Alexandre
Aula de história
Por Luiz Joaquim | 08.09.2018 (sábado)
– publicado originalmente em 14 de Janeiro de 2005 no jornal Folha de Pernambuco
É curiosa a fama negativa com a qual Alexandre (Alexander, EUA, 2004), de Oliver Stone foi recebido no Brasil. Rechaçado pela crítica internacional, a produção de 150 milhões de dólares da Warner Bros deu errado na América tendo arrecadado, em 2.445 salas em pouco mais um mês de exibição, o fracassado valor de 35 milhões de dólares.
Com o protagonismo defendido por Colin Farrell (Minoraty report, Por um fio), o longa, com bem conduzidos 173 minutos, merece que o público dedique mais atenção do que a dispensada pela crítica estrangeira. Isso porque Stone colocou bem mais que sangue, poeira e efeitos digitais nesse épico de proporções tão grandes quanto os feitos de Alexandre, o rei da Macedônia, que antes dos 33 anos completos conquistou mais de 35 mil quilômetros, tendo sofrido apenas uma derrota militar dentre as várias que promoveu.
Ao contrário de tantos filmes recentes do gênero que apresentam seus heróis e pulam logo para as batalhas, como Tróia, Rei Arthur entre outros, Alexandre dedica o tempo preciso para configurar as influências que o mitológico personagem teve de seu pai, o Rei Filipe II (Val Kilmer, The doors), de sua mãe Olímpia (Angelina Jolie) e do seu amigo e amante, Hefestion (Jared Leto, de Requiem para um sonho). Enfim, o espectador tem tempo de conhecer e processar as razões pelas quais o macedônico se transformou num mito.
Ou seja, pelo filme de Stone, é quase possível deduzir a origem das ações que moviam a ambição, a audácia e a arrogância do guerreiro. O filme quer decifrar o que está por trás dessas três características de sua personalidade. E quando pinta esse painel humano que circunda o personagem e seus dilemas, o filme cresce e finca suas garras na atenção do espectador.
Agregue aqui um roteiro que consegue colocar informações históricas na boca de personagens sem que soe de forma pomposa (com a exceção de alguns arroubos heróicos na primeira batalha). Adicione atores comedidos em suas performances (exceto pela canastrice explicita de Jolie), e some a tudo isso a habitual competência hollywoodiana em criar cenários urbanas que não mais existem em esplendidas paisagens digitalizadas (como os Jardins Suspensos da Babilônia, uma das sete maravilha do mundo antigo).
Vale um destaque para a atuação intensa (mas sem exageros) de Farell que ao berrar nos vários momentos de cólera do personagem demonstra paixão e vai além daquela comum expressão facial que parecer dizer “vejam como estou furioso!”.
Cercado por essas qualidades, Alexandre parece uma belíssima aula de história, que condimenta a administração do assunto com a polêmica condição homossexual da figura magnânima de Alexandre. Mesclando uma fragilidade quase feminina com uma determinação quase instintiva para alcançar seus desejos num mesmo personagem, Stone nos apresenta aqui um figura complexa. O que é bem apropriado em termos do controverso Alexandre, O Grande, tão estudado por historiadores, filósofos e até psicólogos.
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