Breve e primeira impressão sobre o Curta Taquary
Pelo seu troféu e sua postura, o Curta Taquary é a materialização do sentimento do audiovisual no Brasil
Por Luiz Joaquim | 27.04.2019 (sábado)
TAQUARITINGA DO NORTE (PE) – É a primeira edição que o CinemaEscrito acompanha o Curta Taquary, festival que acontece em Taquaritinga do Norte, PE – a 176 quilômetros do Recife. Uma falha de nosso site chegarmos tão atrasados para conhecer este evento cuja palavra mais pronunciada pelos participantes desta edição de 2019 (a de número 12) é “Resistência”.
Tal palavra – que inclusive dá nome ao troféu do festival – e o seu sentido têm sido bastante trazidos nos seminários, debates, apresentações e rodas de conversa em função da estúpida postura que o Governo Federal vem promovendo em torno de uma ideia de política pública para o audiovisual.
Mas a mesma palavra e sentido também podem ser aplicados ao espírito da equipe liderada por Alexandre Soares, Amanda Ramos e Devyd Ramos, responsáveis pela coordenação geral, curadoria e programação do Curta Taquary – estendendo-se, logicamente, por toda a dedicadíssima equipe técnica do festival.
Com a única sala de cinema da cidade – o CineTeatro Santo Amaro – em estado de degradação (alô prefeitura de Taquaritinga do Norte!), o Curta Taquary passou a realizar, há cerca de 5 anos, suas exibições na Praça Padre Otto Sailler, a principal praça pública da cidade.
Entre a Igreja da Matriz e o coreto do município é montada uma tela de cinema ladeada por caixas acústicas, amplificadores e um projetor digital NEC (modelo NP-PA622-U) sob a administração técnica de William Tenório (um dos diretores de outro festival vencedor no interior e Pernambuco – a Mostra Pajeú de Cinema).
A plateia é mesclada por convidados estrangeiros e de várias partes do país, além de nativos de Taquaritinga e dos distritos próximos. Para estes últimos, o Curta Taquary é a única alternativa no ano para acessar a atual produção cinematográfica brasileira e algumas estrangeiras tão inacessíveis ao resto do País, como os filmes colombianos 3 pies, de Giselle Geney Celis, e o chileno Amucha, Jésus Sánchez.
Voltando à palavra “Resistência” e ao seu sentido, era fácil aplicá-la na noite da última quinta-feira (25), quando o festival – desde que passou a acontecer na praça – parece ter recebido a maior quantidade de chuva num mesmo dia de exibição.
Foram preciso várias interrupções ao longo da projeção à noite, não por problemas técnicos, mas para a equipe reforçar a estrutura da tenda que protegia a plateia da chuva incessante e desafogar e desafogar a lona de um impressionante volume de água se acumulava ali em cima.
A persistência da produção em manter a projeção em curso e a paciência tranquila da plateia em permanecer nas sessões daquela noite (bem) molhada, e com temperatura média de 18 graus centígrados, até o fim revela não só o que há de resistência para que este festival exista, mas também esgarça o quanto os envolvidos entendem, com alegria, ser o cinema algo fundamental para o amadurecimento social e sensível da população do Agreste pernambucano.
Dessa forma, o Curta Taquary termina por fincar-se em 2019 como a materialização de uma ideia de resistência ao qual todos os profissionais do audiovisual no Brasil já estão cansados de discutir. E isto apenas para continuar existindo.
PARA ALEM DOS FILMES – É atraente a seleção de filmes desta edição, que mesclou curtas-metragens locais, estrangeiros e outros de todas as regiões do Brasil, passando por títulos premiados e outros não tão conhecidos.
O Curta Taquary também logrou a exibição de obras inéditas, como o novo trabalho de Rita Carelli, A era de Lareokotô (projetado ontem, 26, pela primeira vez no Brasil), e o mais novo Marcelo Gomes, exibido no 69. Festival de Berlim, Estou me guardando para o carnaval chegar – a ser projetado hoje à noite, encerrando o festival com, também, uma homenagem ao ator paraibano Fernando Teixeira.
Mas, para além dos filmes, o festival montou uma diversa programação de oficinas e debates cuja pertinência é própria de qualquer grande festival de cinema (e que, infelizmente, alguns festivais da capital, com orçamento grande, não contemplam).
Entre os temas debates por profissionais de diversas regiões do País estão Cinema e educação; Identidade étnico-racial; Audiovisual na TV: um breve panorama; Caminhos e processos curatoriais cinematográficos; e Da literatura ao cinema: integrando linguagens, sem falar no lançamento de livros correlatos.
Entre os nomes envolvidos: Raimundo Carrero, Ronaldo Correia de Brito, Pedro Maciel Guimarães (SP), Carla Francine; Catarina Doolan (DF), Henrique Dídimo (CE), Kátia Klock (SC), e este que aqui escreve, Luiz Joaquim, Coordenador do bacharelado em Cinema e Audiovisual das Faculdades Integradas Barros Melo (AESO) e editor do CinemaEscrito, entre outro igualmente empenhados em sua contribuição ao Curta Taquary.
Todas as atividades por aqui incluem, também, a presença de um intérprete de libras. Pode parecer um detalhe, mas não é. É mais do que isso. A resistência aqui é, enfim, pelo respeito.
– Viagem a convite do Festival
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