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Críticas

Antônia – O Filme

A força da periferia

Por Luiz Joaquim | 12.09.2018 (quarta-feira)

– publicado originalmente em 09 de Fevereiro de 2007 no jornal Folha de Pernambuco

Primeira informação importante é que, muito embora traga as mesmas cantoras no elenco, o filme não é uma adaptação para o cinema da série que a Rede Globo exibiu em novembro de 2006 – com um dos episódios, inclusive, dirigido pela própria diretora Tata Amaral.

A série televisiva foi realizada depois do filme pronto e conta o que teria acontecido dois anos depois do que mostra o enredo no filme. O Antônia da telona é, também, um projeto essencialmente cinematográfico no sentido estético e narrativo.

A ideia nasceu do interesse de Amaral pelo hip hop e pelo rap quando, há nove anos, lhe convidaram para fazer um filme com jovens da periferia. Conhecendo a obra de Amaral – entre eles, Um u de estrela (1997) e Através da janela (2000) – sabe-se que sua opção por dar espaço a fortes personagens femininos não é de hoje. No filme, ela não só escolheu não-atores, como preferiu trabalhar a representação em cantoras, do que trabalhar o canto com atrizes.

Daí suas quatros protagonistas – Preta (Negra Li), Barbarah (Leilah Moreno), Lena (Cindy), Mayah (Quelynah) – estarem todas engajadas na música negra brasileira. Há ainda a participação de Sandra de Sá e o precursor do hip hop no Brasil, o rapper Thaíde que interpreta o produtor Marcelo Diamante, aquele que ‘descobre’ as meninas como backing vocals na Vila Brasilândia – periferia paulistana – e as encaminha para o sucesso.

Antônia é o terceiro e mais acessível longa-metragem de Amaral. E isso não é uma ruim, mas, não fosse pelo tom realístico da fotografia, da interpretação naturalista das cantoras-atrizes e da mão firme da cineasta, o trabalho seria apenas mais um filme sobre superação na dureza da periferia para conquistar um sonho.

Sonho: palavra tão querida pelo cinemão que até ganhou espaço no subtítulo de Dreamgirls – Em busca de um sonho, que, com todo o exagero próprio de Hollywood, é, em certa medida, um espelho norte-americano para Antônia.

O artifício (bem) usado no roteiro de Antônia é o de contrapor a persistência das meninas pelo que elas acreditam – sua música – com as constantes intempéries sociais próprias da periferia, que parece sempre empurrar quem está embaixo mais para baixo.

Pesando contra está o “sempre”, pois, apesar do grau de sinceridade alcançado nas situações e interpretações, um aparente esquematismo de várias situações negativas contra o sucesso do grupo termina por soar bem conveniente para o final esperançoso do filme, e menos reflexivo do que poderia ser após tanto sofrimento mostrado. Tudo em prol do bendito “sonho”, tão desejado.

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