6º DCine (2002) Encontro de Críticos #2 e #3
Festival de Cinema, Vídeo e DCine de Curitiba – “Encontro de Críticos” / Seminários #2 e #3
Por Luiz Joaquim | 20.04.2019 (sábado)
Em maio de 2002 aconteceu a 6a edição do Festival de Cinema, Vídeo e DCine de Curitiba. Naquele ano, o evento promoveu uma 1a. e única edição do Encontro de críticos. Para tanto, convidou os mais influentes críticos de cinema de então no País para refletir sobre sua própria função, influência e legado.
O editor do CinemaEscrito.com, Luiz Joaquim, foi o único jornalista do País a cobrir e publicar texto sobre os três encontros. Os textos foram publicados inicialmente no extinto site CinemaScopio, de Kleber Mendonça Filho, e posteriormente no Jornal do Commercio (Recife). Resgatamos estes textos e, entre sexta-feira (19/4/2019) e domingo (21/4/2019), vamos publicá-los aqui. Acompanhe.
– publicado no site CinemaScópio em 13 de maio de 2002
CURITIBA (PR) – Se por um lado o sucesso de público assinalou, pela primeira vez, o Festival de Cinema, Vídeo e Cinema Digital (DCine) de Curitiba (FCVDC), os seminários que nortearam o Encontro dos Críticos e a homenagem à Paulo Emílio Sales Gomes moveram um passo firme para marcar nacionalmente o que pode tornar-se símbolo do evento curitibano: a discussão intelectual sobre cinema. O encontro já suscita nos participantes (e na direção) uma regularidade anual. Cogita-se, para a próxima edição, pautar seminários sobre a distribuição de filmes no país.
Mediado pela jornalista Maria do Rosário Caetano (colaboradora de O Estado de S. Paulo e da Revista de Cinema), o segundo encontro trouxe Ismail Xavier (crítico, ensaísta, e professor da Escola de Cinema da Universidade de São Paulo) para encabeçar o assunto A crítica cinematográfica na imprensa e a crítica universitária. O palestrante iniciou afirmando que é a subjetividade e a erudição pessoal que pauta a resenha nos periódicos, enquanto o tempo alongado é o que influencia os ensaios críticos universitários.
“Na idéia da instantaneidade do jornalista, existe o risco quando queremos que ele perceba, com agudez, o que a obra traz de importante. E, mesmo com erros, pelo imediatismo, é esse texto que imprimi tendências”. No caso da academia, Ismail destaca três aspectos: a temporalidade, permitindo ao acadêmico rever o passado com novos repertórios que, hoje renovados, o coloca diante de um novo olhar; o momento de solidão do crítico, na qual o autor não deve se isolar com o filme; e o momento do risco, quando o acadêmico confronta interesses pessoais com os métodos e sistemas dos quais é obediente.
FAZENDO UM CRÍTICO – No terceiro encontro, o crítico da Folha de S. Paulo, Inácio Araújo, palestrou sobre Como se forma um crítico de cinema no Brasil e deu partida distinguindo o cinéfilo do crítico: “O primeiro é atiçado pela paixão, o segundo, precisa ser frio e compromissado com a continuidade do olhar”. Inácio destacou que a formação pessoal desse profissional extrapola a acadêmica, visto que é sua história e experiência social que vai norteá-lo. Denize Araújo, PhD em Cinema e coordenadora da Especialização de Cinema da Universidade Tuiuti, no Paraná, coloca a produção, a crítica e o público cinematográfico dentro de um sistema único e, diz ela, o bom crítico não pode separar esses elementos. “Sua formação deve estar vinculada a todas as artes e seu trabalho deve suscitar crises, para provocar reflexão”.
Na homenagem a Paulo Emílio, o escritor e professor de cinema da Universidade de São Paulo, Jean-Claude Bernardet, usou seu discurso para desmistificar o lendário crítico paulista. Contemporâneo ao homenageado, Bernardet esclareceu que a famosa frase clichê de Emílio – “O pior filme brasileiro tem mais a nos dizer que o melhor filme estrangeiro” – funcionava como uma ação social e militante, num momento histórico, auxiliando a produção brasileira. “Esse texto nacionalista exacerbado ganhou oposições, mas Paulo Emílio não respondia porque não era isso que interessava, era sim deixar a frase trabalhando na cabeça das pessoas”.
Também participaram do encontro Alfredo Manevy, da revista Sinopse, Cléber Eduardo, da revista Época, Décio Pignatari, escritor e professor de comunicação, Hermes Leal, da Revista de Cinema, Nelson Hoineff, da revista Bravo! e Luiz Carlos Merten, de O Estado de S. Paulo. A convergência entre todos foi a de que Paulo Emílio não deve se resumir, hoje, àquela polêmica frase, e que sua produção, e de seus colegas contemporâneos, não se torne um modelo cego de critérios temporais.
Clique aqui para ler o que foi discutido no seminário #1 do “Encontro de Críticos” em Curitiba.
0 Comentários