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Críticas

Zumbilândia: Atire Duas Vezes

O que era em 2009 é de novo em 2019. Mas mudou o mundo e o prestígio dos atores. No que isso implica?

Por Felipe Berardo | 23.10.2019 (quarta-feira)

Há dez anos, entrava nos cinemas Zumbilândia que, por certa facilitação em surgir bem no meio da popularização dos filmes e séries de zumbis, conseguiu alcançar um certo status de obra cult por utilizar convenções do gênero para o humor, ao mesmo tempo que ainda lidava bem com questões dramáticas, quase como uma versão estadunidense de Todo mundo quase morto. Esse exato valor adquirido com o passar de uma década finalmente possibilitou uma sequência que chega amanhã (24) às telas grandes com o título Zumbilândia: Atire duas vezes (Zombieland: Double tap, EUA, 2019).

O diretor, Ruben Fleischer (Zumbilândia, Venom), retorna junto aos roteiristas e atores principais para conceber uma nova instalação no engenhoso mundo já idealizado pelo original com os mesmos personagens carismáticos, adicionando não muito mais que o necessário para justificar um novo filme. Essa familiaridade com o cenário e com os personagens que tenderá a agradar fãs, no entanto, é exatamente o maior limitador da sequência, visto que a imaginativa fabricação do universo e a ignorância inicial sobre a natureza do elenco era um dos maiores atrativos presentes no original. Tudo aqui parece receber apenas pequenos aditivos.

Esses dois fortes elementos na primeira versão, em particular, não parecem ter recebido interesse suficiente aqui para ir além de uma fórmula um tanto burocrática quanto a expandir ideias e confrontar expectativas do público. Ainda há valor e entretenimento a ser encontrado nas interações entre os atores – especialmente Emma Stone e Woody Harrelson, que trazem um carisma magnético reprisando seus papéis já definidos -, mas muitas ideias reutilizadas parecem cansadas como, por exemplo, um prêmio conferido ao realizador da melhor morte de um zumbi ou as peculiares regras autoimpostas pelo personagem de Jesse Eisenberg para segurança e sobrevivência num mundo tão violento.

Isso dito, há algumas ideias recicladas que são retomadas de maneira mais inspirada, geralmente na forma de referências a acontecimentos da primeira versão como a morte peculiar de Bill Murray que rende duas das melhores piadas do filme, uma delas no formato de cena pós-créditos que torna-se particularmente hilária após o cansaço devido a um terceiro ato que torna-se majoritariamente desinteressante, parecendo servir apenas como uma resolução burocrática para os conflitos que resolvem-se através de uma longa sequência com partes cansadas de ação e de drama pouco desenvolvido.

Já no que se trata do estilo visual do filme, o diretor de fotografia Chung-hoon Chung remete muito ao original com uma lógica hiperestilizada, que por sua vez já parecia influenciada pelo diretor de Todo mundo quase morto, Edgar Wright. As imagens são repletas de adições digitais com efeitos especiais, particularmente chamando atenção os textos incluídos na composição com o propósito de desconstruir a diegese presente na realidade do filme.

Todas essas imagens construídas de maneira propositalmente artificial são acompanhadas por uma trilha sonora composta por músicas fortemente impregnadas na cultura popular que trazem ainda mais à tona essa quebra e desconstrução diegética, algo que fica logo claro através dos créditos iniciais passados ao som de Enter sandman da banda Metallica, enquanto os protagonistas matam zumbis indiscriminadamente em câmera lenta com o jorrar de sangue renderizado por computação gráfica.

Novamente, no entanto, mesmo nesse aspecto audiovisual formalista, parece que as ideias já imaginadas para o original são repetidas aqui sem acrescentar muito ao que já foi apresentado dez anos atrás.

Já quanto às ideias novas que aparecem aqui, essas variam na capacidade de gerar interesse do público. Enquanto algumas mostram-se mais inspiradas como a interação com uma dupla idêntica ao duo de Woody Harrelson e Jesse Eisenberg ou a visita do grupo principal a um museu dedicado a Elvis Presley, outras porém parecem simplesmente faltar com criatividade como, por exemplo, o surgimento de uma espécie de zumbi mais forte que os comuns que é apresentado como uma das forças principais causadoras de conflito no longa.

Ao final, é definitivamente impressionante que com esse passar do tempo quase toda a equipe original tenha retornado para um projeto tão despretensioso que pareça não buscar muito mais que ser uma sequência divertida, mesmo após mudanças consideráveis nas trajetórias de carreira de todos os envolvidos. A impressão que fica, no entanto, é que essa retomada de condições e de envolvidos acaba por restringir as possibilidades do novo filme, o prendendo ao que já foi feito em 2009 e impedindo que ambições maiores se apresentem no projeto.

 

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