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Críticas

Divinos Segredos

A expectativa da estréia de Callie Khouri na direção.

Por Luiz Joaquim | 19.10.2018 (sexta-feira)

— publicado originalmente em 13 de Setembro de 2002 no Jornal do Commercio.

Havia uma razoável expectativa em ver a estréia de Callie Khouri na direção de um filme. Afinal, foi ela quem roteirizou a personalidade cheia de fibra e carisma de Thelma & Louise. Dois ícones da imagem feminina, levada à tela por Ridley Scott há 11 anos. Mas, dirigindo e co-roteirizando Divinos segredos (Divines secrets of the Ya-Ya sisterhood, EUA, 2002), Khouri não mostra apenas uma constrangedora fragilidade na condução dos atores mas, principalmente, uma desorientação crítica e estrutural nesse roteiro “de mulher” (no pior sentido machista do termo).

Recheado por flashbacks, Divinos segredos tem o mote condutor de tensão centrado nas diferenças entre a mãe Vivi (na velhice vivida por Ellen Burstyn, na juventude, por Ashley Judd) e a filha Sidda (Sandra Bullock). A história principia quando a romancista Sidda dá uma entrevista a Times sobre seu último trabalho e segreda detalhes da vivência traumática com a mãe. É o estopim para detonar os arroubos de vaidade, egoísmo e intransigência de Vivi. Preocupadas com o rumo aonde o atrito está conduzindo mãe e filha, as três amigas inseparáveis de Vivi – Teensy (Fionnula Flanagan), Necie (Shirley Knight) and Caro (Maggie Smith) – sequestram Sidda e colocam-na num cativeiro de luxo para revelar um segredo que irá mudar a perspectiva negativa que sempre possuiu sobre sua mãe.

O perfil criado pela diretora Khouri para as velhinhas da tal irmandade Ya-Ya talvez soasse mais convincente se elas tivessem, apenas, a postura de senhoras descontraídas e audaciosas (mas maduras) com a vida. Já seria suficiente. Mas o efetivo do filme são senhoras agindo como recém-adolescentes. Elas falam muito, bebem muito, e pensam exclusivamente nelas próprias. Com todas as atrizes idosas (historicamente competentes), e aqui trabalhando no automático (com exceções para Judd e Maggie Smith) Divinos segredos aponta um problema em Hollywood: ausência de bons papeis para atrizes sexagenárias. Só para dizer o mínimo.

E se elenco não encaixando bem em seu personagem já não agrada, a insistente inserção de flash dos passado para explicar o presente acaba revelando outra fraqueza do roteiro. O filme sem esses flashbacks não funciona, não evoca curiosidade. A história termina por virar refém das sequências do passado. E, piorando, a trilha sonora garapa adocica o tom clichê da relação mãe e filha, reforçando um clichê cinematográfico além dos limites da paciência.

Para terminar, vale apontar um buraco intrigante no roteiro que vai aumentando na cabeça do espectador a medida em que acompanhamos a vida passada de Vivi. Somos sempre informados que ela cuidou de quatro filhos na juventude mas, no momento presente de Divinos segredos não há a mínima referência aos outros três filhos, além da personagem de Bullock. A crítica norte-americana Victoria Alexander sarcasticamente chuta que Vivi afogou os três meninos. Que maldade…

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