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Festivais

“Bacurau” concorrerá à Palma de Ouro em Cannes

Kleber Mendonça Filho está no centro do mundo, de novo, agora ao lado de Juliano Dornelles

Por Luiz Joaquim | 18.04.2019 (quinta-feira)

– na foto acima, Udo Kier e Sônia Braga em foto de Kleber Mendonça Filho, 2019

No Palácio dos Festivais, em Cannes, França, há 24 degraus que levam aqueles que por ali passam sobre o tapete vermelho, em maio, a um lugar único na história do cinema mundial. Por lá, para concorrer ao prêmio máximo, passaram desde 1955 – quando o prêmio foi instituído (o festival é de 1946) – 14 diretores brasileiros defendendo seus longas-metragens.

Assim como Nelson Pereira dos Santos, Walter Hugo Khouri, Ruy Guerra, Cacá Diegues, Hector Babenco e Walter Salles, em 2019, na 72ª edição do Festival, o mais recente destes 13 realizadores que experimentou essa sensação de ser o centro do mundo do cinema, Kleber Mendonça Filho (a primeira foi em 2016 com Aquarius) vai experimentá-la por uma segunda vez.

Será em alguma data entre 14 e 25 de maio próximo, quando concorre na competição oficial pelo seu mais recente longa-metragem: Bacurau.

Mas o crédito da direção desta vez não está apenas com Kleber. Juliano Dornelles – diretor de arte em O som ao redor e Aquarius – assina a codireção de Bacurau tornando-se o 15º diretor brasileiro a concorrer a uma Palma de Ouro. Ao lado de Kleber e Juliano, mais uma vez estarão a produtora Emilie Lesclaux e a atriz Sônia Braga. Juntam-se ao time o ator alemão Udo Kier (Dançando no escuro; A sombra do vampiro) e, certamente, mais de uma dezena de integrantes da produção e do elenco deste que é, incontestavelmente, o filme brasileiro mais esperado do ano de 2019.

Kleber (e) e Dornelle, no set de “Bacurau”, 2018

Às 6h57 (hora do Brasil) de hoje o presidente do Festival de Cannes,  Pierre Lescure e seu delegado geral, Thierry Frémaux, encerram o anúncio de sua seleção oficial para 2019. Com Juliano e Kleber estarão disputando a Palma de Ouro nomes como Marco Bellocchio (Il traditore); os irmãos Dardenne (Le jeune Ahmed); Arnaud Desplechin (Roubaix, une lumière); Joon-ho Bong (Parasite – mesmo diretor de Okja; Mother; O Hospedeiro); Terrence Malick (A hidden life); Elia Suleiman (It must be heaven); Cristi Puiu; Jessica Hausner (Little Joe); entre outros, somando 19 filmes.

Também pelo Brasil, estará em Cannes, fora de competição pela Palma de Ouro, Karin Ainouz com seu A vida invisível, estrelado por com Fernanda Montenegro, Gregório Duvivier, Flávio Bauraqui.

Sobre Bacurau, pode-se dizer que tudo acontece numa pequena cidade do interior de Pernambuco, onde sua muito peculiar população recebe a visita de forasteiros e com eles a habitual tranquilidade fica ameaçada.

A pequena cidade fictícia, na verdade Barra, no município de Parelhas (RN), recebeu a equipe de mais de 150 pessoas do filme entre abril e maio do ano passado.

Ao apresentar o filme, Frémaux, com seu sotaque falou “bacurááúú” e o resumiu assim: “um filme nordestino na tradição de seus cangaceiros e extremamente político”.

POLÍTICA – Em 2016, por ocasião de Aquarius, Kleber e equipe se notabilizaram no tapete vermelho por expor – empunhando folhas de papel – que estava em curso no Brasil um Golpe de Estado. Fica a expectativa se teremos em 2019 um Lula Livre ou alguma outra denúncia igualmente grave, uma vez que o País, politicamente, habita hoje um cenário inacreditável há 3 anos.

ENQUANTO ISSO, NO BRASIL… – Na noite de ontem, o jornal Folha de S. Paulo publicou matéria assinada por Lucas Rezende relatando que Kleber Mendonça teve seu terceiro recurso negado pelo governo federal no caso que aponta presumível irregularidades na captação de recursos para o filme O som ao redor. Dessa forma, a Secretaria Especial de Cultura – no lugar do MinC – voltará a cobrar de sua produtora – a CinemaScopio – a devolução ao governo federal do valor de R$ 2,2 milhões.

De acordo com a matéria, caso não pague, a produtora não poderá participar de editais e projetos de lei de incentivo à cultura ligados à Secretaria Especial de Cultural.

O realizador ainda pode buscar a interferência do Tribunal de Contas da União, uma vez que, a partir do momento em que a cobrança chegar na produtora, Kleber teria 30 dias para cumprir com a cobrança do pagamento.

Em maio de 2018, o cineasta escreveu uma carta aberta ao então ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, sobre o assunto.

Kleber Mendonça está, neste momento, na França trabalhando na finalização de Bacurau.

Diretores brasileiros que, desde 1995, concorreram a Palma de Ouro por um longa-metragem desde 1955:

  1. Roberto Farias – Cidade ameaçada, 1960
  2. Lima Barreto – A primeira missa – 1961
  3. Anselmo Duarte – O pagador de promessas, 1962 (vencendor)
  4. Nelson Pereira dos Santos – Vida secas, 1963 – O alienista, 1970 – Amuleto de Ogum, 1975
  5. Glauber Rocha – Deus e o diabo na terra do sol, 1963 – Terra em transe, 1967 – O dragrão da maldade contra o Santo Guerreiro (1969)
  6. Walter Hugo Khouri – Noite vazia, 1965 – O palácio dos anjos, 1970
  7. Roberto Santos – A hora e a vez de Augusto Matraga, 1966
  8. Arnaldo Jabor – Pindorama, 1971
  9. Cacá Diegues – Bye Bye Brasil, 1979 – Quilombo, 1984 – Um trem para as estrelas, 1987
  10. Héctor Babenco – O beijo da mulher aranha, 1986 – Coração iluminado, 1998 – Carandiru, 2003
  11. Ruy Guerra – Kuarup, 1989 – Estorvo, 2000
  12. Walter Salles – Diário de motocicleta, 2004 – Linha de passe, 2008 – On the road, 2012
  13. Fernando Meirelles – Ensaio sobre a cegueira, 2008
  14. Kleber Mendonça Filho – Aquarius, 2016 – Bacurau, 2019
  15. Juliano Dornelles – Bacurau, 2019

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