27º Festival des 3 Continents (2005), Berliner
Diretor do documentário das ‘ceguinhas cantadeiras’ fala [2005] de novo filme
Por Luiz Joaquim | 30.11.2019 (sábado)
– texto publicado originalmente em novembro de 2005 no jornal Folha de Pernambuco.
NANTES (FR) – Está para nascer mais um inquietante filme brasileiro. A primeira exposição pública a respeito desse projeto aconteceu na tarde de ontem em Nantes. Trata-se do novo trabalho de Roberto Berliner (diretor do documentário A pessoa é para o que nasce). O cineasta está na França, junto a Rodrigo Letier, da produtora TV Zero, participando do “Produire Au Sud”, espécie de curso dentro do “Festival des 3 Continents” para desenvolvimento administrativo e artístico de um projeto cinematográfico em andamento. Junto a outras sete duplas (do Chile, México, Peru, Singapura, Tailândia, Líano e Malásia), Berliner e Letier são os únicos do Brasil.
O projeto deles chama-se A senhora das imagens, que vai experimentar chegar perto da fronteira entre o que é arte e o que é loucura. O ponto de partida é a história de uma alagoana, a Dra. Nise da Silveira (falecida na década de 1990). Foi por ela que nos anos 1950 o Brasil viu acontecer uma revolução no meio das artes plásticas. Por intermédio da psicóloga, um museu de São Paulo promoveu uma exposição de talentosas pinturas feita por esquizofrênicos que eram desumanamente maltratados em sanatórios.
Num vídeo de apresentação para produtores europeus, imagens da Dra Silveira (extraídas do filme “Imagens do Inconsciente”, de Leon Hirzerman), resgatavam seu depoimento lembrando que por conta desse trabalho, ela foi convidada a expor em Paris e em Zurique, em 1957, no 2º Congresso Mundial de Psiquiatria. Com essa vitrine, Silveira trouxe a tona uma questão velada na medicina brasileira de então: o tratamento de seus doentes mentais.
Letier, entusiasmado, conta que o nervo central da ficção será a linha que separa loucura da arte. “Apesar da inegável qualidade das pinturas, a própria Dra. Nise não gostava de chamar o trabalho dos pacientes de arte, mas apenas de ‘expressão”. O filme deverá ser rodado em 35mm, com realização prevista para 2006. A equipe ainda não tem o orçamento fechado e a apresentação no “Produire Au Sud” poderá servir como um bom empurrão para o aporte de patrocinadores estrangeiros.
* O repórter viajou pela Fundaj e com apoio da Prefeitura de Nantes.
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