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Reportagens

Museus de Imagem e do Som unem forças

Em 2000, a ‘Carta de São Paulo’ propunha promover o intercâmbio entre os museus de imagem e som do Brasil

Por Luiz Joaquim | 02.01.2019 (quarta-feira)

Reportagem publicada no Jornal do Commercio (Recife), no ‘Caderno C’, página 6, em 28 de outubro de 2000 (sábado)

Dizem que um país sem memória tem um futuro comprometido. Se é assim, o que dizer de um país sem memória audiovisual numa sociedade, cada vez mais, regida pela imagem? Apesar da pertinente atenção que o assunto merece, só recentemente, entre 3 e 6 de outubro [de 2000], aconteceu o I Encontro Nacional dos Museus da Imagem e do Som. Reunidos em São Paulo, representantes de Belém, Manaus, Fortaleza, Maceió, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas, Curitiba, Florianópolis e Catanduva debateram experiências positivas, listaram dificuldades peculiares e redigiram uma carta de intenções, direcionada aos governos Federal e Estadual.

O encontro serviu para definir as primeiras diretrizes que vão reger a criação do Conselho Nacional dos Museus da Imagem e do Som. A carta de São Paulo, documento que resume as propostas definidas no evento, está circulando pelo Brasil para que outras instituições afins acrescentem sugestões e participem da próxima reunião, programada para acontecer em Fortaleza, simultaneamente ao XI Cine Ceará, em junho de 2001.

A escolha por Fortaleza deve-se ao fato do museu do Ceará ser um dos mais modernos do país. Diferente da maioria dos museus da imagem e do som (MIS) do Brasil, a instituição tem apenas dois anos (o de Pernambuco e de São Paulo tem 30), mas já conta com ambientes climatizados e equipamentos digitais para armazenamento de imagem e som. “A infraestrutura deficiente na maioria dos museus do País foi um dos aspectos mais debatidos no encontro. Essa constatação fez com que desdobrássemos os itens listados na Carta para um apelo político, que deve ser apresentado ao ministro da cultura (Francisco Weffort) em janeiro próximo”. O comentário é do Gerente de Ação Educativa e Cultural do Mispe, Pedro Aarão, que representou Pernambuco no evento.

Celso Marconi (28.out.2000)

“Além do acervo histórico, museus de imagem e som trabalham com materiais contemporâneos de vários formatos. Para os serviços prestados não ficarem deficientes e defasados, nossas sedes não podem prescindir de tecnologia e climatização”, explica o diretor do Mispe, Celso Marconi.

Brigar apenas por equipamentos modernos não soluciona os problemas. Sabedor disso, o grupo reivindica também a revisão da legislação de direitos autorais. “Se por um lado veicular documentos audiovisuais por videocassete tem sua praticidade técnica, por outro tem complicações legais”, diz Celso.

Ainda neste sentido, o diretor do Mispe lembra que a lei dirime o poder de decisão dos museus sobre determinadas peças do próprio acervo. Para exemplificar, ele cita o caso da jornalista Sandra Ribeiro, que precisou conseguir a autorização da família de Valdemar de Oliveira para utilizar, em um vídeo, o áudio de uma entrevista com o teatrólogo, realizada pelo Mispe na década de 1970. “A legislação diz que é preciso esperar 70 anos após a morte do artista para que os MIS tenham liberdade de ação sobre esse e outros tipos de materiais. Isso entrava muitos projetos interessantes”.

Outro tópico da Carta objetiva ampliar as atividades dos museus através de uma maior interação entre si. O item dois do documento (veja abaixo) deixa clara a intenção de criar um protocolo de padrão nacional que diminuiria a burocracia no intercâmbio dos acervos. “Com essa mudança, poderemos agilizar a realização de mostras que, de outra forma, ficariam restritas aos museus do Rio e de São Paulo”, destaca Aarão.

COLABORAÇÃO – Além de engrossar o coro dos que reivindicaram melhor condições estruturais, o gerente do Mispe compartilhou, durante o encontro em São Paulo, o êxito que vem obtendo no Recife com o projeto Mispe-Escola. Com intenção de gerar mais dinamismo e instigar o interesse dos estudantes por atividades extra-classe, o Museu da Imagem e do Som de Pernambuco coloca à disposição das escolas seu acervo audiovisual – que cobre todo período histórico do país – para ilustrar disciplinas de várias áreas.

“A ação serve também para estimular e familiarizar os jovens com o ambiente museológico do Mispe”, concluiu Pedro Aarão. As escolas interessadas em participar do projeto devem agendar acesso, com oito dias de antecedência, pelo fone 3221-4990.

Mispe guarda nossa memória há 30 anos – O Museu da Imagem e do Som de Pernambuco (Mispe) completou 30 anos no último dia 13. Criado pela Empresa Pernambucana de Turismo (Empetur), o primeiro trabalho desenvolvido pela instituição foi a formação de um acervo próprio, com destaque para a criação de uma coleção de entrevistas com personalidades da cultura regional. A documentação sonora guarda informações sobre a vida e a obra desses personagens.

Filmes do Ciclo do Recife e em Super8 estão no acervo / foto Márcia Mendes

Sob a primeira direção, de Francisco Bandeira de Melo, o Mispe também reuniu um acervo de partituras musicais, e outro filmográfico de curtas-metragens, através do convênio com a antiga Embrafilme. Inicialmente o museu funcionava em uma sala da Empetur. A partir de abril de 1980, a sede da instituição ficou dividida entre três salas da Casa da Cultura de Pernambuco. Nessa ocasião, o Mispe passou a ser administrado pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe).

Exatamente dois anos depois, dirigido por Celso Marconi, o museu mudou-se para o local onde está até hoje – no segundo e no terceiro pavimentos de um casarão reformado na rua da Aurora. No segundo andar, além das salas administrativas, funciona o espaço João Pernambucano, para exposições temporárias. No terceiro piso, encontra-se a biblioteca, um laboratório fotográfico e a sala Fernando Spencer: um auditótio de 50 lugares com aparelhos de videocassete e projetores de 16mm e Super8. A programação de filmes de 35mm, temporariamente cancelada, acontece no Teatro Arraial, na rua da Aurora.

ACERVO – Os documentos que estão sob os cuidados do Mispe somam 6 mil peças. São discos (de 33 e 78 rotações por minuto), fitas cassete e de rolo, coleção de cartazes (de peças de teatrais, de filmes 35mm, 16mm e 8mm), coleção de fotografias (com destaque para os registros do Graf Zeppelin), coleção de memória musical (incluindo particularidades), coleção de literatura de cordel e diversas revistas que abordam aspectos da cultura pernambucana.

A programação para o ano 2000 está dividida em duas vertentes Pelo cinema, o museu segue apresentando mostras que relembram o Ciclo do Recife (nos anos 1920), o Movimento Super8, da década de 1970, além da produção dos anos 1980 e 1990 no Estado. Pela Música, a programação contempla três mostras: uma com os pioneiros da música (Levino Ferreira, Edgar Moraes, Nelson Ferreira, Capiba Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, Sivuca, Hermeto Paschoal); outra com artistas contemporâneos (do Manguebeat); e mais uma mostra sobre a produção da fábrica de discos Rozemblit.

 

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