23. Cine-PE (2019) – noite 4 (curtas)
A onda foi de cinema fantástico, horror e suspense entre os curtas na 4ª noite do 23º Cine-PE
Por Delles Sassi | 02.08.2019 (sexta-feira)
– com informações da assessoria do festival. Acima, frames de Coleção; Guará; Casa Cheia e Só Sei Que Foi Assim.
Sem dúvida o que mais encanta no cinema é sua capacidade capaz de nos fazer imergir em mundos de narrativas fantásticas, que por mais ficcionais que sejam tornam-se críveis aos olhos dos espectadores. Na noite de ontem (1º), o público do Cine PE 2019 assistiu nas duas mostras competitivas de curtas-metragens à filmes com propostas imagéticas que carregam está intenção, de gerar uma imersão nas possibilidades da realidade fabulosa proposta por filmes.
Abrindo a sessão na sala do cinema São Luiz (Recife), o curta Coleção foi o único a integrar a Mostra Competitiva de Curtas-metragens Pernambucanos da noite. Com direção da dupla André Pinto e Henrique Spencer, Coleção narra um dia incomum na vida de Júlio, que choca-se com eventos sobrenaturais ligados a três enigmáticos personagens presentes em uma fotografia antiga que Júlio pegou da casa de seu avô. Para pôr em tela este ocorrido paranormal que afeta diretamente a vida do protagonista, a direção do filme cria um elemento interessante que guia o arco narrativo de suspense atrelado a mais fotografias – criando também um aspecto próprio na direção de arte que compõe a realização. Coleção, acaba por conseguir neste elemento a atenção dos que assistem, suspende a tensão do mistério em um bom momento para que, enfim, revele as consequências do evento que assombra Júlio.
Logo após, a ficção ganhou traços de horror com o curta Guará, vindo de Goiás no comando de Fabrício Cordeiro e Luciano Evangelista, filme que iniciou a sessão da Mostra Competitiva de Curtas-metragens Nacionais. No curta, um lobisomem surpreende a rotina dos moradores de uma cidade [Goiânia] e enquanto dilacera várias vítimas indiscriminadamente, alguns personagens são brevemente apresentados, no entanto, a história não deixa de forma sucinta esses arcos, expondo-os apenas como peças futuras no rastro de corpos estripados pelo homem metade lobo. Percebe-se o cuidado na produção pelos detalhes bem trabalhados da maquiagem do ser mitológico, mas a falta de uma narrativa mais consistente quebra um pouco o ritmo que a obra busca encontrar, desfocando, de certo modo, suas metáforas.
O pernambucano Casa Cheia, de Carlos Nigro, foi a segunda exibição da sessão. Usando de elementos do terror o curta de Nigro traz um loop na noite de sua protagonista, uma jovem que ao acordar em uma crise asmática passa a ser atormentada pelo fantasma de um garotinho. O conjunto da direção de arte, efeitos visuais, trilha sonora e fotografia ganham peso na construção do clima do filme, que pretende causar a mesma sensação de sufoco no espectador. Casa Cheia, além de expor o terror, fala nas entrelinhas sobre esquecimento e abandono, e o medo que muitos possuem de cair em um desses fatídicos efeitos da vida.
Moderando a tensão dos filmes exibidos, o delicado Vinnilis Frutiferis, dirigido por Victorhugo Passabon Amorim, do Espírito Santo, veio à tela do cinema São Luiz para contar a inusitada história da invenção das árvores cujo frutos são discos de vinil. Aqui, a ficção é atada ao olhar poético de Victorhugo, que ao narrar a ida de um jornalista até o cientista inventor da planta geneticamente modificada para produzir os discos, um ancião libanês, a fim de escrever uma matéria sobre a incrível criação, nos coloca numa jornada de conhecimento que vai desde a inspiração aos demais frutos que surgiram dela. A poética presente em Vinnilis Frutiferis causa certo sentimentalismo romântico, visto que o jornalista faz uma espécie de diário de sua viagem dedicado a sua amada, contando-lhe todas as especificidades que a árvore musical é capaz, unindo ‘natureza e arte’. A história é construída dentro de uma realidade completamente impensada, mas consegue em seu universo tornar-se real.
E encerrando a sessão competitiva dos curtas nacionais, a animação de Giovanna Muzel, Só Sei Que Foi Assim, vinda de Santa Catarina falou sobre desmotivação e encorajamento de um jeito bastante leve e divertido através da personagem Júlia, que sente as partes de seu corpo se despedaçando diante de sua rotina. A animação é resultado do projeto de conclusão de curso da realizadora [na Universidade Federal de Pelotas], pode-se notar que Giovanna Muzel junto a sua equipe de animação, composta por Nadine Lannes, Ligia Torres, Jacson Piovesan, Jefferson Nascimento e Ana Paula Ambrosano, buscou criar na narrativa características próprias do mundo onde Júlia e seu amigo Santiago vivem, brincando com as diversas perspectivas que o gênero propicia.
Hoje (2), o festival dá continuidade a sua programação a partir das 19h30, com a exibição do curtas Epigramas, S/N (Sem Número), Tommy Brilho, Vivi Lobo e o Quarto Mágico, À Margem do Universo, 3x Melhor, Lembra e O Mistério da Carne. Em seguida, o Cine PE exibe o documentário em longa-metragem Espero Tua (re)volta, de Eliza Capai.
Todas as sessões são gratuitas com retirada de ingressos na bilheteria do cinema.
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