Diamante de Sangue
Uma promessa mau cumprida
Por Luiz Joaquim | 11.09.2018 (terça-feira)
– publicado originalmente em 05 de Janeiro de 2007 no jornal Folha de Pernambuco
Diamante de sangue (Blood Diamond, EUA, 2006), uma estréia inflada daquele ano, prometia emoções boas, pois já chegava com o prestígio (para alguns) de ter recebido a indicação ao Globo de Ouro 2007 de melhor ator para Leonardo DiCaprio como o contrabandista de diamantes na África que encontra a redenção no amor da jornalista encarnada por Jennifer Connelly, e na amizade pelo pescador vivido pelo ator africano Djimon Hounsou.
Ao contrário do que prometia, Diamante… entrega ao espectador emoções calculadas, e um DiCaprio esforçado, mas extrapolando nos maniqueísmo da atuação. O grande trunfo do filme está mesmo em Hounsou, este sim, digno de receber uma indicação de premiação (como a do Oscar para ator coadjuvante em 2004, por Terra dos sonhos, de Jim Sheridan).
Seguindo um roteiro esquemático, somos levados à África do início dos anos 1990, ao país Serra Leoa, quando uma guerra civil corre solta entre rebeldes tão violentos quanto o governo mercenário. É lá que o contrabandista de armas Archer (DiCaprio, com seu esquisito sotaque sul-africano – talvez daí tenha surgido a indicação), fica sabendo que o pescador Solomon (Hounsou) encontrou um raro e ultra-valioso diamante rosa.
O diamante – guardado em segredo por Solomon – é a porta de saída daquele inferno. Para consegui-la, Archer oferece ajuda a Solomon para reencontrar sua esposa e filhos, dos quais foi separado numa ofensiva dos rebeldes. Em meio a esse imbróglio, entra a jornalista norte-americana de Connelly, funcionando como o olho ocidental que vê aquilo (nossos olhos) para toda aquela desgraça civil, além de servir como um molho romântico para o até então, sem-alma, Archer.
Com uma quantidade acima do necessário para explosões e tiroteios, Diamante de sangue parece fazer força para destacar esta que é uma das dezenas de mazelas que assola naquele continente. Ao contrário de, por exemplo, O jardineiro fiel – só para citar um trabalho recente que pela moldura do drama social na África atinge, num nível mais pessoal, a dor do protagonista -, este novo filme do diretor Edward Zwick (do bobo O último samurai) não convence ter sido desenvolvido com carinho pela condição africana, mas apenas como um espetáculo.
Aqui, crianças com metralhadoras em punho, formando o exército dos rebeldes, causam menos impacto do que deveriam. Nosso Douglas Silva, o menino Dadinho, com pistola em punho fazendo chacina num motel, em Cidade de Deus, é, nesse sentido, bem mais perturbador. Exceto pela visceral interpretação de Hounsou, Diamante de sangue soa como uma apropriação da eterna imagem de miséria na África, tudo para criar o espetáculo barulhento que é este filme. Uma apropriação tão séria quanto pode ser a apropriação inadequada de uma imagem.
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