27º Festival des 3 Continents (2005) Nantes, FR
Resgatamos cobertura de um especial festival na França que revela o cinema da Ásia, África e A. Latina
Por Luiz Joaquim | 28.11.2019 (quinta-feira)
– acima, em foto analógica de Luiz Joaquim, complexo do Katorza em Nantes (FR), em 2005. Um dos espaço que recebe o Festival des 3 Continents
No ano de 2005 fomos convidados pela prefeitura de Nantes (FR), junto a Prefeitura da Cidade do Recife numa parceira com a Fundação Joaquim Nabuco, a conhecer o Festival de Trois Continents (F3C).
Dedicado exclusivamente a apresentar a Europa o que há de mais recente e inovador na produção cinematográfica africana, asiática e latino-americana, o já então tradicional festival dava partida no novembro de 2005 a sua 27ª edição.
Junto a programação de filmes, promovia também o projeto Produire au sud que, entre outras coisas, objetivava aproximar produtores e realizadores dos três continentes a possíveis financiadores internacionais, principalmente na Europa.
A missão na viagem era não apenas conhecer o F3C, mas tentar viabilizar um recorte do evento para promovê-lo no Recife, assim como trazer o Produire au sud ao Brasil pela primeira vez. Coisa que aconteceu em abril de 2006.
Da programação de filmes, foram exibidos no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco e no Cine Apolo (Recife) – entre 10 e 13 de abril – seis títulos selecionados pela nossa curadoria. Já do seminário Produire au sud trouxemos ao Recife dois especialistas franceses (Elise Jalladeau e Pierre Menahen) e um argentino (Gualberto Ferrari). Contamos também com a paulista Sarah Silveira. Todos participaram de uma programação intensa na Fundação Joaquim Nabuco – entre 7 e 10 de abril – com produtores e diretores previamente selecionados pela Coordenação de Cinema da Fundaj com os convidados internacionais para participarem de uma preparação e um pitching
Os realizadores, e seus respectivos projetos, foram: Bestiário (PB), de Carlos Dowling; A canção do lagarto preto (PE), de Camilo Cavalcante; Condomínio Jacqueline (SP), de Roberto Moreira; Corpo presente (SP), de Marcelo Toledo; Des Norteados (ES), de Gustavo Morais; Estômago (PR), de Marco Jorge; KFZ-1348 (PE), de Marcelo Pedroso e Gabriela Mascaro; Teste (SP), de Rubens Rewald. Mais detalhes, clique aqui.
Durante o festival em Nantes, em novembro de 2005, aproveitamos para produzir também alguns textos com impressões sobre aquela 27ª edição do F3C. A produção foi veiculada no jornal Folha de Pernambuco. Resgatamos quatro desses textos e estamos publicando aqui no CinemaEscrito o primeiro deles hoje (28/11/2019) e o último no domingo (1./dez), 14 anos após o encerramento do 27º F3C.
Acompanhe.
– x – x – x –
– texto publicado originalmente em 22 de novembro de 2005 no jornal Folha de Pernambuco.
NANTES (FR) – Configura-se num prazer singular entrar numa sala de cinema e assistir um filme do qual mal se sabe sua nacionalidade e, ao fim da sessão, descobrir que ali foi projetada uma obra de arte. Em tempos de marketing e mídia exacerbada circundando o mercado cinematográfico, este prazer é cada vez mais raro. Festivais como os de Cannes, Berlim e Veneza, causam alvoroço na mídia especializada do mundo inteiro, entre outro motivos, por proporcionar tais “descobertas” mas, ainda nesses eventos sabe o que se esperar uma vez que ali são reunidos dezenas de cineastas já consagrados.
Talvez a mais surpreendente mostra nesse sentido seja o Festival dos 3 Continentes (F3C), que inicia hoje (22/11/2005) sua 27ª edição em Nantes (França), seguindo até o próximo dia 29. Desde que foi criado, em 1979 pelos irmãos Philippe e Alain Jalladeau, o evento vem ganhando cada vez mais prestígio no planeta por apresentar filmes de diretores iniciantes (ou não) oriundos da África, Ásia e América Latina. Neste ano, o leitor da Folha de Pernambuco poderá acompanhar o F3C em cobertura exclusiva pela primeira vez no Norte/Nordeste.
Para se ter uma idéia dos nomes ‘lançados’ pelo Festival em outras edições basta dizer que antes de Abbas Kiarostami (Irã), Tsai Ming-Liang (Malásia) e Wong Kar-Wai (China) tornarem-se cultuados pela mídia especializada, seus filmes passaram por Nantes. A riqueza e originalidade do programa do F3C desenham um numeroso e diversificado painel de produções asiáticas, africanas e latino-americanas carregadas de informações culturais desses continentes, que se não fosse pelo Festival, poderiam estar isolados do mundo.
