Gaúcha Laura Linn tem dupla estreia em Hollywood
Curta produzido e atuado por ela compete em festival em LA e 1º longa em que atua entra em cartaz nos EUA
Por Luiz Joaquim | 08.10.2019 (terça-feira)
A partir do domingo (13), um pedaço de Hollywood – mais precisamente no Harmony Gold Theater – será tomado por brasileiros, com o nosso cinema. Por cinco dias, diversas das mais novas produções brasileiras (e não apenas brasileiras) exibem no 12º Los Angeles Brazilian Film Festival. Projeta lá, inclusive, a ficção pernambucana Foi no carnaval que passou, de Leo Leite, e o documentário Alceu Valença: Na embolada do tempo, de Paola Vieira. Há ainda a refilmagem de Boca de ouro, com direção de Daniel Filho; além dos já comentados pelo CinemaEscrito Pacarrete, de Allan Deberton, e Veneza, de Miguel Falabella, entre outros.
Mas queremos destacar aqui um pequeno filme que, em menos de sete minutos dá seu recado, e assim conseguiu ser incluído na competição internacional de curtas-metragens do festival. Chama-se Double blind (EUA/Afríca do Sul, 2019) e teve produção da catarinense Ana Silvani com a gaúcha Laura Linn; com esta última atuando sob a direção (e também montagem) de Pieter du Plesses.
De passagem pelo Brasil, enquanto cuida da saúde, Linn contou ao CinemaEscrito sobre a origem do projeto e do contexto de sua feitura. Foi gravado em apenas um dia, um domingo, na África do Sul, um dia após encerrar as filmagens por lá de The Furnace, longa-metragem em que atua e, que conforme o site IMDB, tem data de estreia nos EUA já para a próxima terça-feira (15).
Criada a partir de uma história real, Double blind acontece inteiramente numa mesa de bar, à meia luz, num jogo de poker – daí o bom título do filme, que poderia ser traduzido como “Dupla aposta forçada”, quando é preciso pagar antes para ver as cartas que virão.
Lá no jogo estão Keith (Luthuli Dlamini) e Liz (Bonnee Lee Bouman). O primeiro tenta ser convencido pela segunda a comprar uma criança, uma vez que ele, Keith, há 20 anos, esqueceu em seu carro uma menina que havia adotado e nunca mais a viu. A certa altura, a jovem Pam (Linn) une-se aos dois no poker escondendo um plano de vingança.
Em Double blind, du Plesses (que também é fotógrafo, mas deixou a cinematografia aqui ao cargo de Dino Benedetti) é preciso nos enquadramentos que estabeleceu para seu filme. E era uma precisão necessária uma vez que, na edição que fez, dividiu o quadro em até três partes, de modo que os rostos dos atores estão em igual destaque. O truque visual deixa o espectador livre para escolher onde direcionar o seu olhar, durante os rápidos e tensamente crescentes diálogos do filme.
A estratégia aqui da tela dividida é interessante porque no contexto do poker, o blefe é uma ferramenta importante, e nessa breve história somos nós espectadores que decidiremos em quem acreditar. Ao menos até a chegada de Pam no cenário.
Linn tem participação breve, mas marcante e trabalha sua performance sob a ideia de uma espécie de ira contida que finalmente encontra o prazer da vingança. Bem defendido pelo trio de atores, o bom texto de Double blind soa curiosamente como apenas um pedaço de um filme maior. Como se de um longa-metragem fosse e estivéssemos vendo o seu final, inteiramente resolvido numa cena, numa rodada de poker..
O curta-metragem chama a atenção para a estatística real de que, por ano, 38 crianças morrem sufocadas pelo calor, esquecidas dentro de automóveis.
THE FURNACE – Laura Linn estudou cinema em Porto Alegre mas sedimentou sua formação nos EUA. Passou por lugares sagrados por lá no campo da atuação como o New York Film Academy (NYFA), na Universidade da Califórnia (UCLA), e na The American Academy of Dramatic Arts. Esta última uma entidade norte-americana no campo da atuação, cujos alunos que passaram por lá somam já 110 Oscars pelas suas performances no cinema.
Foram seis anos residindo por lá enquanto Linn estudava e, agora, após conseguir o Visto de Talento Extraordinário, que a autoriza a trabalhar em qualquer produção audiovisual, vai voltar aos EUA assessorada por um agente.
Em 2010, ainda estudante em Los Angeles, ficou amiga de uma atriz sul-africana. Anos depois, Linn recebeu uma mensagem de um produtor, indicado pela amiga da África, lhe convidado para estar num longa-metragem. “Achei estranho. O que esse senhor quer comigo? Não pode ser verdade. Mas era”, lembra a atriz.
Após alguns contatos e o produtor conhecer seu portfolio, ela foi convidada a protagonizar The furnace, dirigido pelo também sul-africano Darell Roodt. Desconhecido no Brasil, Roodt marcou seu terreno em Hollywood em 2005, quando concorreu ao Oscar de melhor filme de língua estrangeira pelo longa Yesterday (2004).
The furnace é o nome de uma real maratona por mais de 240 quilômetros na maior reserva animal do mundo, na África. Lá se corre numa selva cercada por búfalos, leões, leopardos, elefantes, e por aí vai.
Determinada a se preparar para encarnar uma corredora que fica viúva e decide encarar a maratona africana para expurgar o luto, Linn voltou ao Brasil e emagreceu 16 quilos em três meses, porque o filme seria rodado em 2017. O plano no Brasil era ficar na forma necessária. Forma que ainda mantém.
As gravações atrasaram um ano, até que Linn recebeu uma mensagem da produção. “E eu nunca vou esquecer do dia em que acordei com esse e-mail informando que tinham decidido por outra protagonista [no caso, a americana Jamie Bernadette]”, conta a gaúcha. “Eles queriam uma atriz mais conhecida. Quando soube disso, meu chão sumiu. Mas a coisa acabou sendo contornada e o Darrell, que um baita diretor, reconstruiu o roteiro inteiro e eu atuei num outro personagem também importante”, explicou.
Tanta história acabou virando um livro. Laura resolveu contar tudo isso em detalhes em Into the furnace, brochura pelo qual resgata sua trajetória de formação até chegar ao filme de Darrell.
Que The furnace seja comprado por alguma distribuidora brasileira, assim os conterrâneos de Laura Linn talvez possam conhecer, numa sala de cinema, o seu talento e sua determinação.
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