47º Gramado (2019) – abertura
Edição do celebrado festival promete muita intensidade artística e política, a começar por “Bacurau”
Por Luiz Joaquim | 15.08.2019 (quinta-feira)
– na foto de Edson Vara/Agência Pressphoto (divugação), Sônia Braga, hoje (15) em Gramado.
Já tem um tempo desde que o CinemaEscrito.com esteve na Serra Gaúcha cobrindo o mais conhecido festival de cinema do Brasil. Foi em 2013, na edição 41, que nosso site acompanhou o desfile de seus filmes em competição e fora de competição. A propósito, naquele ano, foi um pernambucano que saiu de lá com o título de melhor longa-metragem: Tatuagem, de Hilton Lacerda, que ainda trouxe os Kikitos de ator, trilha sonora e prêmio da crítica.
Amanhã (16), o CinemaEscrito.com volta ao Festival de Cinema de Gramado, em sua 47ª edição, para apresentar aos leitores uma leitura crítica sobre o que o festival reservou ao País como recorte do contemporâneo cinema brasileiro.
Nestes seis anos que separam a última e a atual cobertura, é curioso observar que os filmes de ligação – o que encerrou a 41ª edição e o que abrirá às 18h de amanhã a 47ª edição – vêm de Pernambuco.
Desde 2012, primeiro com O som ao redor e depois com Aquarius (2016), que Gramado tornou-se o portão de entrada no Brasil dos filmes do aclamado Kleber Mendonça Filho. Ao lado de Juliano Dornelles, ambos realizadores apresentam agora Bacurau, em caráter Hors-concours. Aquele que é, sem exagero, o mais esperado filme brasileiro do ano.
Isso em parte pelas premiações no exterior (Prêmio do Júri em Cannes; melhor filme em Munique, além de, certamente, alguns outros em breve – participa do Festival de Toronto e nos representa na competição do Prêmio Goya espanhol); e também em parte pelo prestígio conquistado por Kleber Mendonça (mais conhecido que Dornelles pelo público não especialista) ao longo dos últimos 15 anos como cineasta. Prestígio que é fruto de sua competência generalizada no que diz respeito ao cinema (incluindo a crítica e a curadoria).
Antes dos gaúchos conhecerem a altivez dos moradores do fictício município de Bacurau, Gramado oferece às 16h, na rua coberta onde se estende o longo tapete vermelho em frente ao Palácio dos Festivais, uma apresentação da Orquestra Sinfônica da cidade. No repertório, temas cinematográficos que vão de Os vingadores até Cantando na chuva.
A CARAVANA BACURAU – Logo depois, a enorme comitiva de Bacurau – uma das maiores que o festival já recebeu – passa pelo tapete vermelho. Além de Sônia Braga, confirmaram presença Bárbara Colen, Ingrid Trigueiro, Wilson Rabelo, Suzy Lopes, Brian Townes, Thardelly Lima, Antônio Saboia, Thomás Aquino e Eduarda Samara Assis, entre outras duas dezenas de integrantes da produção.
Será difícil, após a pancada certeira com a qual Kleber e Dornelles atingirão a plateia pelo filme deles, esta mesma plateia conseguir se concentrar na programação imediata que seguirá à projeção de Bacurau. Gramado agendou, às 20h45, já dois títulos em competição. O curta-metragem gaúcho A pedra, de Luli Gerbase (eleito melhor filme no 23º Cine-PE, há 13 dias) é um deles.
Há também sessão de O homem cordial, de Iberê Carvalho, que abre a competição de longas-metragens. Camargo anteriormente contemplado com quatro Kikitos (ator, atriz coadjuvante, direção de arte e prêmio da crítica Abraccine), em 2015, pelo seu O último cine drive-in. Acompanhando Camargo na sessão de amanhã, estão os atores e músicos Paulo Miklos e Thaíde, entre outros.
HOMENAGENS – Figura central na chamada “Retomada do Cinema Brasileiro”, Carla Camurati será a primeira homenageada desta edição, no sábado (17). Com o seu Carlota Joaquina: princesa do Brazil (1994) jogou luz no fim do túnel após os nebulosos iniciais anos 1990, sob a extinção da Embrafilme. Considerando os atuais tempos também nebulosos para o audiovisual, não será surpresa se Camurati trouxer uma fala politicamente valiosa em seu discurso de agradecimento.
