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Festivais

51. Brasília (2018) – noite 8 – “Temporada”

O resgate do amor pelo amor

Por Luiz Joaquim | 22.09.2018 (sábado)

BRASILIA (DF) – Gente. É do melhor que há em gente que Temporada fala. Segundo longa-metragem assinado pelo mineiro André Novais de Oliveira e o penúltimo em competição aqui no 51o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, a obra colocou a plateia do Cine Brasília, na noite de ontem (21), numa espécie de suspensão. Suspensão sobre a camada dura e azeda em que se encontra a vida do brasileiro em meio a uma expectativa de um futuro ainda mais sombrio com a proximidade de uma eleição presidencial tão singular.

Temporada funcionou por aqui como uma bolha. Mas não como uma bolha que isola, e sim que se expande. Abraçando seu público para um universo que, na verdade, já existe e parece apenas estremecido (principalmente nos últimos anos). É o universo da amizade, em que amigos resgatam amigos para o amor pelo amor.

E antes que o leitor cético acrescente que ‘amor pelo amor’ é alguma coisa qualquer cafona, citamos Guimarães Rosa, mineiro célebre e inquestionável para sintetizar Temporada por palavras de Grande sertão: Veredas: “Minha amizade eu dou. E amizade dada não é amor?”.

Já disseram por aqui em Brasília, em conversa informal: o filme é entregue ao espectador como quem entrega um “coração envelopado em pão de queijo”. E, mais uma vez, aos mais apressados em dizer que um ‘coração’ desprovido de um mínimo de racionalidade pode causar a ruína de uma obra, que entendam, e que fique claro, ser Temporada meticulosamente provido de coerência racional em termos cinematográficos.

Mais ainda: provido de conhecimento sobre como gente funciona. E, um vez sabido isso, aplica-o em função de uma construção narrativa muito particular, já facilmente reconhecível no cinema de André Novais.

Por essa construção, Temporada faz a gente querer ficar mais com a gente mesmo. É pelo seu ritmo, nos seus 110 minutos de duração passando suave, que é proporcionada a tranquilidade necessária ao olhar do espectador para primeiro descobrirmos Juliana, segundo para conhecermos ela verticalmente, e terceiro para seguirmos, de mão dada com ela, ao lado de sua nova rede de amigos.

A “temporada” da protagonista Juliana (Grace Passô), no caso, seria o período em que ela começaria trabalhando como agente municipal, em ação de combate endêmica, contra a Dengue, por exemplo. Juliana vem de Itaúna, interior mineiro e, enquanto se adapta ao novo endereço e espera a vinda definitiva de seu marido para a nova cidade,  vai apertando o laço de amizade que nasce com seus colegas.

São várias as sequências que sintetizem a força dessa rede estabelecida pelos amigos no filme de André Novais. Numa delas, Russão, colega de Juliana no trabalho, reclama que precisa de dinheiro emprestado, sendo isso um problema bastante grave naquele momento da vida dele. Juliana explica que ajudaria se pudesse. Mas, mesmo antes dela terminar a frase, Russão sai correndo, brincando, em direção ao filho pequeno, quando percebe que o pequeno está chegando acompanhado pela mãe.

É dessa rede que, principalmente, trata o filme. Sendo a sequência final, mostrando os amigos de Juliana fora de um carro e empurrando o mesmo, com Juliana dentro e o guiando para fazê-lo pegar no tranco uma forte ilustração. Tal final é, por si só, um belíssimo simbolismo sobre a necessidade de pessoas amorosas ao seu lado para que consigamos transpassar saudavelmente por qualquer temporada difícil que a  vida nos impõe em menor ou maior grau, e daí conseguirmos controlar a direção de nossa própria vida.

*Viagem a convite do festival.

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