
Por Luiz Joaquim | 20.08.2018 (segunda-feira)
-publicado originalmente em 15 de julho de 2004 no jornal Folha de Pernambuco
Quem viu Identidade Bourne (2002) já conhece Jason Bourne (Matt Damon). Ele é um agente secreto que sofre de amnésia, constantemente em fuga, e em busca da própria memória para entender porque está sendo sempre caçado. Esta seqüência que estréia hoje, A Supremacia Bourne (Bourne Supremacy, EUA, 2004), tem direção agora de Paul Greengrass (do australiano Domingo Sangrento), mas continua fiel ao romance homônimo de Robert Ludlum. Um dos méritos do personagem de Ludlum é a vulnerabilidade. Qualidade que aproxima o herói do espectador, diferente do que se vê em espiões como 007 (que também agrada o público, mas pelo motivo inverso: o de refletir o desejo humano de ser sempre bem sucedido e elegante).
A escolha de Matt Damon como protagonista em ambos os filmes é feliz especialmente pelo currículo do ator; que vem defendendo (bem) personagens que vivem a correr para ser alguém que não é (vide Gênio Indomável, O Talentoso Ripley). Em termo lingüísticos Supremacia Bourne acompanha o mesmo ritmo frenético e de tensão incessante que marcou o filme anterior. Mas deve-se atribuir aqui a marca do diretor diretor Greengrass que gerou uma seqüência de situações nervosas através de imagens e montagem dinâmicas. Importante ressaltar a pertinência da câmera alucinada de Greengrass nas cenas de ação. Aparentemente aleatória, as imagens captadas pelo filme durante brigas e perseguições sugerem a noção precisa do desespero em uma briga ou perseguição. A propósito, em tempos de efeitos digitais dominando os filmes de ação, havia bastante tempo que não nos chegava um thriller norte-americano com a velha e boa seqüência de “perseguição de carros” tão bem cinematografada.
Outro atrativo da grife Bourne está nas locações. Se no primeiro filme, o desmemoriado herói transitou pela Alemanha e França, desta vez ele começa em Goa, na Índia, volta a Alemanha e vai a Moscou. Um deleite para quem está cansado dos cenário norte-americano nos filmes gringos. Em Goa, Bourne está se escondendo com a namorada Maria (Franka Potente, de Corra Lola Corra) daqueles que formavam a Treadstone, uma operação secreta da CIA que gerava assassinos profissionais (entre eles, Bourne). Enquanto isso, um magnata do petróleo russo envia um mercenário que boicota uma operação da CIA e atribui a culpa a Bourne. Ao mesmo tempo que tenta se safar do assassino russo, Bourne procura apagar qualquer traço de seu envolvimento com o atentado que matou dois agentes da CIA. Em todo seu calvário, Bourne mantém-se elegante e sóbrio, mas com um tom de fragilidade comovente. James Bond que se cuide.
PS – Quem quiser conhecer outra boa adaptação de Robert Ludlum para o cinema, pode procurar nas locadoras O Casal Osterman (The Osterman Weekend), atuado por Rutger Hauer e dirigido pelo excelente Sam Peckinpah em 1983.
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