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Críticas

A Dona da História

Uma boa adaptação, mas que deixa a desejar

Por Luiz Joaquim | 09.09.2018 (domingo)

– publicado originalmente em 29 de abril de 2004 no jornal Folha de Pernambuco

Quando publicado em livro e lançado no teatro A dona da história, de João Falcão, impressionou bem os especialistas de cada área e ao público afim. Agora é chegada a hora de avaliar a versão cinematográfica que foi levado às telas pelo homem forte da Globo Filmes, Daniel Filho, a primeira impressão deixada por A dona da história, o filme, é que o texto de Falcão pode ser bom o suficiente para o cinema, mas precisa de uma mão aprumada que guie com firmeza aqueles que vão pronunciar e interpretar o tão trabalhado texto de Falcão. Infelizmente essa mão não é de Daniel Filho.

Se por um lado o filme mostra-se audacioso em alguns belos efeitos visuais e de edição de som (especialmente na passeata no início da história), por outro, a proposta de dramaturgia entoada por Daniel Filho soa engessada. Anacrônica, até. A superficialidade da ambiência vivida pelo casal protagonista (Antônio Fagundes e Marieta Severo na fase madura, e Rodrigo Santoro e Débora Falabella na fase jovem) depõe contra qualquer sugestão de convencimento dramático ou cômico que se queira sugerir.

Enquanto Marieta Severo, bela e empenhada no filme, contrasta com a canastrice de Fagundes (atentem para uma discussão na qual as partes da galinha são o ‘x’ da questão); Santoro mostra-se desconectado a Falabella, aqui como uma versão desacelerada do papel que lhe marcou anteriormente em Lisbela e o prisioneiro.

No enredo, Carolina jovem (Falabella) encontra Carolina aos 55 anos (Marieta) em crise com o marido e com a vida que formou para si nas três décadas passadas. A cada nova atitude que toma no passado, Carolina jovem encontra a madura no futuro ainda incompleta em sua felicidade. Na busca pelo razoável, as duas Carolinas vão descobrir que a presença do “amor de sua vida” é mesmo imprescindível para que elas se realizassem.

Uma pena que questões levantadas por Falcão na peça, que são tão perturbadoras para a terceira idade (quando olham para trás e duvidam se o percurso que tomaram foi válido), fiquem perdidos entre os vai-e-vem estroboscópicos e, a certa altura, enfadonhos, pensados por Daniel Filho e por uma equipe gigante movida para subtrair apenas a emoção média de uma obra mais profunda.

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