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Críticas

Diário de Uma Paixão

Os superpoderes do amor

Por Luiz Joaquim | 25.09.2018 (terça-feira)

– publicado originalmente no jornal Folha de Pernambuco em 13 de agosto de 2004.

Há quem desdenhe da importância das capas de livro, mas a embalagem de um produto pode dizer muito sobre o conteúdo. Como num livro, a cena de abertura de Diário de uma paixão (The Notebook, EUA, 2004) adianta bastante sobre o filme de Nick Cassavetes.

Na cena, alguém corta um rio num barco, sob a luz deslumbrante de um sol nascente ao fundo. Não há som ambiente, apenas uma música delicada embalando a imagem. Por trás da janela em uma casa a beira do rio, uma senhora elegante observa a tudo com ar melancólico. A seqüência é plasticamente atraente e competente, mas muito da carga dessa beleza está na subjetividade que cada espectador carrega e dará a ela. Assim acontece com todo o resto de Diário de uma paixão.

O diretor Nick, filho do legendário cineasta independente John Cassavetes, parece remar aqui contra a corrente de seu pai. John era conhecido por dar corpo às histórias de seus filmes com uma forma nada tradicional. O grande sucesso de Nick foi Louco de amor (1997) – contemplado em Cannes com prêmio pela fotografia e para o ator, Sean Penn. Em Diário… Nick toma outro rumo, seguindo uma narrativa clássica para trazer ao público o drama da senhora Allie (a ótima Gena Rowlands, mãe do diretor) e o amigo Duke (James Gardner).

Allie sofre do Mal de Alzheimer, com perda gradativa e irreversível da memória. Para ajudá-la, Duke lê para ela uma história de amor vivida por um casal nos anos 1940. O jovem rapaz da história é Noah (Ryan Gosling, ator preciso conhecido aqui por Tolerância zero). Ele pertence a uma família pobre residente em Seabrook, minúscula cidade litorânea com população de 2.000 habitantes. É para lá que a moça do romance (Rachel McAdams, de Meninas malvadas ) vai veranear no verão e, a contragosto dos pais, se envolve com Noah. Ao fim da estação, a jovem volta para Nova York enquanto Noah permanece no local, trabalhando na casa de seus sonhos.

Adaptado do livro Message in a bottle , de Nicholas Sparks, Diário de uma paixão funciona num nível diferenciado entre os apaixonados e os que querem se apaixonar, para aqueles que não estão em nenhuma dessas duas categorias. Para os primeiros, não haverá nada que distraia do clima “amor a primeira vista”, do “romance que supera todos os obstáculos” e “dura para sempre” e tem força o suficiente conquista o oriente-médio. Para os do segundo grupo, Diário de uma paixão é apenas mais um filme romântico. Para os nenhum dos espectadores, entretanto, o filme deve soar enfadonho, mas sim revigorante.

 

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