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Festivais

3. Mostra Sesc (2019) – Cinema Etnorracial

Mostra promove debate em busca de um autêntico cinema negro

Por Luiz Joaquim | 05.11.2019 (terça-feira)

– na foto de Luiz Joaquim, Teddy Falcão e Raphael Gustavo da Silva (d).

PARATY (RJ) – Um debate que só cresce em sua pertinência e necessidade tomou o auditório da Casa de Cultura deste município ao final da tarde de ontem (4): o “cinema etnorracial”. Tendo como debatedores dois realizadores que apresentam seus curtas-metragens nesta 3a Mostra Sesc de Cinema – Teddy Falcão (de Francisco, do Acré) e Raphael Gustavo da Silva (de Lili`s hair, de Goiás) –, o assunto iniciou por uma observação provocadora de Teddy.

“Se olharmos para um filme feito por índios e um feito por não-índios a respeito de índios, vamos diferenciá-los rapidamente um do outro. Isso porque a maneira como o índio olha para a sua própria vida é muito mais delicada e mesmo inacessível ao Branco”.

Já sobre o cinema negro que se produz atualmente, Teddy destaca que entre dez curtas-metragens que se vê, sete ou oito focam o racismo enquanto só dois atentam para aspectos da cultura afro-brasileira. O diretor não quis na afirmação condenar o primeiro caso, apenas pontuou essa discrepância quando as duas abordagens merecem igual atenção.

O cineasta rio-branquense também trouxe um aspecto relacionado à indústria audiovisual e como ela tem adequado a cultural negra em termos de, na verdade, ser apenas mais um produto rentoso dentro da estrutura capitalista.

“Quando vejo sucessos hollywoodianos ganhando sequências, como Pantera negra 2 [estreia em 2022], ou Um príncipe em Nova Iorque [2020], ou Bad Boy para sempre [2020] e Bad boy 4 [2021], eu só penso em #blackmoney. Ou seja, eles simplesmente trocam o personagem branco por um personagem preto”. Destacou, criticando uma espécie de “surfada” na onda que a indústria se apropria.

Teddy revela que não se furtará de ver esses filmes, porque tem interesse, mas gostaria de ver outras representações alcançando grandes plateias. Raphael pegou a fala daí e ressaltou que um problema, a partir desse aspecto, está relacionado à difusão de filmes mais autorais e verdadeiramente preocupados com a identidade negra. “Mas os dois tipos de cinematografia têm sua importância nos dias de hoje, porque deve criar um tipo de reconhecimento com o jovem espectador negro que não existia até então”.

FILME – A rainha Nzinga chegou, de Junia Torres e Isabel Casimira Gasparino, teve sessão de destaque, às 20h ontem, no Cinema da Praça. O longa-metragem nos trás o contexto de uma entidade africana – a Rainha Nzinga – a partir da apresentação de três gerações de rainhas ativas na tradição cultural-religiosa do Congado no Brasil.

Numa segunda parte do filme, há a visita ao Congo feita pelos descendentes da rainha da Guarda de Moçambique e Congo Treze de Maio de Nossa Senhora do Rosário (em Minas Gerais) que lá no outro continente apura as semelhanças e diferenças entre as duas culturas (africana e brasileira), incluindo também uma busca por outras referências históricas da mítica rainha.

Mesclado com algumas imagens de arquivos da própria Guarda, A rainha Nzinga chegou revela-se um documentário de pouca ousadia e certo tradicionalismo em sua forma. Entretanto, ele atrai a partir da exposição de um universo carinhoso entremeado pela crença de uma matriz religiosa africana. Algo tão pouco representado pelo nosso cinema.

*Viagem a convite da Mostra

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