As homenagens do Festival de Cinema continuam na segunda-feira (19), quando Lázaro Ramos receberá o Troféu Oscarito. Na quarta-feira (21), será a vez de Mauricio de Sousa receber o Troféu Cidade de Gramado e, na sexta-feira (23), o ator argentino Leonardo Sbaraglia receberá o Kikito de Cristal.
EWALD FILHO – Ainda na noite de abertura serão homenageados os curadores do festival Eva Piwowarski e Rubens Ewald Filho, falecidos respectivamente em janeiro e junho deste ano. Antes da exibição especial de Bacurau, serão entregues placas em homenagem aos seus trabalhos como curadores de Gramado. O marido da curadora argentina, Daniel Gonzalez, receberá a distinção. A placa de Rubens será recebida por um integrante da produção do festival.
COMPETIÇÃO – Junto a A pedra, estão competindo no 47º Gramado outros 13 curtas. Entre eles, dois pernambucanos. Marie, do incansável e talentoso Leo Tabosa, sobre uma pessoa que retorna ao Sertão para enterrar o pai, como uma mulher trans. O filme tem a fotografia de luxo do cearense Petrus Cariry e no elenco o mineiro Rômulo Braga. Já O balido interno, de Eder Déo, tem origem no Agreste pernambucano. Acompanha Joana, uma vendedora de ervas, e o seu peculiar bicho de estimação: um bode.
Competem também Teoria sobre um planeta estranho (MG), de Marco Antônio Pereira; Menino pássaro (SP), de Diogo Leite; O véu de Amani (DF), de Renata Diniz; A ética das hienas (PB), de Rodolpho de Barros; A mulher que sou (PR), Nathália Tereza; Sangro (SP), de Tiago Minamisawa, Bruno H Castro e Guto BR; Um tempo só (SP), de Lane Alves; E o que a gente faz agora? (BA), de Marina Pontes; Apneia (PR), de Carol Sakura e Walkir Fernandes; Amor aos vinte anos (SP), de Felipe Arrojo Poroger e Toti Loureiro; e Invasão espacial (DF), de Thiago Foresti.
Entre os longas, além de O homem cordial, aparecem (entre os brasileiros): Hebe – A estrela do Brasil (SP), de Maurício Farias; Pacarrete (CE), de Allan Deberton; Raia 4 (RS), de Emiliano Cunha; Veneza (RJ), de Miguel Falabella, com Carmen Maura; Vou nadar até você (SP), de Klaus Mitteldorf; e 30 anos blues (SP), de Andradina Azevedo e Dida Andrad.
Os sete estrangeiros são A Son of man – La maldición del tesoro de Atahualpa (Equador), de Jamaicanoproblem; Dos Fridas (México e Costa Rica), de Ishtar Yasin; El Despertar de las Hormigas (Costa Rica); de Antonella Sudasassi Furnis; En el pozo (Uruguai), de Bernardo e Rafael Antonaccio; La forma de las horas (Argentina), de Paula de Luque; Muralla (Bolívia), de Rodrigo Alfredo Alejandro Patiño Sanjines; e Perro Bomba (Chile), de Juan Caceres.
E QUEM JULGA? – Neste 2019, Gramado convidou para avaliar sua mostra competitiva de longas nacionais o jornalista e cineasta Pedro Bial (que será o presidente de honra), o diretor André Ristum, o crítico e organizador do Festival Independente de Buenos Aires, BAFICI, Álvaro Arroba, a atriz Claudia Ohana e a produtora Mariza Leão.
Os integrantes do Júri de Longas Estrangeiros são o fotógrafo e diretor mexicano Bruno Santamaría, o diretor chileno Fernando Lavranderos, a jornalista Léa Teixeira, a jornalista e cineasta Lígia Walper e a atriz Vivianne Pasmanter.
O Júri da Crítica terá os seguintes integrantes: André Kleinart, Andrés Nazarala, Luiz Joaquim (editor deste CinemaEscrito.com), Neusa Barbosa e William Silveira. Os Curtas Brasileiros serão avaliados pelo diretor Beto Rodrigues, a animadora e ilustradora Rosana Urbes, a atriz Thaila Ayala, o professor Wagner da Rosa e a cineasta Yasmin Thayná.
Será intenso. E toda essa intensidade você pode acompanhar por aqui, pela nossa cobertura.
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