A grade de programação do F3C é composta por mostras hor-concours (cinco filmes), competitivas de ficção (11 filmes) e de documentários (oito filmes – selecionados em conjunto com a revista Cahiers du Cinema). As mostras paralelas são formadas pelo programa “Novo Olhar” (cinco filmes) – dedicada a jovens realizadores e experiências fílmicas de forma não-usual -, “Continente B”, cujo tema este ano são os arquétipos de vilões no cinema. O tema será revisitado através de sete filmes (dois japoneses, um de Hong Kong, um indiano. um tailandês, e dois mexicanos – ambos de Fernando Mendez).
No módulo “Panorama” deste ano, no qual o F3C apresenta produções de um país em particular com intenção de observar sua identidade, a atenção recai sobre o africano Costa do Marfim, com seis filmes, e a Tunísia, contemplada com uma revisão histórica (com 11 longas-metragens e 11 curtas) sobre sua produção cinematográfica.
Embalado pelo “Ano do Brasil na França”, o F3C dedica duas retrospectivas especialíssimas ao cinema brasileiro a partir do seguinte questão: “Como o cinema representa a realidade em termos de conteúdo e forma?”. Na primeira mostra, “O Cinema Realista Brasileiro nos anos 1950”, poderá ser visto, numa seleção de 11 filmes, o retrato de uma época em que o Brasil fazia uma revolução estética através de realizadores que, inspirados pelo Neo-realismo Italiano, fundaram o Cinema Novo.
Pela curadoria do F3C, foi desta época o mais bonito cinema já feito no Brasil. Entre outros títulos, foram selecionados O Canto do Mar (1958) de Alberto Cavalcanti, O Cangaceiro (1953) de Lima Barreto, Rio 40º (1955) de Nelson Pereira dos Santos, Agulha no Palheiro (1953), de Alex Viany, e O Grande Momento (1958) de Roberto Santos. O outro programa, “Uma História do Documentário Brasileiro” desdobra um rico leque de nossas produções documentais desde 1957 (com Carros de Boi, de Humberto Mauro) até 2002 (com Ônibus 174, de José Padilha). Entre os convidados do Brasil presentes no F3C estão a atriz Ruth de Souza, os cineastas Nelson Pereira e Trigueirinho Neto, o historiador Hernani Helffner e os documentaristas Jorge Bodanski e Vladimir Carvalho.
Na mostra “Retrospectiva”, o festival faz um tributo a produtora Cathay, de Hong Kong, exibindo nove trabalhos entre 1950 e 1960. A seleção relembra a prolífica produção da companhia – que chegou a produzir mais de 200 filmes em quatro anos – época em que a Cathay realizava desde comédias musicais até filmes de “capa-e-espada”. Mais detalhes do festival em seu site
PROGRAMA OFICIAL 2005
Competitiva ficção
CHILE – Play – Alicia Scherson
CHILE – Mi mejor enemigo (My Best Enemy) – Alex Bowen Carranza
IRÃ – Café Transit (Border Café) – Kambozia Partovi
JAPÃO – Sayonara midori-chan – Tomoyuki Furumaya
LÍBANO – A Perfect Day – Joana Hadjithomas et Khalil JoreigeMALÁSIA – Chemman chaalai (The Gravel Road) – Deepak Menon Kumaran
UZBEQUISTÃO – Orzu ortida (Teenager) – Yolkin Tuychiev
TAIWAN – Tian bian yi duo yun (The Wayward Cloud) – Tsai Ming-liang
TAIWAN – Ai li si de jin zi (Reflexions) – Yao Hung-i
TUNÍSIA – Bab’Aziz (The Prince Who Ghazd at his own Soul)- Nacer Khémir
TURQUIA – Melegin Düsüsü (Angel’s Fall) – Semih Kaplanoglu
Competitiva documentários
CHILE – El velo de Berta (Berta’s Veil) – Esteban Larrain
IRÃ – Shahre khamooshan (A Brieve Peace) – Ata Hayati
IRÃ – Bâ doust (The Friend) – Sara Rastegar
IRÃ – Reyisjomhur Mir Qanbar (President Mir Qanbar) – Mohammad Shirvani
JAPÃO – Yamanaka Tokiwa (The Tale of Yamanaka Tokiwa) – Sumiko Haneda
JAPÃO – The Cheese and the Worms – Kato Haruyo
MÉXICO – Toro negro (Black Bullr) – Pedro Gonzalez-Rubio Carlos Armella
SINGAPURA – Singapore gaga – Tan Pin Pin
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